Heitor dos Prazeres, foi um compositor, cantor e pintor autodidata brasileiro

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Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1898 – Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1966)foi um compositor, cantor e pintor autodidata brasileiro.

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1898, e faleceu na mesma cidade em 1966. Cresceu na cercanias da zona do Mangue e da Praça 11. Aos 7 anos de idade trabalhava na rua. Frequentou as primeiras rodas de samba na casa da Tia Ciata. Está entre os fundadores da escola de samba Mangueira; e também ‘Vai Como Pode’, hoje Portela, nos anos 20.

Expoente do cavaquinho, criou um método revolucionário para o instrumento. Compositor, instrumentista e letrista, em parceria com Noel Rosa compôs a música carnavalesca Pierrô Apaixonado. Notabilizou-se como compositor de música popular. Em meados dos anos 30 começou a pintar mulatas, malandros, o samba e o mundo da favela. Participou da Bienal de São Paulo em 1951. Fez diversas individuais no Brasil e mostras nacionais e internacionais. Um de seus quadros foi adquirido pela rainha da Inglaterra.

 

Nascido da família simples do marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional, Eduardo Alexandre dos Prazeres, e da costureira Celestina Gonçalves Martins, moradores da Rua Presidente Barroso, no bairro da Cidade Nova (Praça Onze), Heitor dos Prazeres nasceu no dia 23 de setembro de 1898, uma década após a abolição da escravatura.

Sua chegada trouxe muita alegria a seu pai, esperançoso de que o filho desse continuidade ao nome Prazeres, pois na ocasião o casal tinha duas filhas: Acirema e Iraci, que ajudavam a mãe nos serviços caseiros e nas encomendas de costuras.

E Lino, como era chamado carinhosamente por suas irmãs, foi crescendo e aprendendo os primeiros passos e as primeiras palavras no convívio daquela família, onde todos procuravam manter a união no trabalho para que pudessem conservar aquele nível social e não acontecesse como em outras famílias negras que, marginalizadas por perseguições raciais e sociais, não arranjavam empregos, moradias e escolas e passavam a se agrupar em morros perto dos grandes centros, criando assim as favelas.

E Heitor foi crescendo, e com ele as favelas. Ao completar sete anos de idade foi surpreendido com a morte de seu admirável pai, que naquela época já começava a lhe ensinar os primeiros passos na profissão de marceneiro e alegrava as longas tardes e noites daquela casa, solando, em seu clarinete, dobrados, polcas, valsas e choros, provocando, assim, o ouvido musical de seu filho Lino.

As ferramentas no armário do quintal, o clarinete em cima da cristaleira e o piano trancado em um canto da sala traziam para o menino Heitor fortes lembranças de seu pai, cuja morte ele questionava. Dona Celestina, mulher forte e dinâmica, respondia ao menino contando a história de seus antepassados, escravos vindos da África, numa jornada sofrida e desumana. E comparava a situação de sua família, até certo ponto privilegiada, graças à dedicação e ao trabalho do pai Alexandre, em comparação a outros irmãos negros. E justificava a morte do pai Eduardo Alexandre dos Prazeres, atribuindo à vontade de Deus, consolando assim as suas crianças.

Com a ajuda de suas filhas, de parentes e amigos, entre eles o tio Hilário Jovino (Lalu de Ouro) – que, entusiasmado com a vocação musical de Lino, deu-lhe o primeiro cavaquinho –, Dona Celestina consegue matricular o menino numa escola profissionalizante, onde cursava o primário e aprendia a profissão de marceneiro. Heitor desenvolve-se tendo como modelo o tio, cujo modo de compor ele admirava, sendo mais tarde influenciado por ele em suas primeiras composições, despertando o interesse do pianista Sinhô por aquele estilo de composição.

Heitor engraxate, Prazeres jornaleiro e Lino ajudante de marceneiro e lustrador de móveis, todos esses personagens dentro de um corpo negro, franzino e arisco, com gingado de capoeira, na fase dos seus 12 anos, deram força ao mano Heitor do Cavaquinho, que na época já participava das reuniões nas casas das tias, onde se cultuavam ritmos afros como candomblé, jongo, lundu, cateretê, samba etc., destacando-se como um grande ogã-ilu e ogã-alabé, improvisando versos, ritmando nos instrumentos de percussão e harmonizando em seu cavaquinho, presenteado por tio Lalu, instrumento este que se tornou o amigo inseparável do menino Heitor dos Prazeres.

