Frank Carlucci, ex-vice-diretor da CIA e antigo conselheiro de segurança nacional, embaixador dos Estados Unidos da América em Portugal no período do pós-25 de Abril

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Frank Carlucci, histórico embaixador dos EUA em Portugal.

 

Embaixador durante o período do pós-25 de Abril, Frank Carlucci esteve em Portugal durante os tempos decisivos do Verão Quente.

 

Frank Carlucci quando era secretário de Estado da Defesa, em 1989 (Foto: AFP/Getty Images)

 

 

Frank Charles Carlucci III (Scranton, Pensilvânia, 18 de outubro de 1930 – McLean, no estado da Virginia, 3 de junho de 2018), ex-vice-diretor da CIA e antigo conselheiro de segurança nacional, embaixador dos Estados Unidos da América em Portugal no período do pós-25 de Abril de 1974, ao lado do embaixador russo da época.

 

Frank Carlucci foi um dos dois grandes protagonistas estrangeiros da revolução, ele do lado dos EUA e Arnold Kalinin (1929-2011) do lado da Rússia, num tempo que era das duas superpotências”, mas salientando a “importância especial” do diplomata americano .

 

Independentemente dos importantes, e distintos, papéis que Frank Charles Carlucci III desempenhou para os EUA, a sua atuação foi também muito relevante para Portugal, por ocasião do 25 de Abril. “Em 1974, quando oficiais militares portugueses derrubaram a ditadura de direita em Lisboa, o então secretário de Estado Kissinger demitiu o embaixador e enviou Carlucci para impedir que Portugal fosse o primeiro país da Europa Ocidental a tornar-se comunista”, numa passagem que é fundamental para perceber a importância diplomática e política de Carlucci.

 

Foi um embaixador muito importante, nomeadamente [porque]criou uma cumplicidade estratégica com o futuro Presidente Mário Soares e, num tempo particularmente agitado, teve em Portugal talvez uma das suas missões diplomáticas mais importantes numa carreira muito longa que terminou, com a sua morte.

 

Nascido a 18 de outubro de 1930 em Scranton (Pensilvânia), Carlucci era um atleta dedicado na sua juventude e chegou a integrar a equipe de luta livre em Princeton, onde se licenciou no ano de 1952 em Relações Internacionais. Fez ainda um MBA em Harvard e passou dois anos na Marinha. A sua primeira missão diplomática no exterior foi no Congo, em 1960, quando de discutia a independência face à Bélgica. Mais tarde esteve no Brasil, na altura do golpe militar que derrubou João Goulart, e aí aprendeu a falar português fluentemente.

 

 

O trabalho com Kissinger e uma condecoração de Santana Lopes

 

 

Antigo oficial da Marinha e diplomata, Frank Charles Carlucci III desempenhou um papel central ao longo de quatro administrações norte-americanas. Um dos republicanos mais influentes do Pentágono, Carlucci foi subindo dentro do governo de Richard Nixon através da sua associação com Donald Rumsfeld (que seria mais tarde secretário da Defesa de Gerald Ford e, muitos anos depois, de George W. Bush). Os dois tinham sido colegas de quarto na faculdade. Foi também durante a administração Nixon que Carlucci conheceu Caspar Weinberger (1917-2006), (que viria também a ocupar o cargo de secretário da Defesa) e Ronald Reagan, então governador da Califórnia.

 

Carlucci, embaixador em Lisboa entre 1975 e 1978, esteve em Portugal durante os tempos decisivos do “Verão Quente”, dando apoio americano a Mário Soares. Foi escolhido pelo próprio Henry Kissinger para substituir o então embaixador (que tinha sido despedido) com a missão de impedir Portugal de se tornar no primeiro país comunista da Europa ocidental. Para que tal não acontecesse, Kissinger estava disposto a tomar medidas drásticas, como isolar Portugal dentro da NATO. Frank Carlucci, contudo, acreditava que a abordagem do secretário de Estado ia ter o efeito contrário e “empurrar Portugal para os braços dos comunistas”. Preferindo lidar com a situação à sua maneira — o que acabou por acontecer –, Carlucci viu a sua posição dentro do executivo norte-americano ser consolidada com a derrota dos comunistas.

 

Depois da temporada em Portugal, Carlucci ocupou o cargo de secretário de Estado da Defesa, entre 1987 e 1989, durante a administração de Ronald Reagan. Nos anos 80, o antigo embaixador foi um dos principais responsáveis pelo aumento no investimento no armamento que, em última instância, acabou por atrair Mikhail Gorbachev à mesa de negociação com Reagan.

 

Em 2004, Frank Carlucci foi condecorado com a grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique pelo então primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, uma distinção que foi contestada na altura pelo PCP. Um ano depois, Carlucci foi novamente condecorado, dessa vez com uma medalha da Defesa Nacional. A cerimônia aconteceu apenas alguns dias antes de o Governo de Santana Lopes ser substituído pelo Executivo de José Sócrates.

 

Carlucci era presidente da Carlyle, um grande fundo de investimento norte-americano onde estão outros antigos políticos do Partido Republicano, como James Baker (que tinha sido colega de faculdade do ex-embaixador), e por onde passou também George W. Bush. A Carlyle tentou comprar a Petrogal em 2004, tendo-se na altura associado em consórcio ao Grupo Espírito Santo e a Americo Amorim.

 

O fundo Carlyle, através da Carlyle Europe Partners, tem atualmente no seu portfólio de negócios um investimento na empresa de embalagens Logoplaste. Frank Carlucci esteve também envolvido pessoalmente em negócios em Portugal, entre os quais a imobiliária Euroamer, que chegou a ser liderada por Artur Albarran e foi investigada pelo Ministério Público na década passada.

Frank Carlucci morreu na sua casa em McLean, no estado da Virginia, em 3 de junho de 2018. Tinha 87 anos. A morte aconteceu na sequência de complicações provocadas pela doença de Parkinson e foi confirmada ao The Washington Post por uma amiga, Susan Davis.

(Fonte: https://observador.pt/2018/06/04 – MUNDO – ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA – 04/06/2018)

(Fonte: https://www.publico.pt/2018/06/04/politica/noticia – POLÍTICA / NOTÍCIA / Por SÓNIA SAPAGE e NUNO RIBEIRO – 4 de Junho de 2018)

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