Georges-Pierre Seraut, talentoso pintor, um dos mestres do neo-impressionismo e do movimento conhecido como pontilhismo

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Químico das cores

Georges-Pierre Seraut (Paris, 2 de dezembro de 1859 – Paris, 29 de março de 1891), talentoso pintor francês, um dos mestres do neo-impressionismo e do movimento conhecido como pontilhismo, cultivou a imagem de um artista frio, calculista, cujas obras iam para as telas depois de centenas de estudos e cálculos de matemática, física e química das cores.

“Os críticos veem poesia em tudo o que faço. Não é nada disso – eu apenas aplico o meu método.” Assim o pintor francês Seraut, definia sua arte. Essa era apenas uma das facetas de um autêntico mestre dos pincéis – um desenhista como poucos e um pintor sensível, que retratou a pequena burguesia do final do século XIX com rara beleza.

Aluno da Escola de Belas Artes, Seraut iniciou sua carreira como muitos de seus contemporâneos, influenciado pelo classicismo. Cedo, porém, veio o interesse pelo impressionismo, que  o mergulhou em uma obsessão que o acompanharia a vida inteira: a ciência das cores. Em 1878, Seraut descobriu um cartapácio de mais de 500 páginas, A Gramática das Artes e do Desenho, do crítico Charles Blanc (1813-1882), que o introduziu no universo da física dos matrizes.

 

Foi nas linhas de Charles Blanc que Seraut conheceu o visionário Michel-Eugène Chevreul (1786-1889), o cientista que inventou a vela, como hoje é conhecida, isolou o colesterol e estabeleceu uma lei sobre as cores. De acordo com essa lei, duas cores, colocadas uma ao lado da outra, resultam, para o olho humano, em uma terceira percepção. Fascinado por essa ideia, Seraut começou a salpicar seus pontos – e a provar que a ciência e arte são irmãs. Ele não misturava o azul com o amarelo para gerar o verde. Preferia colocar as duas cores lado a lado. Nascia o pontilhismo e com ele uma coleção de obras-primas em que Seraut aplicava suas teses e seus métodos.

 

SARAMPO – Parade de Cirque, de 1887-1888, é um exemplo magistral da arte de Seraut. É um de seus raros trabalhos com uma imagem noturna, em que a diferença dos planos é sugerida pela maneira como os personagens recebem a luz. Ele tem o rigor do quattrocento italiano e a leveza do impressionismo francês. Os músicos, cabisbaixos, tocam como se estivessem em um ritual religioso. São palhaços tristes, uma metáfora da solidão do artista.

 

Chahut, um óleo sobre tela de 1889-1890, representa um espetáculo de cancã dos populares cafés-concerto de Paris. Como na maioria das obras de Seraut, personagens quase caricatos, saídos do cotidiano, ocupam a cena. Suas obras mergulha ainda nas paisagens de um pintor parisiense que, apesar de morar longe do oceano, foi responsável por algumas das mais belas marinas da arte do final do século XIX.

 

Elas são diferentes das marinas de Monet, cujas pinceladas, como o mar e os ventos, são tumultuadas e barulhentas. Seraut, que sempre trabalhava em ateliês a partir de desenhos e croquis realizados nas locações de sua escolha, tingia as telas de imagens intensas, mas sombrias, contidas, quase tímidas. Port-enBessin é o melhor exemplar desse adágio de tons.

 

A trajetória em vida de Seraut é a história de um sujeito genial cuja arte só foi reconhecida depois da morte. Em 1888, ele deu a seguinte resposta a um amigo que lhe pedia o preço de uma de sua pinturas, Poseuses: “Conto como despesas um ano a 7 francos por dia”. Poseuses foi vendida por 2 500 francos, pouco menos que 500 dólares. Naquela mesma época, Olympia, de Manet, recebeu 4 000 dólares. E Angelus, de Millet, chegou aos 100 000 dólares em leilão. Uma charge publicada em 1890 em um jornal francês tratava Seurat com sarcasmo. Diante de seus quadros, um grupo de visitantes exclama: “São pontos, vírgulas e ponto-e-vírgulas”. Um humorista inglês aproveitou o sarampo que Seurat contraiu na infância para uma outra caricatura. Ao lado da cama do pequeno Georges-Pierre, com o rosto pontilhado, o médico da família diz à sua mãe: “Madame Seurat, isso pode ter efeitos na vida futura do garoto!” Teve. Na dele e na de gente como Van Gogh e tantos outros que contraíram a doença colorida do pintor em suas obras.

 

Na sua carreira de precisão pedagógica, três dos melhores e mais conhecidos quadros do artista: Um Dimanche à la Grande Jatte (1884), uma espécie de manifesto do neo-impressionismo, com suas elegantes senhoras vestidas de domingo, chapéus na cabeça, guarda-chuva contra o sol no ombro, um macaquinho na coleira, Poseuses (1888), de posse da Fundação Barnes, que em seu contrato de compra, no início dos anos 20, se estabeleceu uma cláusula proibindo seu deslocamento e Une Baignade, Asnières (1883), são pinturas para que a arte, insubstituível, prove sua singularidade.

Morto com apenas 31 anos de idade, em março de 1891, vítima de uma difteria maligna, em Paris.

 

(Fonte: Veja, 24 de abril de 1991 -– ANO 24 – Nº 17 – Edição 1179 –- ARTE/ Por FÁBIO ALTMAN, de Paris –- Pág; 84/85)

 

 

 

 

 

 

 

 

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