Heinrich Lübke, ex-presidente da República Federal da Alemanha, por dois períodos contínuos

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Heinrich Lübke (Westphalia, 14 de outubro de 1895 – Bonn, Alemanha Ocidental, 6 de abril de 1972), ex-presidente da República Federal da Alemanha, a ‘Alemanha Ocidental’ (por dois períodos contínuos, de 1959 a 1969) Heinrich Luebke. Ele se ofereceu para servir na Primeira Guerra Mundial, alcançando o posto de tenente. Após a guerra Lübke retornou à sua carreira política, tornando-se um membro da Alemanha Ocidental CDU, sendo nomeado ministro da Agricultura no Parlamento do Estado de Renânia do Norte-Vestfália, em 1947.

Em 1953, Konrad Adenauer nomeou para seu gabinete como ministro federal da Agricultura, em Bonn. Católico conservador, orador sem talento e presidente sem sorte (estava no governo quando se revelaram suas ligações com a construção de campos de concentração nazistas), o velho representante das elites rurais da Prússia enfrentou todos os problemas de seu mandato defendido pela armadura do seu aspecto venerável.

A imprensa e os estudantes alemães ironizavam a sua falta de brilhantismo, mas o prestígio dos seus cabelos brancos o conduziu a um papel de presidente-relações públicas. Incapaz de ampliar o poder político do cargo de presidente, na Alemanha, Luebke eceitou sem esforço essa missão de “diplomata itinerante”, visitando durante seu governo 35 países da África, Ásia e América Latina.

Inclusive o Brasil, onde foi condecorado pelo presidente Castello Branco, em maio de 1964, e onde pode ler, com voz linear, mais um de seus monótonos discursos. Uma oratória sem colorido que a própria esposa, Wilhelmine, justificava com terna compreensão: “Reconheço que meu marido não é um grande orador. Mas tudo o que fala lhe sai do coração”. Luebke morreu no dia 6 de abril de 1972, do estômago, aos 77 anos, em Bonn, na Alemanha Ocidental.

 

(Fonte: Veja, 12 de abril de 1972 –- Edição 188 -– Datas -– Pág; 69)

 

 

 

 

 

BERLIM, A ELEIÇÃO

Pela primeira vez desde a criação da República Federal da Alemanha, em 1949, a escolha do próximo Presidente alemão ganha o caráter de uma verdadeira eleição, e constitui um acontecimento político de primeiro plano para todo o país: o marasmo e a indiferença que caracterizaram a designação do liberal Theodor Heuss (1884-1963), em 1949 e 1954, e do democrata-cristão Heinrich Lübke (1894-1972), em 1959 e 1964, contrastam fortemente com a febre eleitoral provocada agora com a escolha do terceiro Presidente da República.

No complicado jogo de alianças partidárias e de coligações governamentais da Alemanha Ocidental, o escrutínio do dia 5 de março de 1969 servirá de pré-estreia para as eleições gerais de setembro de 1969, que definirão a nova orientação política do país. Além disso, com a escolha de Berlim como sede da reunião da Assembleia Federal que designará o sucessor do atual Presidente Karl Heinrich Lübke, a eleição ganhou nova dimensão internacional, motivou o atual bloqueio da antiga capital do Reich e acentuou a precariedade do equilíbrio europeu.

O Presidente da República é designado pela Assembleia Federal, composta por 516 membros do Parlamento e por igual número de representantes estaduais. A atuação do Chefe de Estado da Alemanha limita-se praticamente a receber e credenciar as representações diplomáticas, firmar acordos e tratados internacionais e correr o mundo em intermináveis visitas oficiais. Aparentemente um símbolo da unidade nacional do que figura de destaque político da nação, e o cargo mais cobiçado para os profissionais do poder continuará sendo o de Chanceler federal, ocupado desde dezembro de 1966 por Kurt Georg Kiesinger (1904-1988).

No entanto, nenhum dos dois candidatos – Gerhard Schröder dos democratas-cristãos e Gustav Heinemann (1899-1976) dos socialistas – pretende se resignar às atribuições oficiais do posto, e os 60 milhões de alemães descobrirão no no Presidente uma vitalidade e atuação política desconhecidas por Heinrich Lübke, que, aos 74 anos, decidiu encurtar seis meses oseu mandato de cinco anos, para fugir às crescentes acusações de ter ajudado a instalação de campos de concentração durante a II Guerra Mundial.

 

OPÇÃO PREFERENCIAL – Com a partida prematura e pouco honrosa de Heinrich Lübke, a corrida presidencial acelerou-se inesperadamente, e os dois partidos que governam conjuntamente desde 1966 (o democrata-cristão, CDU, e o social-democrata, SPD) mas que se enfrentarão nas cabines eleitorais da Kongresshalle de Berlim, intensificaram sensivelmente sua pressão sobre os 84 delagados do partido liberal (FDP) que vão decidir a eleição.

