Jean Duvignaud, sociólogo e romancista francês, autor de livros sobre a sociologia do teatro e a festa

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SOCIÓLOGO E ROMANCISTA FRANCÊS JEAN DUVIGNAUD

Jean Duvignaud

Jean Duvignaud

Jean Duvignaud (La Rochelle, 22 de fevereiro de 1921 – La Rochelle, 17 de fevereiro de 2007), sociólogo e romancista francês, autor de livros sobre a sociologia do teatro e a festa

Jean Duvignaud, nascido em 22 de fevereiro de 1921 em La Rochelle, foi professor na Universidade de Túnis, depois na cidade francesa de Tours (1965-1980) e na Universidade Paris-VII até se aposentar em 1991.

Ele fundou várias revistas, entre elas a “Argumentos” com o filósofo Edgar Morin, nos anos 50, e “Causa comum” com o escritor Georges Perec (1936-1982), nos anos 70.

Jean Duvignaud é autor de “Sociologia do Teatro” (1965), “Chebika” (1968), relato de uma pesquisa etnográfica no Magreb, e “Festas e Civilizações” (1973).

Escritor, crítico de teatro, sociólogo, dramaturgo, ensaísta, roteirista, encenador, antropólogo. Maître de conférence na Universidade de Túnis, depois nas universidades de Tours (1965-1980) e de Paris-VIII (1980-1991) da qual foi Professor Emérito. Fundador de revistas, tais como Arguments com Edgar Morin nos anos 50; Cause commune com o ex-discípulo Georges Perec nos anos 70 e Internationale de l’Imaginaire, 2000 com Chérif Khaznadar.

Fundador e Presidente de honra da Maison des Cultures du Monde. Presidiu na UNESCO o primeiro colóquio internacional de etnocenologia. Suas obras mais significativas são os romances : L’Or de la République, L’Empire du milieu. Em sociologia :Les Ombres collectives, Sociologie du théâtre, L’Anomie, Fêtes et civilisations, La Solidarité, La Genèse des passions dans la vie sociale.

Duvignaud foi bastião do Protestantismo, das aventuras míticas dos três Mosqueteiros, das aventuras bélicas do Cardeal Richelieu, da saída marítima importante de navios e de capital para a Rota dos Escravos… Perdeu cedo a sua mãe e refugiou-se nos livros. Após estudos nas chamadas grandes écoles e uma passagem pela Resistência durante a Segunda Guerra Mundial sua vida profissional debutou como professor de Filosofia e depois de Sociologia.

Fiel aos destinos dos homens da sua geração, cuja encarnação maior foi Jean-Paul Sartre, Jean Duvignaud foi também um daqueles intelectuais franceses polimorfos do pós-guerra. Se a história do pensamento ocidental os distribui por áreas de conhecimento estanques e assim podemos classificá-los, compreender-lhes os propósitos, filiá-los mais ou menos facilmente a escolas, grupos e linhas de pesquisa, um olhar distraído sobre a vasta produção do intelectual Jean Duvignaud, homem de contrastes, põe em evidência a sua participação com igual intensidade a mundos aparentemente antagônicos como o da literatura e o das ciências sociais; o da viagem e da abertura ao outro como o do ensimesmamento autobiográfico. A sua dedicação natural nos diversos projetos que levou a cabo, bem como a sua propensão a participar de vários “mundos” simultaneamente o caracterizavam. Inclassificável também na sua atuação nas ciências sociais.

A característica plural da obra por ele deixada se reflete de maneira insólita por situar-se a igual distância entre a investigação científica e o da ficção. Esta última servindo muitas vezes para ilustrar, exemplificar ou ser até a própria expressão daquela. Duvignaud e as ciências humanas Professor na Faculdade de Letras e Ciências de Tunis, ele conduziu os seus estudantes, regularmente entre 1960 e 1966, para realizarem juntos, no Sul do país, uma pesquisa cujo resultado é um marco na história da etnografia.

