Jeannine Deckers, a Irmã Sorriso, a ex-monja dominicana que ficou famosa com a música Dominique.

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Jeannine Deckers (17 de outubro de 1933 – Bruxelas, 29 de março de 1985), a Irmã Sorriso, a ex-monja dominicana que ficou famosa na década de 60 com a música Dominique.

Para uma simples freira dominicana do interior da Bélgica que mal sabia dedilhar seu violão e compunha ingênuas canções para consolar os presidiários que visitava em missão religiosa, a proeza foi respeitável.

Em 1963, Jeannine Deckers, a “Irmã Sorriso” como era conhecida, conseguiu desbancar Elvis Presley do primeiro lugar do hit parade americano e triunfar no mundo todo com a canção Dominique. Quem não se lembra do seu estribilho: Dominique nique nique…? Supunha-se que esse sucesso estrondoso tivesse feito da Irmã Sorriso uma milionária. Agora, sabe-se que isso não aconteceu.

Decidida a seguir a carreira musical, ao voltar a vida leiga em 1966, jamais conseguiu repetir o seu único sucesso – e não conseguiu sequer assegurar a continuidade da sua vida artística. Mas esta foi apenas uma das dificuldades que a perseguiram.

Aos 52 anos, atrapalhada com uma enorme dívida com o imposto de renda, levando um padrão de vida no limite da pobreza desde que abandonou o convento em 1966, Jeannine Deckers se suicidou na noite do dia 29 de março de 1985 junto com a enfermeira Annie Pescher, 41 anos, com quem passara os últimos anos da sua vida e com quem fizera um pacto de morte.

Quando o Fisco belga resolveu cobrar a parte do leão da arrecadação de Dominique, iniciou-se uma ácida disputa entre a ex-freira e o seu antigo convento dominicano. O Fisco calculava na época a receita da canção em 3 milhões de francos belgas – ou 217,2 milhões de cruzeiros -, mas Jeannine retrucava que jamais havia tocado nesse dinheiro: honrando o voto de pobreza, doara tudo ao convento.

DOAÇÃO SEM RECIBO – Os dominicanos, por sua vez, alegavam não poder reembolsá-la: não havia recibos de doação do dinheiro, e de todo modo já o teriam gasto em obras assistenciais. A partir de então, enquanto a Justiça examinava um demorado processo administrativo em que a Irmã Sorriso pedia uma anistia, O Fisco apreendia qualquer rendimento que lhe chegasse as mãos – permitindo que recebesse apenas o mínimo indispensável para a sobrevivência. Compadecidas, pessoas influentes chegaram a interceder junto a rainha Fabíola a favor de Jeannine Deckers. A simpatia oficial da rainha nem sequer foi capaz de apressar o processo, e a ex-freira morreu sem obter a graça fiscal.

Esta não foi a sua última amargura. Em 1983, Jeannine tentou fundar uma instituição de amparo a deficientes. Outra falta de sorte. No momento em que, por falta de verbas, ela decidiu fechar a instituição, passando-a a outro grupo assistencial, a verba oficial que solicitara acabou sendo liberada – mas já era tarde demais. Sobrevivendo com aulas de violão e algumas exposições de pintura, Jeannine entrou então em profunda depressão. Já em outubro de 1984 ela começou a falar em suicídio. Consumou o último gesto dividindo um coquetel de álcool e barbitúricos com sua melhor amiga, depois de escrever diversas cartas deixadas no correio próximo de sua casa, um modesto apartamento num bairro popular de Wavre, cidade próxima de Bruxelas.

(Fonte: Veja, 10 de abril de 1985 – Edição n° 866 – DATAS – Pág; 97 – BÉLGICA – Pág; 57)

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