Idibal Pivetta, diretor de teatro, dramaturgo e advogado de presos políticos na ditadura

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Idibal Pivetta, diretor de teatro, dramaturgo e advogado de presos políticos na ditadura

Idibal Pivetta, em 2013, durante depoimentos realizados na Comissão da Verdade da Alesp. (Foto: Mauricio Garcia de Souza© Fornecido por Estadão)

O advogado e dramaturgo Idibal Pivetta, em uma sessão na Justiça Militar, em 1981 Foto: ARQUIVO/AE © Fornecido por Estadão

O advogado e dramaturgo Idibal Pivetta, em uma sessão na Justiça Militar, em 1981. (Foto: ARQUIVO/AE
© Fornecido por Estadão)

 

 

Idibal Pivetta (nasceu em Jundiaí, em 1931 – faleceu em São Paulo, em 23 de outubro de 2023), advogado, dramaturgo e advogado de presos políticos na ditadura.

Nascido em Jundiaí, em 1931, ele era formado em Direito e em Jornalismo, também estudou na Escola de Artes Dramáticas (EAD), da Universidade de São Paulo.

Ele era mais conhecido como Cesar Vieira. Seu cavanhaque e talento para contar histórias cativavam as pessoas do teatro. Mas o diretor teatral premiado no Brasil (APCA), no festival de Nancy, na França, de teatro amador, além do Casa das Américas, em Cuba, dividia sua vida com outra paixão: a advocacia. Nela, ele se apresentava com seu nome de nascença: Idibal Pivetta. E foi com sua carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que ele defendeu gratuitamente centenas de presos políticos durante a ditadura militar (1964-1985).

Em 1969, participou da fundação do grupo de teatro União e Olho Vivo em companhia de colegas do Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo. Era dele o primeiro texto encenado pelo grupo: O Evangelho Segundo Zebedeu, que tratava da história de Antonio Conselheiro e do conflito entre os jagunços e as tropas do governo. A peça foi dirigida por Silnei Siqueira.

O diretor de teatro Augusto Boal, de quem foi advogado, dizia que Vieira era o mais importante diretor de teatro amador do País. Em 1973, encenava a peça Rei Momo – a segunda de sua autoria –quando uma de suas atrizes contou que um conhecido seu havia sido preso pelo Exército. Tania Regina Mendes estava sendo seguida. Naquele dia, eles encenariam a peça em uma igreja, na zona leste de São Paulo.

Pivetta saiu do Largo São Francisco. O comboio transportava cenário, figurino, iluminação e os atores. Foram seguidos o dia todo por agentes do DOI-Codi. À noite, após a apresentação, Idibal foi acompanhar Tânia até sua casa. Foi ali que acabou preso com sua atriz – os militares estavam atrás do namorado dela, que mantinha ligações com a Aliança Libertadora Nacional (ALN). “Quando eu vi ele no DOI, pensei: estamos fritos. Prenderam até o nosso advogado”, contaria anos depois o ex-deputado estadual Adriano Diogo (PT).

“Queriam que eu assumisse um comando das esquerdas”, contou Pivetta. Na casa do advogado, apreenderam um mapa da região de Sete Povos das Missões, que seria tema de sua próxima peça teatral: Mortes aos Brancos, a Lenda de Sepé Tiaraju. “O Ustra (coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI) foi na minha cela e me convidou para jogar xadrez. Eu me recusei e ele disse: ‘Ah, não joga xadrez com a repressão?!’ E eu disse que não jogava porque não sabia jogar.”

À noite, Tânia que estava na mesma carceragem, cantava as músicas de O Evangelho Segundo Zebedeu. Foi nessa época que o grupo amador de teatro passou a receber convites para se apresentar pelo Brasil e no exterior. Primeiro no festival de teatro amador de Nancy, na França. Depois, vieram convites para apresentações em Curitiba, em Varsóvia, em Havana e na África.

Pivetta acumulou reconhecimentos no Brasil por seu trabalho. Recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor autor nacional por O Evangelho Segundo Zebedeu. Depois vieram o prêmio Dramaturgia Funarte-MinC por Os Joãos e os Magalís – Uma Chegança de Marujos, em 1996, e prêmios Mambembe e Flávio Rangel/MinC por Brasil Quinhentão!??, em 1998.

“Eu fiz parte do Teatro do XI – Evangelho segundo Zebedeu. Idibal sempre me considerou parte do Grupo do Olho Vivo, mas nunca atuei. Mas o Teatro do Onze foi teatro popular da mesma forma”, afirmou o criminalista e ex-secretário da Justiça Belisário dos Santos Junior. “Ele era um figura permanentemente indignada contra o que considerava injusto e fazia refletir isso nos seus textos teatrais e nas suas defesas. Era um gigante e um amigo querido que sempre colocava nas alturas. Essa generosidade se foi”, concluiu.

Outro que lembrou de Pivetta foi o advogado Joaquim Cerqueira Cesar. “Minha amizade com o Idibal aconteceu em um julgamento que teve no STM, famoso da greve do ABC, de 1979. Foi a partir dali que nos tornamos amigos. Eu era estudante. Depois, participamos do julgamento da anistia, se ela se aplicava aos crimes de sangue decorrentes de atos políticos. Perdemos por 16 a 0 no STM, mas ganhamos no Supremo por 4 a 1. O relator foi o Firmino Ferreira da Paz, que ficou vencido”, contou Cerqueira Cesar.

À noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte de Pivetta. Em sua conta no X, ex-Twitter, eles escreveu que o advogado e diretor teatral “atuou com coragem na defesa de presos políticos durante a ditadura”. Lula prosseguiu, afirmando: “Juntando política e cultura viveu de forma intensa e apaixonada. Soube com tristeza da partida de nosso companheiro”.

Com a redemocratização, o grupo de teatro obteve um terreno no Bom Retiro, onde foi montada sua sede, ali perto da outra paixão de Idibal: a torcida Gaviões da Fiel. Pivetta deixou sua paixão pelo clube registrada na peça Corinthians, meu amor.

Idibal Pivetta faleceu em São Paulo. Sofria há meses com uma enfermidade que lhe tolheu os movimentos. Ele tinha 92 anos.

Deixou a companheira, a artista plástica Graciela Rodriguez, que cuidava da cenografia do grupo, e um filho de outra relação, Lucas Pivetta. O velório foi na sede do teatro União e Olho Vivo, no Bom Retiro.

(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Estadão Conteúdo/ NOTÍCIA/ BRASIL/ História por Marcelo Godoy – 23/10/2023)

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