Joracy Camargo (1898-1973), jornalista, cronista, professor e dramaturgo brasileiro.

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Primeiro dramaturgo brasileiro a abordar questões do proletariado

Joracy Camargo (1898-1973), jornalista, cronista, professor e dramaturgo brasileiro. Primeiro dramaturgo brasileiro a abordar questões do proletariado, embora de modo ingênuo. Temática que já se insinuava em O Bobo do Rei (1930) e se torna explícita em Deus lhe pague (1933), peça encenada por Procópio Ferreira que se tornou o maior sucesso do teatro brasileiro na primeira metade do século XX e, primeira peça teatral brasileira encenada no exterior, alcançou prestígio internacional, sendo adaptada para o cinema na Argentina. Seu maior sucesso, Deus lhe pague, foi representada mais de 14.000 vezes no Brasil. Joracy Camargo nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de outubro de 1898.

Apesar de já ter encenado outras peças daquele autor, como “O Bobo do Rei”, em 1931 o ator Procópio Ferreira não acreditava nas possibilidades de “Deus Lhe Pague”, obra – segundo Joracy Camargo revelou em 1968, em depoimento no Museu da Imagem e do Som – escrita “em três dias e três noites, porque minha filha estava com crupe e eu precisava muito de dinheiro”. No dia 11 de março de 1973, à noite, quando a televisão carioca apresentava um programa em homenagem a Procópio Ferreira, no qual o ator interpretava trechos de “Deus Lhe Pague” – um dos maiores êxitos do teatro nacional, com 32 edições brasileiras e nove em Portugal, versões em russo, checo e iídiche – Joracy Camargo morria aos 74 anos, vítima de parada cardíaca decorrente de edema pulmonar, na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro.

Um ano após ler a peça, Procópio decidiu-se enfim a levá-la ao palco, mas a Censura protelou a liberação de “Deus Lhe Pague”até dezembro de 1933, por considerá-la “comunista” (o enredo conta a história de um operário que inventou uma máquina, mas o patrão lhe roubou a patente e o inventor torna-se mendigo, enriquecendo como parasita para vingar-se de não ter sido recompensado como elemento produtivo). Finalmente a obra estreou em São Paulo e dominou os palcos nacionais na maior parte das últimas quatro décadas. Embora possa ser considerada dramalhão, “Deus Lhe Pague” foi, no Brasil, peça revolucionária: antes dela, os autores brasileiros limitavam-se a comédias, sem incursões pelos dramas e tragédias do “teatro sério”. Carioca da Tijuca, formado em Direito sem nunca ter sido advogado, casado aos dezoito anos e com cinco filhos, Joracy Camargo começou como jornalista, tendo fundado “A Pátria”, com João do Rio, e “A Manhã”. Mas a profissão não rendia o bastante “para garantir o pão de cada dia e, sem me indagar se tinha vocação ou talento”, passou a escrever para o teatro: 36 comédias e dramas, seis revistas teatrais, uma opereta, nove peças históricas para o rádio, quatro argumentos de filmes, três peças infantis, duas novelas de rádio e um ensaio sobre o teatro na Rússia. Sua primeira peça, “Fruta do Mato”, entregue a Oduvaldo Viana, desapareceu – mas meio século depois, em 1966, reconhecido pela comunidade intelectual, Joracy Camargo foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Desde o início de 1972 estava afastado da presidência da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, da qual foi fundador em 1919.

(Fonte: Veja, 21 de março, 1973 – Edição n.° 237 – DATAS – Pág; 17)

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