Frank Zappa, compositor, grande músico e gozador. Pai da invenção

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Pai da invenção

Frank Zappa, compositor, grande músico e gozador. Numa época em que a maioria dos músicos diz quebrar barreiras na arte misturando valsa com batucada e rumba em nome de uma suposta world music, ou música universal. Embora tenha alcançado popularidade no território pop, Zappa era mais do que um exímio guitarrista – ele restará como um dos símbolos da música americana da segunda metade do século e das enormes transformações de comportamento que espelhou ou produziu. Por um lado, era um músico habilidoso, um dos primeiros a explorar as possibilidades dos sintetizadores. Por outro, era um inveterado gozador, que cultivava gêneros tão distantes como o rock, a música clássica e o jazz apenas para debochar sistematicamente do que considerava falso, estático ou embolorado em cada um.
Autor de mais de sessenta discos, Zappa teve músicas gravadas tanto por regentes como Pierre Boulez e Zubin Mehta quanto pelas bandas punk do final dos anos 70. Em sua autobiografia, The Real Frank Zappa Book, lançada em 1989, ele comentou ter desistido das composições clássicas porque não tinha paciência de lidar com orquestras sinfônicas. Ao mesmo tempo, detonava: “Os ouvintes de rock são garotos tão analfabetos que não conseguem sequer ler o selo dos discos que compram”. Essa postura iconoclasta o acompanhou desde o primeiro LP, Freak Out, lançado em 1966, e faria dele um dos mais radicais comentaristas da sociedade americana na música popular.
O Fà HAVEL – Esperava-se um novo disco de Zappa não apenas pela música, mas pelos comentários que ele traria. Com seus bigodões à La Groucho Marx, Zappa e sua banda The Mothers of Invention começaram desafiando o otimismo dos hippies no LP We’re Only In It for the Money (Só Estamos Nisso por Dinheiro). Nos anos 70, debochou do som discotheque e, mais tarde, dos políticos americanos ao lançar sua “candidatura” à Presidência dos Estados Unidos (“Como poderei ser pior do que os que passam por lá?”). Na virada conservadora vivida pelos Estados Unidos, militou contra as advertências sobre “linguagem imprópria” impostas aos discos de rock mais ousados. Dizia que controlar discos equivale a combater a caspa decapitando o paciente.
Sua conversa costumava cativar a todos, inclusive o presidente da então Checoslováquia, Vaclav Havel. Fã do compositor desde os anos 60, ao chegar ao poder no país recém-saído do comunismo, Havel nomeou-o como uma espécie de representante na área de cultura e turismo junto ao Ocidente. Embora aclamado pelas platéias jovens e respeitado como um rebelde culto da música erudita, Zappa nunca foi um campeão das paradas de sucesso. Muitos de seus discos eram experimentais em excesso para o estômago de qualquer platéia. Zappa ganhou apenas um prêmio Grammy, em 1986, pelo LP instrumental Jazz From Hell. Seu próximo passo: voltar ao rock, como um desbravador que jamais deitou sobre os louros. Zappa morreu no dia 4 de dezembro de 1993, de câncer na próstata.

(Fonte: Veja, 15 de dezembro, 1993 – Edição 1318 – Datas)

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