Florestan Fernandes, intelectual, considerado um dos principais sociólogos do Brasil, o autor é celebrado em uma série de clássicos

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Florestan Fernandes, sociólogo que inspira acadêmicos

 

 

Florestan Fernandes (1920-1995) intelectual, considerado um dos principais sociólogos do Brasil, o autor é celebrado em uma série de clássicos.

 

Quem foi Florestan.

 

Filho de empregada doméstica, Florestan nunca conheceu o pai. Viveu em cortiços no bairro de imigrantes italianos do Bixiga, e começou a trabalhar aos 6 anos de idade como engraxate. Depois, ainda foi garçom. Em 1941, ingressou no curso de Ciências Sociais da USP, onde também fez mestrado e doutorado, investigando os indígenas Tupinambá. Em 1945, iniciou sua carreira como professor assistente na disciplina Sociologia 2. “Florestan foi intelectual e militante. As duas esferas nunca estiveram totalmente separadas na sua trajetória”, diz o jornalista Haroldo Ceravolo Sereza, 46, autor da biografia “Florestan: a inteligência militante” (2005). Entre a universidade e a militância no Partido Socialista Revolucionário, por exemplo, o sociólogo traduziu livros de Karl Marx na década de 1940.

Nos anos 1950, participou do famoso Projeto Unesco, que patrocinou diversos estudos sobre relações raciais no Brasil. Nos anos seguintes, engajou-se na defesa da escola pública, tornando-se alvo da ditadura militar. Foi preso após o Golpe de 64 e, em 1968, obrigado a se aposentar e se exilar no Canadá e Estados Unidos, com o AI-5. Voltou de vez ao Brasil em 1978, acolhido pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Nos anos 1980, o acadêmico acompanhou de perto a formação do Partido dos Trabalhadores e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. Deputado federal entre 1987 e 1995, atuou na Assembleia Constituinte (1987-1988), especialmente dedicado à defesa da educação pública, na época já advogando por ações afirmativas nas universidades, que só seriam implementadas anos depois.

 

O que fez Florestan.

 

Autor de mais de 50 livros, entre eles “Fundamentos empíricos da explicação sociológica” (1959) e “O que é revolução?” (1981), inaugurou uma tradição teórica na sociologia, observando a realidade brasileira “a partir de baixo”, isto é, a partir da perspectiva do oprimido (e não do opressor). “É uma tradição rigorosa e científica e, ao mesmo tempo, crítica e antielitista”, define o sociólogo Jessé Souza, 60, autor dos best-sellers “A classe média no espelho” (2018), “A elite do atraso” (2017) e “A ralé brasileira” (2009). “Florestan defendia uma unidade de sociologia com contribuições teóricas de diversos autores e abordagens. É um arrojado arcabouço teórico, em que o fundamento empírico é essencial, pois implica investigar de verdade, ir a campo, ouvir o que campo, favela ou periferia têm a dizer, por exemplo”, acrescenta o sociólogo Matheus Gato de Jesus, 36, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

 

“A figura de Florestan é forte nas novas gerações mais como modelo de intelectual comprometido com a transformação social do país”, pondera a socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda, 70, atual diretora da FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo). “Isso porque, afinal, as questões levantadas pelo autor continuam atuais, como democracia, desigualdade e relações raciais na sociedade brasileira”, exemplifica.

 

O sociólogo semeou “saber e esperança, conhecimento e dever para com o destino de todos”, definiu o sociólogo José de Souza Martins, em carta de 1994 endereçada ao acadêmico, que foi seu mestre. Semeou, sim, e floresceu, inspirando intelectuais até hoje, de professores eméritos como Martins e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a jovens articulados fora das universidades — além de biblioteca, Florestan dá nome a assentamento rural em Florestópolis, instituto em Fortaleza, fundação em Diadema, escola estadual em Perus, na capital paulista, entre outros.

 

O que faz Florestan.

 

Ouvir o outro, construir pontes e compartilhar conhecimento são lições que floresceram. E, como dizia o próprio Florestan, contra as ideias da força, deve prevalecer a força das ideias.

 

No dia 10 de agosto de 1995 – Morre Florestan Fernandes, sociólogo brasileiro.

(Fonte: Correio do Povo – ANO 114 – Nº 314 – Geral – Cronologia/ Por RENATO BOHUSCH – 10 de agosto de 2009 – Pág; 20)

(Fonte: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/07/22 – TAB / NOTÍCIAS / Juliana Sayuri Colaboração para o TAB, de Toyohashi (Japão) – 22/07/2020)

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Florestan: em busca do socialismo puro

A fidelidade a si mesmo é, sem dúvida, uma das razões do fascínio exercido pela figura humana de Florestan Fernandes. Há várias décadas o veterano sociólogo procura apaixonadamente uma síntese da militância socialista com a objetividade do trabalho científico – tentando, desde os anos 40, acolher as contribuições de Marx e Engels às ciências sociais sem impugnar outros métodos e outras teorias.

“Poder e Contrapoder na América Latina” se compõe, basicamente, de três ensaios: um sobre o fascismo em nossas plagas (1971), outro sobre os movimentos guerrilheiros (escrito em 1971 e reelaborado em 1977) e um terceiro a respeito das “revoluções interrompidas” nesta parte do mundo em que vivemos. Segundo o livro, a América Latina é um terreno particularmente fértil para novas modalidades de fascismo, difusas e fluidas. O único caminho para a genuína revolução democrática entre nós – afirma o sociólogo – “seria o oferecido pelo socialismo puro e convicto”, longe da ilusão liberal de uma democratização em módicas e suaves prestações. O que, combatividade à parte, pode encerrar um adiamento da solução de todos os problemas para quando o socialismo chegar.

(Fonte: Revista Veja, 2 de setembro de 1981 – Edição 678 – Livros / Por LEANDRO KONDER – “Poder e Contrapoder na América Latina”, Florestan Fernandes – Pág: 97)

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