 

A essas reuniões geralmente Lino era levado por seus familiares, especialmente por seu tio Hilário, que sempre o incentivava no instrumento, fazendo com que Heitor o acompanhasse em seus improvisos. Esses encontros eram feitos nos fins de semanas em casas de parentes e amigos, como na casa da própria vovó Celi, tia Esther, de Oswaldo Cruz, tia Ciata (Maria Hilária Batista de Almeida), onde aconteciam reuniões das mais famosas da época e onde se encontravam vários bambas, como Lalu de Ouro, José Luiz de Moraes (Caninha), João Machado Guedes (João da Baiana), José Barbosa da Silva (Sinhô), Getúlio Marinho (Amor), Ernesto Joaquim Maria dos Santos (Donga), Saturnino Gonçalves (Satur), Alfredo da Rocha Viana (Pixinguinha), Paulo Benjamim de Oliveira e muitos outros sambistas daquela época.

A partir daí Heitor caiu no mundo: cavaquinho em punho, caixa de engraxate e a bolsa ao lado de carregar os jornais, saiu ele na conquista de sua cidade e de sua formação nesta grande escola da vida, dedilhando seu instrumento, deixando-se levar pela magia daquele som, descobrindo acordes, tentando conhecê-los mais intimamente.
Nas redondezas de seu bairro, preferia os pontos onde existia música, como as cervejarias da Praça Onze, com suas sessões de cinema mudo, animadas por pianistas ou pequenos conjuntos musicais que fascinavam o garoto Lino, ali assistindo do lado de fora, atento aos movimentos dos músicos que tiravam sons de seus instrumentos a cada movimento das cenas filmadas. Ele gostava também dos cafés nos arredores da Lapa, onde ia ouvir as orquestrinhas de valsas e choros que animavam as noites da bela época do Rio de Janeiro. Ao fim de cada apresentação, o maestro passava seu elegante chapéu de palha entre os freqüentadores, arrecadando dinheiro para os instrumentistas, que geralmente no fim das noitadas arranjavam propostas para serenatas dedicadas às pretendidas dos mais românticos freqüentadores daqueles requintados cafés.

Nos Prazeres das noites cariocas ele foi crescendo. E nos carnavais, já rapazinho e se destacando entre os bambas, Heitor costumava sair fantasiado de baiana, levando nos ombros um pano da costa em cores vivas, cantando e tocando seu cavaquinho, arrastando foliões que dançavam animadamente segurando as extremidades do pano como uma bandeira, fato esse que inspirou Heitor dos Prazeres a criar um estandarte para outros carnavais.

Na década de 20, passou a ser conhecido como Mano Heitor do Estácio, devido ao fato de andar sempre acompanhado de bambas de sua amizade como os sambistas e compositores João da Baiana, Caninha, Ismael Silva, Alcebíades Barcelos (Bide), Marçal, ajudando a fundar e a organizar vários agrupamentos de samba no Rio Comprido, no Estácio e nas imediações. Chegando até a Mangueira e Oswaldo Cruz, onde havia reuniões a que compareciam Cartola, Paulo de Oliveira (conhecido mais tarde como Paulo da Portela), João da Gente, Mané Bambambam e muitos outros, participando assim da criação das primeiras escolas de samba: Deixa Falar, De Mim Ninguém se Lembra e Vizinha Faladeira, no Estácio; Prazer da Moreninha e Sai como Pode, em Madureira, que se transformaram na sua querida Portela, à qual ele deu as cores azul e branco. Heitor participou também dos primeiros passos da Estação Primeira de Mangueira, aonde ia contratar as pastoras para apresentações em festas e cassinos com seu amigo e parceiro Cartola.

Sua popularidade crescia; Heitor vivia e amava muito. Em 1925 compôs Deixaste meu lar e Estás farto de minha vida, gravada por Francisco Alves.

Uma de suas paixões o censurava muito por sua vida boêmia, e por causa disso ele se inspirou e fez Deixe a malandragem se és capaz. Em 1927 começou sua famosa polêmica com Sinhô (a primeira polêmica na música popular brasileira). Apresentando-se em uma das mais populares festas do Rio de Janeiro, a de Nossa Senhora da Penha, onde eram lançadas as músicas que o povo cantaria durante o carnaval, foi surpreendido quando ouviu a música Cassino maxixe, gravada por Francisco Alves, sendo a autoria atribuída exclusivamente a Sinhô. Heitor dos Prazeres ficou chateado e foi reivindicar sua parceria na música. Sinhô, meio desconcertado, desculpou-se com aquela célebre frase no mundo do samba: “Samba é como passarinho, a gente pega no ar”. Heitor, então, fez um samba de alerta aos companheiros, Olha ele, cuidado, obtendo como resposta o samba Segura o boi. Sinhô, na época, era chamado “Rei do Samba”, o que levou Heitor a compor a música Rei dos meus sambas. Sinhô tentou inutilmente impedir que o samba fosse gravado e distribuído. Embora tivesse vencido a questão, e com isso o reconhecimento público pela autoria, Heitor não conseguiu a indenização prometida por Sinhô.

