Jean Gabin astro e ator de maior popularidade do cinema francês.

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Jean Gabin (Paris, 17 de maio de 1904 – Neuilly-sur-Seine, Paris, 15 de novembro de 1976), astro e ator de maior popularidade do cinema francês.

Quando se deseja apontar a maior diferença entre os astros cinematográficos de antes da II Guerra Mundial e os atuais, é costume lembrar que os antigos conseguiam arrastar multidões às salas apenas com seus nomes. Já os milionários cartazes de hoje precisam estar num bom filme para atrair os espectadores. Jean Gabin falecido dia 15 de novembro de 1976, no Hospital Norte Americano de Neuilly, em Paris, ilustra perfeitamente esse carisma. De fato, ao longo de mais de quatro décadas de uma carreira iniciada com o advento do filme falado, Gabin permaneceu como o ator de maior popularidade do cinema francês. Somente a partir dos anos 60, seu brilho de astro solitário ficou algo ofuscado com a ascensão de Alain Delon, Jean-Paul Belmondo, Jean-Louis Trintignant. Mesmo assim, por culpa do próprio Gabin, que diminuiu o ritmo de trabalho. De qualquer forma, pesquisas de opinião do começo da década de 70 comprovam que Gabin continuava como o n.° 1 para o público francês.

Nascido em Paris em 17 de maio de 1904, sétimo filho de um casal de atores, Gabin recebeu o nome de Jean-Alexis Moncorgé. O próprio pai o levou para o music hall, onde sua possante voz de barítono e uma capacidade de encantar o público feminino lhe asseguravam trabalho permanente. E o jovem Moncorgé resolveu adotar o nome de Jean Gabin – pseudônimo empregado pelo pai.

Herói da Resistência – De sedutor nas revistas musicais, em 1930 Jean Gabin passou aos papéis de galã rude e briguento, em uma série de versões em língua francesa de produções alemãs, então uma prática corrente nos estúdios germânicos. Os papéis de Gabin certamente não eram de bons moços. No entanto, jamais eram delinquentes vulgares. Infringiam a lei, mas com atraente engenhosidade. o mito começou a se delinear com “Marie Chapdelaine”, rodado em 1934 no Canadá, sob a direção de Julien Duvivier, um melodrama em que Gabin vivia um fugitivo da polícia, morto ao final. O trágico desfecho obteve tanto sucesso que passou a se tornar característico nos seus filmes, a ponto de circularem boatos sobre a existência de uma cláusula nos contratos de Gabin, em que ele exigiria a morte de sua personagem ao fim da história. Entretanto, foi o encontro com Jean Renoir e Marcel Carné que propiciou a Jean Gabin seus melhores filmes. Para Renoir, em 1937, ele viveu um antológico oficial em “A Grande Ilusão”, um penetrante estudo sobre a I Guerra Mundial; e, no ano seguinte, “A Besta Humana”, triângulo de amor e morte inspirado no romance de Émile Zola. E, dirigido por Carné, viveu os papéis centrais de “Cais das Sombras” (1938) e “Trágico Amanhecer” (1939), ambos escritos por Jacques Prévert. Em 1968, porém , ao fazer uma revisão da carreira, Gabin apontaria como seu filme favorito uma obra nitidamente comercial, “O Macaco no Inverno”, que rodou em 1961 sob a direção de Henri Verneuil e ao lado do emergente Jean-Paul Belmondo.

Nos Estados Unidos, Gabin fez dois filmes que considerava os piores de sua carreira de mais de 100: “Brumas” e “O Impostor”. Neste, interpretava um ex-criminoso que se transforma em herói na Resistência francesa, na África. De volta à França, alistou-se realmente na Resistência, conseguiu várias condecorações e entrou na Paris libertada como comandante de tanques da Segunda Divisão Francesa.

Quieta autoridade – Na verdade, o tipo de personagem que celebrizou Gabin estava muito identificado com a época da Guerra. E suas caracterizações nos anos 50, mesmo levando em conta duas premiações de melhor ator no Festival de Veneza (em 1951 e 1954), não se comparam às anteriores. A partir do final dos anos 50, embora se tornasse amigo de novos astros, como Belmondo e Delon (ao lado do qual fez “Gangsters de Casaca” e “Os Sicilianos”), Gabin permaneceu refratário ao movimento de renovação da nouvelle vague, em que pontificavam François Truffaut, Jean-Luc Godard, Louis Malle, Claude Chabrol, Roger Vadim.

Nenhum desses cineastas chegou a contar com Gabin em seus elencos. Pai de quatro filhos, dono de uma imensa propriedade de 150 hectares na Normandia, onde gostava de passar a maior parte do tempo com sua terceira mulher, Christine Fournier, odiando metodicamente os políticos e o Imposto de Renda, Gabin era, na opinião dos colegas, senhor de um impecável profissionalismo. “Digam o que disserem os jovens críticos, Gabin sempre representou para mim o ator absoluto”, sentenciou Jean-Paul Belmondo. “Ele sabe tudo e sempre quer aprender mais: é nosso Himphrey Bogart, nosso Edward G. Robinson, nosso Charles Laughton.” E mais, até: em sua rica personalidade, Gabin enfeixava características como a quieta autoridade de Gary Cooper, o machismo de John Wayne, a robusta sensualidade de Clark Gable e o espírito aventureiro de Errol Flynn. Quantos outros atores poderiam competir – sozinhos – com tão formidáveis oponentes?

(Fonte: Veja, 24 de novembro de 1976 – Edição n° 429 – CINEMA – Pág; 125/126)

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