Foi o primeiro compositor nascido nos Estados Unidos a receber aclame mundial

0
Powered by Rock Convert

Leonard Bernstein (Lawrence, 25 de Agosto de 1918 – Nova Iorque, 14 de Outubro de 1990) foi um maestro e compositor e pianista germano-americano. Nascido na cidade de Lawrence, Massachusetts, Bernstein foi o primeiro compositor nascido nos Estados Unidos a receber aclame mundial, ficando famoso por composições como West Side Story.
(Fonte: www.lastfm.com.br – Correio do Povo – Ano 115 – 14 de outubro de 2010 – Cronologia)

O superastro da batuta

Leonard Bernstein (1918-1990), um dos maiores regentes de todos os tempos. Uma das figuras mais fascinantes do mundo da música, na sua tríplice atividade de compositor, regente e musicólogo. Ao longo se sua carreira, Bernstein conseguiu ser, ao mesmo tempo, um maestro respeitado e um astro do mundo dos espetáculos tanto quanto Mick Jagger ou Arnold Schwarzenegger. Nasceu em 25 de agosto de 1918, em Lawrence, Massachusetts, Estados Unidos. A condição de regente de primeira grandeza foi conquistada com um punhado de gravações memoráveis e eletrizantes performances ao vivo. A de superastro, através de seus programas de televisão – em que, com carisma e didatismo, desvendava os mistérios das sinfonias de Beethoven com a simplicidade de um cozinheiro ensinando uma receita de omelete – e de seu tino para aparecer nas manchetes dos jornais. Esse tino o levou a tocar a Nona Sinfonia, de Beethoven, no Muro de Berlim, em 1989, alterando a letra original – a Ode à Alegria virou Ode à Liberdade, numa gravação que chegou às lojas brasileiras em novembro – e a varar uma noite sambando no baile Gala Gay durante uma visita ao Rio de Janeiro, em 1985. Foi inspirado no comportamento de Bernstein que o escritor americano Tom Wolfe cunhou a expressão “radical chique”.

Como compositor, Bernstein deixa uma obra de grande apelo popular, West Side Story (Amor, Sublime Amor, na versão brasileira), musical da Broadway de grande sucesso no qual se encontram melodias inspiradas, como a famosa Tonight Tonight. Que o compositor achava que esse musical tinha a categoria de uma ópera atesta-se por sua decisão de gravar a peça há poucos anos com um elenco de cantores líricos de primeira grandeza – José Carreras, Kiri Te Kanawa e Marilyn Horne – sob sua regência. Outras composições de Bernstein, como sua Missa e suas sinfonias, bem menos conhecidas, são obras de extrema erudição, que só a posteridade julgará.

Como regente, Bernstein é uma das figuras supremas das três últimas décadas, capaz não apenas de arquitetar uma formidável concepção para cada obra que dirigia mas também de transmitir contagiante entusiasmo às orquestras. Ao contrário de Herbert von Karajan, tão exigente nos ensaios quanto discreto no pódio, Bernstein extravasava toda sua emoção nos espetáculos ao vivo, gesticulando e pulando com entusiasmo juvenil. Esse entusiasmo em cena, que levava o público ao paroxismo, foi sua marca registrada desde a estreia, em novembro de 1943, quando substituiu, à frente da Filarmônica de Nova York, o legendário maestro alemão Bruno Walter, acamado em virtude de uma gripe. Bernstein, aos 25 anos, assombrou o público e a crítica, decolando para uma carreira ao longo da qual foi titular da Filarmônica de Nova York durante onze anos e regeu as maiores orquestras do mundo.

PITÁGORAS – Por isso mesmo, Bernstein fez questão de deixar seu legado discográfico baseado em gravações de espetáculos ao vivo. Esse legado inclui uma estupenda série das nove sinfonias de Beethoven com a Filarmônica de Viena, as quatro sinfonias de Brahms (as pares muito melhores que as ímpares), interpretações inigualáveis das sinfonias de Mahler, uma respeitável gravação integral de Tristão e Isolda, uma bela interpretação da sinfonia Júpiter, de Mozart, uma gravação clássica do Cavaleiro da Rosa, de Richard Strauss, mais uma bela leitura do Fastaff, de Verdi. Em quantidade, o legado não se compara ao de Von Karajan e de Karl Böhm. Mas, em qualidade, é do mesmo padrão e com lances raros de originalidade. Basta ouvir sua gravação da Quinta Sinfonia, de Beethoven, diferente do padrão convencional, mas de extraordinária beleza.

As preferências do Bernstein musicólogo se revelam gradualmente emm seu extraordinário livro The Unanswered Question (A Pergunta Não Respondida), em que se condensa um ciclo de conferências suas na Universidade de Harvard. Trata-se de um passeio pela história da harmonia guiado pela suprema inteligência de um musicólogo eminente. No livro, Bernstein toma como ponto de partida as relações entre matemática e música desenvolvidas por Pitágoras na Antiguidade para explicar a origem das consonâncias e dissonâncias. Com base nesse referencial, analisa obras-chave da música tonal até chegar ao revolucionário Tristão e Isolda, de Wagner, a partir do qual, segundo ele, a harmonia se bifurca entre oserialismo de Schoenberg e o politonalismo de Stravinsky. Bernstein posiciona-se decididamente ao lado de Stravinsky, considerando a música atonal, pela sua dissociação com as relações pitagóricas, capaz apenas de exprimir estados de esquizofrenia. A morte de Leonard Bernstein, dia 14 de outubro de 1990, de insuficiência respiratória causada por enfisema pulmonar – o maestro fumava cerca de três maços de cigarro por dia – agravada por um tumor pleural, deixa um imenso vácuo no mundo da música.

(Fonte: Veja, 24 de outubro, 1990 – Edição nº 000 – MEMÓRIA/ Por Mário Henrique Simonsen – Pág; 85)

Powered by Rock Convert
Share.