Ivan Serpa, foi um artista de tendências multiplas que deixou grande contribuição à arte brasileira

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O rigor de um artista que passou ao largo da estagnação

Ivan Ferreira Serpa (Rio de Janeiro, 1923 – Rio de Janeiro, 19 de abril de 1973), artista plástico carioca. Um artista de tendências multiplas que se configurou incoerente. Serpa atravessou várias escolas, mas deixou marcada sua passagem em todas elas, como um grande artista. “Quando troco uma técnica por outra, é porque cheguei a um perfeito domínio e devo substituí-la sob pena de estagnar-me”, disse ele em 1967. Essa espécie de furor criativo, imune a barreiras de estilo ou técnica, é o legado de Serpa, sua grande contribuição à arte brasileira.

 

Ivan Serpa morto em abril de 1973, aos 50 anos, no Rio de Janeiro, ouviu ao longo de toda a vida uma mesma crítica a sua obra. Ele era acusado de não se fixar numa linguagem, de beber em todas as fontes, mesmo quando antagônicas. Serpa, de fato, não poderia ser definido como um artista coerente, daqueles que perseguem um objetivo durante a carreira e, a partir de um motivo ou tema, tenta apurar cada vez mais seu trabalho.

Ao contrário, foi uma espécie de antena, captando e filtrando influências de todas as espécies. Na década de 50, foi o fundador e figura de proa do Grupo Frente, ligado ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que lançou as bases da arte concreta no país – ao lado dos paulistas do Grupo Ruptura.

 

Tempos depois, lá estava Serpa, de volta ao figurativismo, pintando imensas cabeças em desespero durante sua fase negra. Mais: Serpa flertou com o abstracionismo informal logo depois de abandonar o concretismo e ainda mergulhou na op art. Serpa sempre foi muito sensível a manifestações e tendências novas, como se tivesse uma necessidade imperiosa de experimentar tudo.

 

OS PERÍODOS DE SERPA – Quando o artista é aprovado comercialmente, teme distanciar-se da fórmula que deu certo, mas com Serpa ocorria justamente o contrário. Quando os alunos do curso do MAM, iniciados por Serpa no concretismo, como Lygia Pape, Lygia Clark e Hélio Oiticica, saltavam para a experiência neoconcreta, na virada da década de 50, ele enveredava pelo abstracionismo informal – uma tendência que marcou a Bienal de São Paulo de 1959 – até chegar numa de suas melhores fases, a negra, em que gigantescas cabeças refletiam os medos da época – a ameaça atômica, a fome na África, enfim, o desespero do ser humano confrontado com suas próprias criações. A fase negra acabou substituída por um caminho que uniu telas de extremado lirismo a outras de forte apelo erótico.

 

Lentamente, o artista retomou o caminho do geometrismo, algo que havia criticado em seus alunos por considerar os voos concretos tendências típicas de países industrializados. “Devíamos seguir a arte botocuda”, chegou a dizer na época. O reencontro com o rigor geométrico pode ser pressentido no quadro Figuras e Letra – uma simbiose entre seres expressionistas e composição construtiva – e se mostra inteiro na série amazônica e Quadrados, feitos na virada da década de 60.

Os vários caminhos experimentados por Serpa, ele foi professor de toda uma geração, mostra os caminhos trilhados pela arte brasileira em um de seus períodos de maior assombro e invenção.

 

(Fonte: Veja, 24 de agosto de 1988 -– ANO 20 – Nº 34 – Edição 1042 -– ARTE – Pág: 141)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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