Jacques Le Goff, historiador francês, uma das maiores autoridades mundiais em Idade Média.

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Jacques Le Goff foi decisivo para o estudo da Idade Média

Ao lado de Pierre Nora, autor criou a chamada nova História

Jacques Le Goff (Toulon, 1° de janeiro de 1924 – Paris, 1° de abril de 2014), historiador francês, autor dos livros “O Nascimento do Purgatório” e “O Imaginário Medieval”.

O historiador francês Jacques Le Goff, foi uma das maiores autoridades mundiais em Idade Média. Autor de mais de 40 livros, entre os quais Uma Longa Idade Média (2004), foi escolhido 11 vezes doutor honoris causa na Europa e no Oriente Médio por ter se tornado uma referência em seu domínio de estudos.

Daqui para a frente, ele próprio fará parte da História. Nos últimos anos de vida, embora sua saúde se degenerasse, continuava ativo e lúcido, trabalhando em seu escritório, sempre cercado de milhares de livros.

Caçando lendas, Le Goff fundamentou sua grande linha de pensamento: a de que a Idade Média não fora uma era de obscurantismo, como se imagina. Essa revolução quebrou a lógica moderna, que ao longo dos séculos transformara o termo “medieval” em um adjetivo pejorativo.

Entre fontes bibliográficas e documentos que compunham seu espaço de trabalho, Le Goff parecia seguir à risca uma constatação de Marc Bloch que se tornara célebre: “O bom historiador é como o ogro da lenda. Onde ele cheira a carne humana, ele sabe que lá está o seu jogo”.

Caçando lendas, Le Goff, fundamentou sua grande linha de pensamento: a de que a Idade Média não fora uma era de obscurantismo, como se imagina. Essa revolução quebrou a lógica moderna, que ao longo dos séculos transformara o termo “medieval” em um adjetivo pejorativo.

Romper com essa linha de pensamento foi possível a partir dos anos 1920, quando a célebre Escola dos Annales, o movimento liderado por Lucien Febvre (1878-1956) e Marc Bloch (1886-1944), passou a adotar métodos pluridisciplinares na pesquisa historiográfica. Le Goff, ao lado de outro francês, Pierre Nora, foi responsável pela terceira onda dessa escola, lançando nos anos de 1970 a chamada Nova História.

Romper com essa linha de pensamento foi possível a partir dos anos 1920, quando a célebre Escola dos Annales, o movimento liderado por Lucien Febvre e Marc Bloch, passou a adotar métodos pluridisciplinares na pesquisa historiográfica. Le Goff, ao lado de outro francês, Pierre Nora, foi responsável pela “terceira onda” dessa escola, lançando nos anos 1970 a chamada Nova História. Essa corrente amplificou os horizontes da disciplina, focando sua atenção no imaginário, na “história das mentalidades” – ou seja, na forma de pensar, de agir, de viver, individual e coletiva, de cada tempo e sociedade.

A partir de então, ele renovou seu papel, buscando inspiração na antropologia para fundamentar interpretações e análises mais vastas, o que lhe permitiu romper clichês. Le Goff viu na Idade Média muito mais do que doenças, miséria, ódio, guerras e opressão. Para ele, também foi sinônimo de alegria, de idealismo, de arte e de amor.

Como o holandês Johan Huizinga o fizera no início do século 20, Le Goff viu na Idade Média muito mais do que doenças, miséria, ódio, guerras e opressão – como sugeriu o poeta italiano Francesco Petrarca, ainda no século 14, ou o fizeram humanistas do século 16 e filósofos do 18.

Essa visão da história foi deixada pelo francês em livros como A Civilização do Ocidente Medieval (1964), O Nascimento do Purgatório (1981) e O Imaginário Medieval (1985). Nestes e em outros livros, sua mais importante contribuição foi a consistência e a profundidade com que desmistificou a Idade Média, desenvolvendo uma análise relativista sobre o período, que incluiu revoluções sociais e intelectuais pouco conhecidas ou menosprezadas nos nossos dias.

“Eu fui voluntariamente provocador ao falar de uma longa Idade Média que se prolongou até o século 18.

Continuo a pensar que há uma certa verdade na ideia de que a Idade Média vai até o fim do século 18, se observamos aspectos essenciais, como a fome, as pestes, a indústria – a economia capitalista do século 18 é uma grande virada”, disse Le Goff em entrevista em outubro de 2010.

“Mas, mesmo que consideremos que o fim da Idade Média acontece no fim do século 15, ela não era decadente, não era triste, mas sim soberba, até exagerada.”

Jacques Le Goff faleceu em Paris, dia 1° de abril de 2014, aos 90 anos.

(Fonte: Zero Hora – ANO 50 – N° 17.706 – TRIBUTO – 3 de abril de 2014 – Pág: 35)
(Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/arte-e-lazer – Notícias > Cultura/ Por Andrei Netto – Paris – O Estado de S.Paulo – 2 de abril de 2014)

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