Israel Pinheiro, secretário da Agricultura no governo de Benedito Valadares, ex-governador de MG

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Israel Pinheiro (Caeté, 4 de janeiro de 1896 – Caeté, 6 de julho de 1973), secretário da Agricultura no governo de Benedito Valadares (1892-1973), ex-governador de Minas Gerais (1966 a 1970).

Empreiteiro no poder – Na verdade, as únicas obras de Israel louvadas igualmente por correligionários e adversários políticos são as de Brasília. Em 1956, chamado pelo presidente Juscelino Kubitschek, interrompeu seu mandato de deputado federal para presidir com raro entusiasmo a Companhia Construtora da Nova Capital. Ao contrário dos outros lendários caciques do PSD mineiro, ele não era engraçado – seu senso de humor parecia sempre misturado a uma mal disfarçada ponta de cinismo. Tendo convocado um grupo de imigrantes japoneses para cultivar legumes em Brasília, espantou-se quando eles reclamaram da terra ruim: “Eu sei que a terra é ruim, se fosse boa não precisava de japoneses”. Mas tinha virtudes que até um implacável adversário como Pedro Aleixo, o velho chefe udenista que foi vice-presidente do governo Costa e Silva, reconheceu: “Ele sempre respeitou a legalidade democrática”.

No governo do Estado, no entanto, Israel teria dificuldades extremas em manter sua imagem de dinâmico empreiteiro no poder. Considerado revanchista por setores revolucionários, nunca conseguiu pagar em dia as professoras primárias do Estado e tinha que contar apenas com os parcos recursos de Minas Gerais. Seu amigo e secretário da Agricultura, Evaristo de Paula, que uma vez dissera que ele tinha “sangue de boi nas veias e cheiro de capim no corpo”, acabou criando-lhe enorme constrangimento num rumoroso processo por compra irregular de adubos nos Estados Unidos. De qualquer forma, Israel nunca abandonou seus amigos e tinha extremo carinho com a vaca “Roxana”, que ganhara de Evaristo e colocara nos campos verdes do Palácio das Mangabeiras. Como não abandonava os amigos, Israel também não se esquecia dos parentes. Teve vários deles como auxiliares, e assim que deixou o Palácio da Liberdade foi cuidar da velha fábrica de refratários que herdara do pai, em Caeté, onde começou sua carreira como vereador em 1922.

O ex-governador Israel Pinheiro, por ressentimento ou superstição, sempre evitou voltar ao Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, depois de deixar o governo. Tinha amargas lembranças dos problemas que viveu lá, de 1966 a 1970, e seu pai, João Pinheiro, morrera entre as paredes neoclássicas do palácio, em 1908, quando era governador do Estado. Há dois anos, contudo, Israel aceitou participar de um almoço que Rondon Pacheco oferecia a um amigo comum, um empresário japonês, mas não chegou a terminar sua refeição: um repentino mal-estar o retirou da mesa. Talvez por ter evitado voltar ao palácio outras vezes, o ex-governador só veio a falecer na manhã do dia 6 de julho de 1973, , aos 76 anos, fulminado por um ataque cardíaco.

Só então Israel Pinheiro voltou ao Palácio da Liberdade para ser velado em seus salões tanto pelos pessedistas, que ajudou a criar, quanto pelos udenistas, que ajudou a combater. No fim da tarde, atravessou pela última vez a alameda de coqueiros da praça fronteiriça rumo à sua cidade de Caeté. E, a julgar pela opinião de seu amigo José Maria Alkmin, deputado federal e vice-presidente da República no governo Castello Branco, é com sua morte que suas virtudes começarão a aparecer: “A prova é que apenas agora começam a se lembrar de suas tantas obras”.

(Fonte: Veja, 11 de julho, 1973 – Edição nº 253 – MEMÓRIA – MINAS GERAIS – Pág; 25)

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