Italo Svevo, pseudônimo do romancista italiano Aron Hector Schmitz, autor de “A Consciência de Zeno”

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O italiano Svevo: o vazio e o comodismo são dois de seus temas

Italo Svevo: obra-prima do século XX

Italo Svevo, autor de A Consciência de Zeno.

Italo Svevo (Trieste, 19 de dezembro de 1861 –Motta di Levenza, 13 de setembro de 1928), pseudônimo do romancista italiano Aron Hector Schmitz, nome depois italianizado para Ettore Schmitz. Os contos de Italo Svevo servem de sobremesa ao seu grande romance, A Consciência de Zeno”. A Consciência de Zeno” é a autobiografia fictícia de um burguês cuja vida está imersa em tédio e vazio existencial, e que começa a escrever por incentivo de seu psicanalista, é o maior romance italiano do século XX. A coletânea de contos Argo e Seu Dono formam apenas um valioso pano de fundo para entender o antes e o depois de sua obra-prima.

“A Consciência de Zeno” é de 1923. Foi publicado quando Svevo tinha 62 anos, depois de passar mais de duas décadas sem publicar, desgostoso com o fracasso de suas primeiras obras. Para tanto, recebeu o estímulo de seu professor de inglês em Trieste, ninguém menos que o escritor irlandês James Joyce.

Na juventude, ele já havia escrito contos, peças de teatro e dois romances, Uma Vida e Senilidade, acolhidos com indiferença absoluta pela crítica e pelos leitores. Diante do fracasso de suas primeiras tentativas literárias, Svevo passou 25 anos sem publicar nada, escrevendo escondido, tocando violino em casa, dedicando-se à carreira profissional num banco e na fábrica de tintas do sogro. A Consciência de Zeno” é o resultado desse acomodamento à vida burguesa. Ninguém soube descrever o tédio e o vazio existencial do dia-a-dia com tanta graça quanto ele.

O narrador de A Consciência de Zeno” encontra várias maneiras para enganar o tédio e o vazio existencial, de uma amante e uma doença imaginária, da reparação por um suposto tapa que o pai lhe deu no leito da morte à luta contra a dependência dos cigarros. O protagonista do conto Argo e seu dono usa outro estratagema: tenta aprender a língua de seu cachorro.

O de A novela do bom velho e da bela jovem se esforça para educar uma jovem do povo. O de O meu ócio se aplica na arte de tomar remédios, a fim de prevenir doenças e adiar a morte. Esses passatempos espirituais só funcionam do ponto de vista literário porque são inevitavelmente destinados ao fracasso. De fato, se Zeno conseguisse parar de fumar, ou se o dono de Argo conseguisse falar com seu cachorro, suas vidas perderiam o sentido.

Svevo também tinha um fracasso com o qual ocupar a mente: a incapacidade de se realizar como escritor, característica comum a quase todos os seus personagens. Esses senhores burgueses com patéticas veleidades literárias representavam uma categoria que Svevo descreveu melhor do que ninguém: a do conformista insatisfeito, que sonha com uma vida intelectual mais rica, mas se frustra sempre que tenta atingi-la. Com a publicação de A Consciência de Zeno”, tudo mudou. Contando com a ajuda do poeta Eugenio Montale e do escritor irlandês James Joyce, que lhe ensinara inglês em Trieste em 1905, Svevo virou um caso literário.

Seu extraordinário talento cômico foi reconhecido por todos e seus primeiros romances ganharam nova edições. Teria sido curioso ver como essa nova condição de escritor de sucesso se refletiria sobre sua literatura, mas ele morreu cinco anos mais tarde, em 1928, deixando apenas alguns contos e fragmentos de romances, como o esplêndido O meu ócio, o texto mais memorável de Argo e Seu Dono. Svevo é o melhor antídoto contra uma época de conformismo satisfeito.

(Fonte: Veja, 3 de outubro de 2001 – ANO 34 – N° 39 – Edição 1720 – LIVROS/ Por Diogo Mainardi – Pág; 137)

(Fonte: Veja, 27 de fevereiro de 2002 – ANO 35 – Nº 8 – Edição 1740 – Veja Recomenda – Pág: 120/121)

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