 

Apesar das previsões indicarem Gerhard Schröder como mais provável vencedor, o candidato dos socialistas não deixa de ser um concorrente bastante sério: ele deve reunir cerca de 451 delegados contra os 481 dos democratas-cristãos. Considerando-se que Schröder contará com o apoio dos 22 delegados neo-nazistas do PND, faltam-lhe apenas dezesseis votos liberais para obter a maioria absoluta necessária de 519 votos.

 

Mas o estado-maior do partido liberal (FDP), chefiado com grande habilidade por Walter Scheel, declarou-se em princípio favorável ao candidato socialista, e a poderosa ala esquerda de seu partido trabalha incansavelmente em favor de Gustav Heinemann. 

Excluídos do Governo em 1966, com a Grande Coalização do democrata-cristão Kurt Kiesinger e do socialista Willy Brandt, os liberais não querem perder a oportunidade de participar do próximo Governo caso a aliança atual seja derrotada nas eleições de setembro de 1969. Mas ao votarem em Gustav Heinemann, os liberais terão dificuldades em reatar laços com a CDU. Por outro lado, eles encontrarão as mesmas dificuldades junto ao SPD, caso apóiem o democrata-cristão Gerhard Schröder.

 

PERSONAGEM DETESTADO – Adversário feroz da Grande Coalização, Gerhard Schröder contaria com a simpatia dos liberais se não fosse sua intransigência “atlanticista”. “O Sr. Schröder fala como se fosse o secretário particular de Dean Rusk”, comentou certa vez o falecido Chanceler Konrad Adenauer. Para que o velho artesão da Aliança Atlântica julgasse excessivas certas posições de seu Ministro das Relações Exteriores, era preciso que o zelo pró-Estados Unidos de Schröder fosse realmente constrangedor.

Desde 1953, quando foi nomeado Ministro do Interior de Konrad Adenauer, até 1966, quando se tornou Ministro da Defesa do Governo de Kurt Georg Kiesinger, Schröder nunca deixou de ser um personagem discutido e muitas vezes detestado. Fazendo-se o defensor da instituição de leis de exceção, quando ocupava o Ministério do Interior, ele logo capitalizou a inimizade dos socialistas e dos liberais. E ao se opor à redução dos créditos militares em julho de 1967, entrou em conflito aberto com a ala de seu próprio partido, chefiada por Kiesinger.

Contando com o apoio da poderosa facção protestante da democracia-cristã e beneficiando-se mesmo da ajuda inesperada de Franz Josef Strauss (1915-1988), Ministro das Finanças e chefe de uma ala importante da CDU, Schröder vive grande expectativa. Que deve-se desdobrar em dois momentos: a curto prazo, ele quer a Presidência, em 1969. A longo prazo: ele pretende a chancelaria, em 1973.

 

COLIGAÇÃO ARTIFICIAL – Gustav Heinemann, Ministro da Justiça, homem notável, seu itinerário político é surpreendente. O católico Konrad Adenauer havia feito desse protestante praticante, saído de uma família burguesa austera, mas dotado de um senso de humor notoriamente escasso em Bonn, seu Ministro do Interior. Mas o idílio não durou muito tempo: em 1950, Heinemann se opôs radicalmente ao projeto de rearmamento alemão, o que o levou a perder a pasta ministerial e ganhar a reputação de ser o “político que enfrentou o Velho”. Sete anos mais tarde, ele completa sua revolução pessoal e passa para o SPD.

Para uns, Gustav Heinemann é um traidor, para outros, um convertido, mas todos são unânimes em considerá-lo uma das figuras políticas mais brilhantes da Alemanha atual. Gerhard Schröder, sentindo-se ameaçado pelo prestígio de Heinemann, decidiu esquecer sua autoconfiança, fazendo discursos moderados e compreensivos em direção dos socialistas, mas sem negligenciar os nostálgicos da era Adenauer (maioria dentro do partido conservador e do corpo diplomático alemão), impacientes em acabar com a tímida aproximação com o Leste europeu iniciada por Willy Brandt.

De fato, a “Ostpolitik” de Bonn tem sido o principal ponto de discórdia na coligação artificial entre socisis-democratas e democratas-cristãos, imobilizando a margem de manobras de ambas as partes. O Governo de Kiesinger, de um lado, assinou um acordo comercial liberal e navajoso com seus patrícios comunistas e aceitou a presença do hino e da bandeira de Berlim Oriental nos Jogos Olímpicos de Munique (1972).

 

(Fonte: Veja, 26 de fevereiro de 1969 –- Edição 25 -– INTERNACIONAL -– Pág: 28/29)

 

 

 

 

 

 

 

 

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