Na cidade de Chebika, terra incógnita à beira do deserto. A esses jovens, oriundos de uma elite intelectual e econômica, movidos por uma incondicional admiração pelo ocidente europeu, foi revelada uma realidade social até então ignorada. Rapidamente Duvignaud e seus alunos compreenderam a impossibilidade de aplicar ali o método quantitativo passível, segundo eles, de falsear os resultados. Obtiveram bem mais informações através da observação da vida cotidiana e de discussões coletivas informais com a população sem utilizar questionários previamente estabelecidos.

Em Chebika ou les mutations d’un village maghrébin (J, DUVIGANAUD, Paris, Gallimard, 1968) que é o resultado dessa pesquisa de campo de seis anos Duvignaud aborda expressamente o quanto a pesquisa “mexeu” com o pesquisado e, com a sua linguagem. Respondendo exaustivamente às perguntas que lhe eram feitas, nota-se, no decorrer do tempo, o quanto estas dão vida a uma reflexão dos membros da comunidade de quase 300.000 habitantes sobre suas próprias práticas e tradições vivenciadas ou esquecidas, suscitando uma tomada de consciência dos papeis sociais, do estado em que se encontrava a população em relação ao progresso, à administração central do país e ao mundo.

O resultado é uma obra com verve quase romanesca, que dá a palavra ao sujeito da pesquisa, “entrando” nos seus pensamentos, descrevendo o seu comportamento e nos revelando cada ponto de vista, evitando assim uma simples abordagem estatística. Atento à diversidade das tradições sociológicas e dos limites de uma racionalização Duvignaud preconiza e estabelece uma metodologia concreta e uma ética da pesquisa etnográfica inspiradas na complexidade das relações entre o indivíduo, na sua experiência individual e coletiva, baseadas na indeterminação e nas rupturas sociais. Ele parte do verdadeiro para estabelecer “de dentro” uma narrativa colandose assim a realidade pura.

Foi também o momento de constatar a reversibilidade dos efeitos da pesquisa, e o quanto esta também pode “mexer” com o pesquisador. Enfim, para ele, “o vilarejo [lhe]ensinou que a vida social, por mais desapontada e impotente que seja, se determina sempre para além dela própria”.

Duvignaud e o teatro

O elemento essencial na obra de Duvignaud foi o teatro enquanto linguagem artística que torna mais evidentes os sistemas das relações sociais6 . Duas obras lhe foram essencialmente consagradas: Sociologie du théâtre, Essai sur les ombres collectives, Paris, PUF, 1965 e L’acteur, Esquisse d’une sociologie du das relações entre autor, produção dramática e sociedade; do modo como esta última “induz” a criação da obra que lhe é endereçada.

O segundo livro põe em evidência a sociedade enquanto público e as relações entre o ator, a criação e a personagem. Para ele o ato de representar uma personagem é uma apropriação da substância social. Já no romance Le singe patriote. Talma, un portrait imaginaire, Arles, Actes Sud, 1993, Jean Duvignaud, híbrido e raro com sua imensa cultura, aborda o teatro como metáfora da sociedade.

A obra de Jean Duvignaud se inscreve na incessante alternância entre os gêneros e na compreensão do outro na anomia, termo que lhe é caro, dos contrastes, dos conflitos das existências múltiplas, sucessivas, e movida pela profunda Seus estudos o levam igualmente a investigar a manifestações espetaculares através da festa (“e o seu correlativo individual, o riso [como sendo]o fluxo do excesso, da vitalidade criativa que submerge, a certos momentos, os grupos e as pessoas”), o transe e a possessão na Umbanda do Norte do Brasil, que ele visitou, como portas da aestruturalidade, meios “de afrontar uma livre espontaneidade existencial nunca permitida pela vida social” (p. 35).

Em Le don du rien o sociólogo dizia-se estar na contra-corrente de um movimento de idéias que há vinte anos tem tentado reduzir na França a história do desejo ou do imaginário ao formalismo de uma lógica inconsciente ou à combinatória de signos.

