Gertrude Stein, escritora americana, é a matriarca do modernismo

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Gertrude Stein e Alice Toklas, 1930

Gertrude Stein e Alice Toklas, 1930

 

ESCRITORA DE UMA FRASE – Cuja vida é mais interessante do que sua obra

Gertrude Stein (1874-1946), escritora americana, é a matriarca do modernismo. Sua narrativa influenciou e ajudou a renovar a literatura americana e inúmeros autores do século XX. Viscerais, seus romances não são leitura palatável.

A prosa redundante exige do leitor paciência de monge. Não é o caso de Três Vidas, seu primeiro livro, escrito em 1909.

As características que ajudaram a renovar a literatura americana estão apenas incubadas: Linguagem coloquial e estilo marcado por repetições.

Gertrude virou um ícone feminista por causa de sua conduta libertária. Três Vidas é um retrato do comportamento de três mulheres numa sociedade machista. Uma espécie de protesto que anunciou a emancipação feminina desenrolada nas décadas seguintes.

Filha de um culto e rico imigrante judeu-alemão, Gertrude viveu a infância entre os Estados Unidos e a Europa. Acabou-se radicando na França em 1903 – não deixou o país nem durante a ocupação nazista. Conviveu com grandes nomes da arte moderna, como Pablo Picasso, Henri Matisse, André Derain, Georges Braque, Juan Gris, de onde resultou uma rica coleção de arte.

Sua casa também foi ponto de encontro de escritores como Ernest Hemingway e Ezra Pound – a chamada “geração perdida” dos expatriados americanos. Foi ainda em Paris, em 1907, que ela encontrou Alice B. Toklas (1877-1967), a sua companheira da vida inteira.

Com uma personalidade retraída, que constatava com a exuberância de Gertrude, Alice foi não apenas a amante, mas a guardiã e a serviçal da escritora. Administrava a casa e datilografava os manuscritos de Gertrude. Ambas judias, sobreviveram na França ocupada pelos nazistas, graças a um amigo das duas, Bernard Fay, convicto e influente colaboracionista.

Gertrude, que tinha simpatia pelas ideias de Francisco Franco, ditador da Espanha, chegou a considerar Hitler “um alemão romântico”. Apesar do seu esforço de autopromoção, o trabalho literário de Gertrude Stein não teve muita repercussão.

Com The Making of Americans, Gertrude pretendia igualar-se ao James Joyce de Ulisses e ao Marcel Proust de Em busca do Tempo Perdido – mas o resultado foi apenas uma obra longa e monótona. Gertrude só alcançou êxito com A Autobiografia de Alice B. Toklas, no qual assumiu ficcionalmente a voz de sua companheira para, na verdade, escrever a sua própria autobiografia, analisando o papel que desempenhou no lendário grupo de escritores e artistas que a rodeava.

Gertrude é associada a uma frase: “Uma rosa é uma rosa é uma rosa”, do poema Sacred Emily (1913). O verso foi objeto de numerosos comentários e estudos – e de paródias como “Uma rosa é uma rosa é uma cebola” (Ernest Hemingway) e “Um rato é um rato é um rato” (William Burroughs).

Gertrude Stein acreditava que a repetição revelava a verdade das coisas e das pessoas – uma convicção que está dentro do espírito das vanguardas do início do século XX. O alcance e a limitação da sua obra estão nessa conexão sensível com seu tempo, que ela viveu intensamente, sobretudo como personagens de sua época que Gertrude e Alice fascinaram, com competência.

 

 

(Fonte: Época -– Nº 479 -– 23 de julho, 2007 -– Editora Globo -– Mente Aberta -– Rodrigo Turrer – Pág; 174)

(Fonte: Veja, 14 de maio de 2008 – ANO 41 – Nº 19 – Edição 2060 – Livros/ Por Moacyr Scliar – Pág: 146/147)

 

 

 

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