Em 1931, casou-se com Dona Glória, com quem viveu até 1936, nascendo como fruto desta união três filhas: Ivete, Iriete e Ionete Maria.

A prefeitura do Distrito Federal, em 1943, promoveu o Primeiro Concurso Oficial de Música para o Carnaval, do qual Heitor dos Prazeres foi vencedor com o samba Mulher de malandro, interpretado por Francisco Alves. Nessa época Heitor já trabalhava nas primeiras emissoras de rádio do Rio de Janeiro, fazendo apresentações com seu cavaquinho, acompanhado de vozes femininas, ritmistas e passistas, grupo este que se denominava Heitor dos Prazeres e Sua Gente.

Em 1933, compôs a célebre Canção do jornaleiro, na qual descrevia a vida dos meninos que andavam pelas ruas da cidade vendendo jornais, numa lembrança de sua infância. A música deu origem à campanha em prol da construção da Casa do Pequeno Jornaleiro.

Com a morte da esposa em 1936, da paixão e tristeza de Heitor dos Prazeres surgiu uma nova maneira de se expressar artisticamente. O compositor descobriu o pintor ao ilustrar, através de um desenho colorido, sua mais nova criação musical: O pierrot apaixonado. Nessa ocasião o artista morava num quarto na Praça Tiradentes, que era freqüentado por pessoas atraídas pela fama de Heitor no meio dos bambas e pelo conhecimento que tinha dos lugares onde aconteciam as reuniões mais importantes da cultura afro-brasileira: candomblés, umbandas, jongadas, capoeiras e rodas de sambas, entre outras. Entre tais freqüentadores, na maioria universitários, lá estava um estudante de medicina que se lançava como grande boêmio e sensível compositor de sucesso no mundo fonográfico: Noel Rosa, que fora procurar o amigo bom de briga, famoso também por sua habilidade no jogo da capoeira nas imediações, onde um marinheiro grande e forte queria tomar a sua namorada. E Heitor então foi lá resolver o problema do companheiro. Chegando ao bar onde já era conhecida sua fama de capoeirista dos bons, o tal marinheiro percebeu que tinha embarcado em uma canoa furada, e foi se desculpando com o bamba, que o mandou ancorar em outra praia, para felicidade do casal.

 

Ao voltarem contentes, Heitor foi cantarolando a marcha que estava compondo, tendo despertado a curiosidade de Noel, que disse ter gostado muito da letra, em cuja segunda parte havia uma frase que ele considerava muito forte e triste: “Depois de tanta desgraça, ele pegou na taça e começou a rir”. Noel sugeriu que ele modificasse aquela parte da letra, e escreveu: “Levando este grande chute foi tomar vermute com amendoim”, entrando assim na parceria de uma das músicas de maior sucesso de Heitor. Na mesma noite chegaram outros estudantes à procura do mestre, entre eles Carlos Drummond de Andrade, que levava nas mãos um poema dedicado ao amigo para que fosse transformado em música. O compositor não conseguiu musicá-lo, porém mais tarde o pintor se inspiraria a criar um quadro com o nome do poema que Drummond lhe dedicara: O Homem e seu Carnaval (1934). Este ilustre estudante e um outro – não menos ilustre – estudante de jornalismo, além de desenhista, Carlos Cavalcante, foram, juntamente com o pintor Augusto Rodrigues, os incentivadores e lançadores do artista plástico Heitor dos Prazeres. Artista plástico porque sua plasticidade não se resumia ao desenho de figuras e às cores de sua pintura, abrangendo também a criação e confecção de instrumentos musicais de percussão, chegando até a costura – nos modelos de seus ternos, nas roupas de seu grupo de shows –, o mobiliário e a tapeçaria decorativa.

Em 1937 começou a se projetar como pintor, participando de exposições, sempre incentivado pelos amigos. Começava assim a dupla atividade de sambista e pintor.

