Fundou a primeira agência privada de informações, que oferecia serviços a comerciantes

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Eugene François Vidocq (1775-1857), ladrão, soldado, desertor, falsário, prisioneiro condenado a trabalhos forçados, rei das fugas, espião, chefe de uma brigada especial da polícia de Paris e fundador da primeira agência particular de informações. Rocambolesca. Assim foi a vida de Vidocq. Suas memórias inspiraram Os Assassinatos da Rua Morgue (1841), de Edgar Allan Poe, e o personagem Vautrin, figura presente em vários relatos da Comédia Humana, de Balzac. Sua vida ainda foi base para os personagens Jean Valjean e Javert de Os Miseráveis (1862), de Victor Hugo, e para uma peça de Alexandre Dumas.

Mas, antes de tanto glamour, Vidocq começou ladrão. E sua primeira vítima foi o seu pai, um padeiro de Arras que teve 2 mil francos surrupiados do caixa. Tentando disciplinar o espírito belicoso do rapaz, o pai o alistou no Exército. Vidocq não tardou a desertar.

Algumas peripécias mais tarde, o aventureiro se meteu numa briga com um coronel e acabou na cadeia. Lá conheceu Boitel, um homem simples que fora condenado por roubar um pouco de trigo para alimentar os filhos. O absurdo da situação ajudou a forjar em Vidocq uma noção da justiça como princípio moral. Fugiu da prisão e, de quebra, falsificou o documento que permitiu a liberação do infeliz Boitel.

Capturado, fugiu novamente. Reconduzido a cadeia, escapou outra vez, mas foi agarrado. Entre 1800 e 1809 alternou temporadas atrás das grades e fugas espetaculares. Após seis anos cumprindo trabalhos forçados, nos quais conheceu a nata dos criminosos da época, Vidocq se cansou. Resolveu colaborar com a polícia e ajudou a descobrir um assassino em Lyon.

Sua eficácia foi reconhecida: em 1811, tornou-se chefe de uma brigada de segurança de Paris, a frente de um pelotão de ex-condenados. Graças a brigada, a polícia prendeu 700 fugitivos na capital francesa em apenas um ano. Vidocq implantou ainda um serviço de informantes com ramificações em toda a Europa.

Apreciador de disfarces – certa vez, realizou a proeza de fugir da cadeia com roupas de freira – Vidocq não hesitava em mudar radicalmente de aspecto para investigar criminosos, surpreendendo-os vestido de militar ou de vendedora de peixes. Neutralizava os fugitivos com outra inovação: técnicas de boxe, que dominava graças a robusta compleição física.

Adulado pela imprensa, Vidocq virou uma celebridade. Mas um escândalo de enriquecimento ilícito em 1827 o obrigou a sair da polícia. Abriu então uma fábrica de papel a prova de falsificações, inventou uma tinta indelével e uma fechadura inviolável. Publicou suas memórias em 1828 e depois mais dois livros sobre o mundo do crime.

Em 1836, fundou a primeira agência privada de informações, que oferecia serviços a comerciantes preocupados com a idoneidade dos clientes. A polícia não apreciou a concorrência e obteve na Justiça o fechamento da firma. Mas essa agência, aliada as inovações que implantou na brigada policial, serviriam de modelo para agências de inteligência e de detetives no mundo todo.Vidocq deixou Paris em 1843 e morreu na Bélgica 14 anos depois.

Sua vida também inspirou uma série de TV nos anos 60 e quatro filmes. O mais recente é Vidocq (2000), em que o ator Gérard Depardieu usa seu carisma para recriar o mestre dos disfarces francês.

(Fonte: Super Interessante – Fevereiro de 2004 – Quem Foi? – Marcelo Gomes – Pág; 30

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