Jacques Cousteau, ex-oficial da marinha francesa, ele foi um dos inventores do aqualung

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Jacques Cousteau (Saint-André-de-Cubzac, 11 de junho de 1910 – Paris, 25 de junho de 1997), oceanógrafo, ex-oficial da marinha francesa, ele foi um dos inventores do aqualung, o equipamento de mergulho autônomo que substituiu o pesadíssimo escafandro, e também de aparelhos de ultra¬som para levantamentos geológicos do relevo submarino e de equipamentos fotocinematográficos para trabalhos em grandes profundidades.
(Fonte: www.guiadoscuriosos.com.br)

O homem do fundo do mar, aquele que ensinou gerações sobre o mundo submarino

Os cientistas marinhos costumavam torcer o nariz para o explorador francês Jacques-Yves Cousteau. Diziam que ele era superficial, que não tinha objetivos nobres, como estudar a morfologia escapular dos golfinhos, mas só preocupações banais, como filmar uma orca comendo um tubarão-martelo na Ilha de Vancouver, no Canadá. Cousteau nunca perdeu tempo com críticas acadêmicas como essas. Tinha mais o que fazer. Ele precisava desatracar o Calypso, um caça-minas reformado e equipado com um laboratório, e rumar para mais uma de suas espetaculares viagens ao misterioso mundo do fundo do mar. Gerações e mais gerações acostumaram-se com O Mundo Submarino de Jacques Cousteau, documentário feito para a TV cuja primeira exibição aconteceu em 1975. Quem não assistia fascinado àquele velhinho, de olhos azuis, nadando entre cardumes de peixe ou cercado de tubarões dentro de uma gaiola de ferro submersa? Ou ainda a tripulação do Calypso içando as velas diante da chegada de uma terrível tempestade? A bordo do seu, Cousteau vivia envolvido com desafios, fosse uma expedição entre pinguins na Antártida ou uma viagem pelos rios da Amazônia.

Enquanto viveu, Cousteau chamava atenção onde quer que estivesse. “Era talvez o francês, mais famoso no mundo”, arriscou o presidente francês Jacques Chirac. Tão importante para a oceanografia quanto o americano Carl Sagan para a astronomia, Jacques Cousteau deixou farto material de registro sobre seu trabalho. São oitenta livros publicados em doze línguas e setenta filmes, a maioria sobre o fundo do mar, que lhe renderam três Oscar e três prêmios no Festival de Cinema de Cannes. O primeiro deles foi O Mundo do Silêncio, rodado em parceria com o cineasta Louis Malle. Lia-se na página da Cousteau Society, na internet: “Jacques-Yves Cousteau se juntou ao mundo do silêncio”.

Quebrando vidraças – Como sua principal preocupação era filmar o fundo do mar, Cousteau acabava irritando a comunidade científica com seus métodos. Acusavam-no de destruir sítios arqueológicos e de ser um explorador mercenário. Para transmitir um ar dramático a um documentário que realizou sobre hipopótamos, certa vez, teria provocado os animais até que reagissem e se revirassem nas águas do rio onde estavam. Com o movimento, a imagem ficou, digamos, mais selvagem. No filme O Mundo sem Sol, ganhador do Oscar de melhor documentário de 1964, Cousteau usou imagens do fundo do mar de Marselha num trecho em que falava do Mar Vermelho. Na filmagem do documentário Pepito e Cristobal, uma foca acabou morrendo, provocando protestos dos ecoxiitas. Na expedição à Amazônia, ficou famosa a história dos peixes que eram filmados numa espécie de piscina de lona instalada no convès do Calypso, já que as águas dos rios da região eram barrentas demais.

A viagem à Amzônia foi uma de suas principais expedições. Acompanhado de 28 homens, percorreu 6 000 quilômetros de rios da região, tirou 75 000 fotografias, filmou as populações ribeirinhas, os peixes-bois e nadou entre ariranhas. A missão durou um ano e meio. Cousteau comandou expedições pioneiras de mergulho, como uma próxima a Nice, feita na década de 60. Para provar que o ser humano seria capaz de realizar trabalhos pesados em grandes profundidades, ele e mais seis homens passaram três semanas vivendo numa base a 100 metros da superfície do mar, respirando graças a uma mistura de oxigênio com gás hélio. Uma proeza para a época.