No ano de 1939, participa em São Paulo, nas rádios Cruzeiro do Sul e Cosmo, do “Carnaval do Povo”, com mais de 100 artistas, entre os quais Paulo da Portela, Cartola, Carmem Costa, Dalva de Oliveira, Araci de Almeida, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Bide, Marçal, Henricão, Herivelto Martins e Nilo Chagas (dupla Branco e Preto, mais tarde Trio de Ouro com Dalva de Oliveira) e muitos outros sambistas e cantores, que foram recebidos pelo então locutor e baliza Adoniran Barbosa, o anfitrião daquele grande evento de cultura brasileira, realizado em praça pública, marcando a entrada do samba na terra da garoa. Dali a excursão se estendeu a Buenos Aires e Montevidéu.

Devido ao sucesso de tais espetáculos, esse tipo de música começou a ser requisitado pelos grandes salões. E ao voltar das excursões o elenco foi contratado por cassinos, teatros, rádios etc.

No final da década de 30, além de trabalhar em emissora de rádio, Heitor fazia parte do elenco do Cassino da Urca, onde tocava, cantava e dançava em companhia de Grande Otelo e Josephine Backer, daí vindo a conhecer o cineasta Orson Welles, que o contratou como arregimentador de figurantes para um filme sobre a cultura afro-brasileira, mais precisamente o samba e o carnaval.

Novo casamento acontece nessa época, Heitor e Nativa Paiva, uma de suas pastoras, que lhe deu dois filhos: Idrolete e Heitorzinho dos Prazeres, um menino tão esperado que o inspirou na composição da música A coisa melhorou, onde, em versos, dizia: “É mais um guerreiro, é mais um carioca, é mais um brasileiro”. A música foi gravada numa das primeiras produções independentes, lançando a cantora Carmem Costa em sua carreira solo como intérprete (no começo da década de 30, Heitor já havia produzido um disco independente para o carnaval com as músicas Gata borralheira e Me forçou a dormir cedo, com um detalhe curioso: o disco matriz era colocado na eletrola de trás pra frente).

Dos Prazeres – talvez por influência do sobrenome –, além do prazer pela arte da música, da dança e da pintura, cultivava o grande prazer de estar sempre rodeado de belas mulheres, tratadas carinhosamente de “minhas cabrochas”, geralmente mais de dez moças que ele treinava para dançar e cantar com seus músicos e ritmistas e que o acompanhavam em suas excursões.

Numa dessas apresentações em São Paulo, onde Heitor fazia muito sucesso nos programas de rádio, em teatros, circos e festas populares de rua, conheceu uma bela jovem, com nome de flor, que lhe deu a filha Dirce e o inspirou na marcha-rancho Linda Rosa,. Seus amores eram suas musas, como nas músicas Deixa a malandragem, Gosto que me enrosco e Mulher de malandro, inspiradas em tia Carlinda, com quem teve um romance nos idos de 1927 e tiveram uma filha – Laura, a mais velha.

Outro destaque em sua obra musical foi o samba Lá em Mangueira, de 1943, com parceria de Herivelto Martins, gravado originalmente pela dupla Branco e Preto e Dalva de Oliveira. No mesmo ano, Heitor dos Prazeres passa a integrar o elenco da rádio Nacional do Rio de Janeiro e a participar de exposições de pinturas pelo Brasil e o exterior. Uma delas foi a exposição da RAF em benefício das vítimas da 2.a.guerra, na qual apresentou sua tela Festa de São João, indicada pelo amigo e admirador Augusto Rodrigues, também participante da coletiva, que reunia artistas de vários países. O quadro do mestre Heitor foi adquirido pela então princesa Elizabeth, em Londres. Com isso a fama do pintor cresce e no mesmo ano é convidado a expor individualmente no diretório acadêmico da Escola de Belas Artes, em Belo Horizonte.

“A PRIMEIRA BIENAL DE ARTE MODERNA”, em São Paulo.
Incentivado novamente pelo amigo, jornalista e crítico de artes Carlos Cavalcante a participar desse evento de arte de repercussão internacional, que reuniu, em 1951, artistas de várias expressões do Brasil e do mundo, proporcionando uma grande alegria na sua carreira com a contemplação do terceiro prêmio para artistas nacionais através do quadro intitulado Moenda, que até hoje faz parte do acervo do museu.

 

 

(Fonte: http://www.heitordosprazeres.com.br)

(Fonte: http://artepopularbrasil.blogspot.com/2014/08/heitor-dos-prazeres)

 

 

 

 

 

 

 

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