Duvignaud e a etnocenologia

O Colóquio de Fundação do Centro Internacional de Etnocenologia em Paris, em 1995 sob os auspícios da UNESCO, da Maison des Cultures du Monde, e da Universidade de Paris 8, contou com a presença e participação de Jean Duvignaud que o presidiu. Apesar de a sua própria obra estabelecer correlações precisas entre a sociedade e a representação teatral propriamente dita, ele assinala que o projeto de instauração dos estudos etnocenológicos “não se confunde com a mise en scène da vida cotidiana nem com as formas do imaginário de teatro”.

Essa disciplina transcultural e emergente não cede à tentação de se ater a essa prática artística – o teatro – e vai além dela, da sua “aparição (…) em nosso domínio”, e pensa o espetáculo como sistema complexo – em suas dimensões biológicas e cognitivas. O seu objeto são o estudo, a documentação e a análise das formas de expressão espetaculares dos povos destinadas a um público, seja ele passivo ou ativo, como diz Cherif Hhaznadar13 É impossível não discernir nos seus textos consagrados às manifestações espetaculares, uma abordagem precursora da etnocenologia e do seu objeto: as práticas e comportamentos humanos espetaculares organizados (PCHEO). Além do que, as suas teses sobre o teatro, a representação e o jogo restam uma plena contribuição ao porvir de uma Cenologia geral.

 

O poder de análise visual de Duvignaud, como vimos no seu trabalho junto aos habitantes de Chebika como observador participante, é um requisito indispensável para os estudos etnocenológicos, conquanto que esse olhar não se atenha apenas ao “pico emergente percebido”, ao aspecto tão somente espetacular do fato estudado.

Os caminhos divergem quando, na sua obra, ele insiste na noção de resistência do gesto espetacular descrito como resposta às “exigências” da fome, da sexualidade, da morte, do trabalho, do sagrado, enquanto que para a etnocenologia a atividade espetacular humana é um traço fundamental da espécie.

Segundo o seu codificador Jean-Marie Pradier, a etnocenologia é uma etnociência cuja “hipótese é que a atividade espetacular humana, é um traço fundamental da espécie, sustentado pela unidade do corpo/pensamento”.

Entretanto, considerando a sua definição de manifestações espetaculares no prefácio do Atlas de l’Imaginaire, Duvignaud parece apontar para um motor oculto dessas de efervescências coletiva:

A vida humana não é a das colméias ou dos formigueiros! Há mais coisas nessas cerimonias que parecem buscar resolver um enigma. Nos confins do vivido e do possivel. (…) Como é que esses espetaculos parecem visar para além da curiosidade, do respeito das tradições ou do prazer estético.

Jean Duvignaud optou pela análise do teatro para poder ir mais longe nas suas especulações sociais. Franco-atirador diz dele mesmo que “ia contra a corrente (…) de um movimento de idéias que na França vem tentando há vinte anos reduzir a história do desejo ou do imaginário ao formalismo de uma lógica inconsciente ou à combinatória de signos”. E finalmente quando afirma que “a invenção dramática é imanente ao corpo social”, podemos, desde aí, inscrever o seu nome como um dos precursores dos estudos sobre a espetacularidade e, conseqüentemente, da etnocenologia.

Jean Duvignaud morreu aos 85 anos de idade em sua residência em La Rochelle (sudoeste), dia 17 de fevereiro de 2007.

(Fonte: http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revteatro/article/viewFile/4347/3256 – Por Sergio Guedes)

PRADIER, Jean-Marie. « Ethnoscènologie : la chair et l’esprit ». Théâtre 1, Paris: Universidade de Paris 8, 1998, p. 17-37. Repertório Teatro & Dança 1, Salvador UFBA/PPGAC/GIPE-CIT, 1998, p. 9-22. 15 Pradier, op. cit)

(Fonte: http://atarde.uol.com.br/noticias/1095135 – CULTURA – LA ROCHELLE, França (AFP) – 20/02/2007)

(Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,AA1463084-7084,00- POP & ARTE – LA ROCHELLE, França (AFP) – 20/02/2007)

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