Joan Crawford, uma das mais mitológicas estrelas de seu tempo.

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Joan Crawford (San Antonio, 23 de março de 1908 – Nova York, 10 de maio de 1977), uma das mais mitológicas estrelas de seu tempo. “Apóie os pés com firmeza no chão e procure absorver toda a energia da Terra.” Era por meio deste conselho a atores principiantes que Joan Crawford costumava resumir sua técnica interpretativa. Tão prosaico princípio não impediu que, ao longo de uma carreira cinematográfica iniciada em 1925, Joan Crawford construísse um dos mitos de estrela mais duradouros de Hollywood. A obstinação e a fantástica personalidade de Lucille Fay Le Sueur (seu nome verdadeiro) em pouco tempo tornaram se célebres.

Com olhar arrogante moldava todas as personagens ao seu próprio modo de ser, a mulher habituada a comandar –ou então, numa mudança radical, vivendo a sofredora absoluta em suplícios quase masoquistas. Na verdade, seus recursos dramáticos eram limitados em comparação aos de outras colegas de geração, como Bette Davis ou Barbara Stanwyck. Mas a energia com que se entregava a cada desempenho era tamanha que dificilmente encontrava um galã à altura: por melhores que fossem como intérpretes, os parceiros masculinos da Crawford invariavelmente assumiam um papel secundário. No fundo, no fundo, capaz de dominá-la, só houve mesmo um: Clark Gable, seu par romântico em oito filmes (o último, “Strange Cargo”, em 1940) e com quem a estrela manteve durante anos um relacionamento considerado bem mais do que profissional.

Retrato essencial – Segundo as biografias oficiais veiculadas pela Metro Goldwyn Mayer, estúdio onde iniciou a carreira, Joan Crawford nasceu a 23 de março de 1908 em San Antonio, no Texas – mas pesquisadores indiscretos, se concordavam com o dia e o mês, situam a data dois e até quatro anos antes. Depois de dançar em obscuros espetáculos de music hall, e ainda usando o nome de Lucille Le Sueur, ela teve a primeira oportunidade na Broadway como corista em “Innocent Eyes”, estreladas pela célebre Mistinguette. Logo a beleza e os dotes de dançarina a levaram até a Metro, que em 1925 trocou seu nome, e onde ela permaneceu sob contrato até 1943. No cinema silencioso, atingiu seu êxito mais expressivo em “Our Dancing Daughters” (1928), em que aparecia na cena inicial dançando diante de um espelho de três faces – uma imagem de vibrante sensualidade que a acompanharia até o final dos anos 30. No falado, o primeiro bom papel dramático veio em “Possessed” três anos depois, ao lado de Clark Gable. E em “Grande Hotel”, no ano seguinte, conseguia não se deixar ofuscar pela legendária Greta Garbo.

Curiosamente, o papel central de “Alma em Suplício” (“Mildred Pierce”, 1945), que lhe deu o Oscar, era inicialmente destinado a Bette Davis, que o recusou. Em seguida, pensou-se em Barbara Stanwyck – que não estava disponível. E Joan Crawford, para conseguir o papel, precisou submeter-se a um teste com o diretor Michael Curtiz, que não a desejava na personagem.

“Possuída” (1947) e “Precipícios d”Alma”, de 1952, deram-lhe duas outras indicações para o Oscar, e como Vienna, a dona de um saloon em “Johnny Guitar”, de 1954, Joan Crawford estrelou um dos mais insólitos westerns da história do cinema – a rivalidade entre duas mulheres de vontade férrea, encerrada com um duelo em que ela fuzilava a inimiga.

Depois de três fracassados matrimônios com atores (Douglas Fairbanks Jr., Franchot Tone e Philip Terry), em 1955 a Crawford casou-se com Alfred Steele, presidente da Pepsi Cola – e de bom grado subordinou sua carreira de atriz à de esposa do industrial, percorrendo o mundo a seu lado, até a morte de Steele, em 1959. Eleita a nova presidente da companhia, Crawford continuou as viagens promocionais, visitando três vezes o Brasil, a última em 1970. Nunca teve filhos: adotou quatro.

A época do casamento de Crawford e Steele corresponde ao fim do star system dos grandes estúdios, uma linha de cinema com que a estrela se identificava plenamente. E de fato, no súltimos vinte anos, além de um razoável drama como “Folhas Mortas” (1956), seu único trabalho digno de ser lembrado é o mórbido “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” (1962), em que Joan Crawford e Bette Davis se digladiavam como dois genuínos monstros sagrados da tela. Joan faleceu dia 10 de maio de 1977, aos 68 anos, vítima de um colapso cardíaco, em seu espaçoso apartamento de Nova York.

(Fonte: Veja, 23 de abril de 1975 – Edição n° 346 – DATAS – Pág; 77)
(Fonte: Veja, 18 de maio de 1977 – Edição n° 454 – CINEMA – Pág; 67/68)

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