General Alberto Dalla Chiesa (1920-1982), principal responsável pela repressão à guerrilha na Itália

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“Raposa” o general que dobrou o terror

General Alberto Dalla Chiesa (1920-1982), principal responsável pela repressão à guerrilha na Itália. Durante seu reinado de três anos e meio como czar da luta contra o terrorismo na Itália, o general dos carabinieri, Dalla Chiesa, conseguiu golpear fundo a até então incontrolável criminalidade política no país, permaneceu incólume a atentados e recebeu por isso o apelido de “La Volpe”, “A Raposa”. Nasceu no dia 27 de setembro de 1920, em Saluzzo. Em junho de 1982, foi designado chefe do combate a outra praga nacional, a Máfia.

No combate ao terror, a decidida embora controvertida ação do general fez cair em quase 70% o número de atentados no país. Hoje, apenas um núcleo remanescente das Brigadas Vermelhas resta para ser desmantelado, nada menos que 2 000 terroristas de esquerda e direita foram postos atrás das grades – e o prestígio de Dalla Chiesa o transformou em herói nacional. Dalla Chiesa era o homem mais odiado pelos terroristas da Itália, a Máfia tinha boas razões para querer seu desaparecimento.

23 000 SUSPEITOS – Dalla Chiesa, na verdade, foi inicialmente enviado a Palermo como prefeito – espécie de coordenador local das atividades do governo central, especialmente policiais – para combater o crime organizado, que tem na Sicília suas principais bases. Mas depois de uma polêmica com o Ministério do Interior, acabou recebendo um amplo mandato para centralizar a luta anti-Máfia em toda a Itália.

Ao chegar, havia uma situação de emergência. Centenas de assassinatos haviam-se sucedido na região devido a uma luta pelo poder, envolvendo grupos emergentes no crime organizado e antigas “famílias” mafiosas, que se atiravam a um polpudo mercado ilegal que só no capítulo do tráfico de drogas movimenta 1,5 bilhão de dólares por ano.

Ele mal tivera tempo de começar seu trabalho – e a Máfia não lhe deu tréguas. Numa sucessão de rupturas com sua própria e ancestral lei do silêncio, a onorata società começou a assumir a paternidade de diversos homicídios, muitas vezes em telefonemas ao próprio gabinete de Dalla Chiesa. Cadáveres eram queimados no centro da cidade, ou deixados em frente a centrais de polícia. num único final de semana, a Máfia chegou a cometer oito homicídios e um sequestro – no que denominou, um aberto desafio ao general, “Operação Carlo Alberto”. No dia 3 de setembro de 1982, em pleno centro de Palermo, na Sicília, a cidade mais associada ao crime organizado, Dalla Chiesa de 62 anos, um ex-viúvo, e a esposa de 32 anos, com quem se casara em segundas núpcias há um mês e meio, foram mortos a tiros.
O general e a mulher, Emmanuela Setti Carraro, dirigiam-se para sua residência, seguido por uma escolta policial. Num trecho do centro de Palermo, os automóveis foram fechados por dois carros e uma motocicleta. Os ocupantes dos dois carros abriram fogo, atingindo o general e Emmanuela na cabeça.

“DESAFIO MORTAL” – Foi o mais importante assassinato de uma personalidade pública na Itália desde que os terroristas das Brigadas Vermelhas mataram o ex-primeiro-ministro Aldo Moro em 1978. No combate ao terror, a decidida embora controvertida ação do general fez cair em quase 70% o número de atentados no país. Hoje, apenas um núcleo remanescente das Brigadas Vermelhas resta para ser desmantelado, nada menos que 2 000 terroristas de esquerda e direita foram postos atrás das grades. Sua morte comoveu a Itália e provocou arrebatadas reações do governo. Na véspera de seu assassinato, enfim, o general iria começar uma operação inédita e ousada.

Ele acabara de receber um levantamento da Polícia Financeira, feito a seu pedido, que tinha por alvo empresas e fortunas pessoais de suspeitos de fazer a reciclagem do dinheiro mafioso – de transformar o produto de sequestros, tráfico de drogas, venda de “proteção” e prostituição em dinheiro “limpo”, “lavado” por sua canalização a atividades legais. A lista continha nada menos de 3 200 nomes de suspeitos e a radiografia de 450 empresas – e o total do elenco das pessoas de alguma forma envolvidas com esses negócios chegava a 23 000. Se tiver sido morto pela Máfia, terá sido para o general uma trágica ironia. Na verdade, entre os métodos pouco ortodoxos que utilizava para obter êxito contra o terror, o general, na busca de pistas, lançou também mão de acordos com o submundo do crime. Ele sabia o terreno em que pisava. Em um pedido para que comparasse suas atividades anteriores com as de então, Dalla Chiesa foi profético: “Combater a Máfia”, disse ele, “é mais difícil do que enfrentar o terrorismo – e também mais perigoso”.

(Fonte: Veja, 8 de setembro, 1982 – Edição n.º 731 – Datas – Pág; 116 – Itália/ Por Dirceu Brisola, de Roma – Pág; 34)

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