Cousteau nasceu em 11 de junho de 1910 na cidade de Saint-André-de-Cubzac, na região vinícola de Bordeaux, sudoeste da França. Apaixonou-se pelo mar quando o viu pela primeira vez, aos 4 anos de idade. “O toque da água me fascinava todo o tempo”, costumava dizer. A outra paixão, o cinema, surgiu quando ganhou sua primeira câmara, aos 13 anos. O pequeno Cousteau nunca foi chegado aos estudos. Preferia a arruaça. Chegou a ser expulso do colégio depois de quebrar dezessete vidraças. Com 20 anos, entrou para a escola naval, e sonhava trabalhar com aviação marítima “para poder ver o mundo”. Aos 40 anos, ele deixou a Marinha, comprou o Calypso e passou as quatro décadas seguintes desbravando o planeta.

Em uma viagem entre o Marrocos e os Estados Unidos, Cousteau atravessava o Atlântico para testar um sistema de propulsão a vento para o Calypso, em 1983. Pegou tanta chuva e vento durante o trajeto que o barco ficou encharcado e ele foi obrigado a dormir a maior parte dos 38 dias que durou a aventura numa cama molhada. Acabou sendo obrigado a interromper a experiência, pois a vela não resistiu após a terceira tempestade que pegou. Quando não estava singrando os mares, Cousteau passava a maior parte do tempo na França e gostava de guiar bons carros e comer em bons restaurantes. Certa vez, falando ao jornal francês Le Monde, Cousteau disse: “Na vida, há dois fluidos vitais, a água e o dinheiro. Você deve usar os dois”.

Além de grande divulgador dos segredos dos oceanos, Costeau era um grande inventor. Foi ele quem ajudou a criar o aqualung, aquele cilindro de ar com pressão controlada que os mergulhadores utilizam nas costas. Até o desenvolvimento do aqualung, também chamado de scuba, em 1943, os mergulhadores só pulavam na água com um pesado escafandro, que recebia oxigênio bombeado a partir da superfície, vindo do navio. O aqualung viabilizou o mergulho autônomo e amador. Além dos cilindros, Cousteau participou da invenção do micro-submarino, para uma pessoa só, e da câmara de vídeo aquática.

Ativista ecológico – Sua vida foi marcada por tragédias familiares. Em 1979, um acidente com um hidroavião matou o filho mais novo, Philippe, de 37 anos, seu maior colaborador, tido como seu sucessor. Em 1990, morreu sua primeira mulher, Simone, que o acompanhou em várias missões, de quem já estava separado. Com seu outro filho Jean-Michel, Cousteau mantinha uma relação difícil. Num episódio que acabou por separá-los por um bom tempo, Jean-Michel montou um hotel nas ilhas Fiji com o nome Cousteau, deixando o pai revoltado diante da exploração comercial de seu sobrenome. O conflito com Jean-Michel foi parar na Justiça e encerrou-se em 1996, quando ficou combinado que o hotel passaria a chamar-se Jean-Michel Cousteau.

As experiências pelo mundo fizeram com que Cousteau criasse um discurso ecológico. Ele gostava de dar entrevistas condenando a poluição dos oceanos, a pesca predatória, a super população urbana e a destruição da camada de ozônio. Com o tempo, tornou-se mesmo um ativista ecológico e abandonou o posto de principal executivo do Conselho dos Direitos das Gerações Futuras, do governo francês, em protesto contra os testes nucleares no Atol de Mururoa, no Pacífico.

Para que sua obra se perpetuasse, o velho lobo-do-mar criou a Cousteau Society, entidade sem fins lucrativos, fundada em Nova York em 1974, com intenso trabalho ambiental e científico. A equipe que o acompanhava nas viagens continua em expedições, seja desbravando o Rio Amarelo chinês, seguindo seu leito de barco, camelo e balão, seja mergulhando no Lago Baikal, na divisa da Mongólia com a Sibéria. No dia 25 de junho de 1997, Cousteau sofreu um ataque cardíaco e morreu. Estava em casa, tinha 87 anos e vários planos. Um deles era finalizar seu livro de memórias, que vinha escrevendo nos últimos vinte anos. O outro, e principal, era construir o Calypso II, já que o Calypso original naufragou em 1996. E sua segunda mulher, Francine, promete lançar o livro de memórias. Ela garante que vai construir o Calypso II, como o marido projetava.
(Fonte: Veja, 2 de julho, 1997 – ANO 30 – N° 26 – Edição n° 1502 – Memória/ Por Daniel Nunes Gonçalves – Pág; 110)

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