Eugène Boudin, paisagista a quem o poeta Baudelaire chamava de pintor das maravilhas meteorológicas

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Eugène Boudin (Honfleur,12 de julho de 1824 – Deauville, 8 de agosto de 1898), paisagista francês, um dos mais notáveis pintores precursores do Impressionismo. Foi um pintor de singelas porém esplêndidas paisagens, hoje um nome perdido em meio à grandiloquência da pintura francesa do século XIX. A história da arte costuma ser cruel com os artistas que não têm grifes como Da Vinci, Picasso ou Van Gogh, relegando ao esquecimento os desbravadores que abriram caminho para que os grandes gênios pudessem brilhar. Moldureiro de índole mansa, nascido no Porto de Honfleur na costa da Normandia, Boudin foi uma espécie de Moisés caipira do movimento Impressionista. Deu passos decisivos em direção à vanguarda, mas não chegou a pisar na terra prometida da revolução tramada pela turma de Édouard Manet, Edgard Degas e Claude Monet, este último, seu aluno, e a quem o poeta Baudelaire chamava de pintor das “maravilhas meteorológicas”.

O ponto alto de sua obra, são as marinhas que Boudin produziu nos anos 80 do século XIX, época em que o pintor esteve prestes a fundir a fluidez do céu e do mar com a concretude das praias e das pessoas que as frequentavam. Ficou no meio do caminho de uma revolução. Não chegou a desintegrar a realidade num mundo de luzes e cores, como fizeram os impressionistas. O quadro Praia de Deauville (1893), por exemplo, é uma pequena joia. Nessa obra, o mar e a montanha foram concebidas como uma mesma faixa estreita de cor esverdeada. Quem vê a tela de relance imagina que o pintor quer apenas narrar uma cena cotidiana, espalhando no espaço um bando de carroceiros, barcos e vela e pessoas na areia. Nada disso. Todos esses personagens não passam de coadjuvantes de um espetáculo muito mais grandioso. A pretexto de pintar gente e coisas, Boudin canta a opulência do céu de sua terra natal, em que um azul-profundo se vê condecorado por uma gama de nuvens que vão do branco ao chumbo.

AO AR LIVRE -– Boudin só pôde criar com tamanha inspiração e naturalidade porque não temeu inovar em seu método de pintura. Eis aí uma das marcas de sua “modernidade”. Sem jamais ter assinado um manifesto contra arte acadêmica, o pacato moldureiro nascido em julho de 1824, no Porto de Honfleur foi um subversivo. Num tempo em que os pintores trabalhavam apenas na penumbra de seus ateliês, preocupados com regras e proporções, Boudin saía com o cavalete nas costas para pintar ao ar livre. Nos portos, praias e bosques que trilhou, sempre buscava as, “belezas simples da natureza em toda a sua variedade e frescor”.

Despretensioso, depois de, no início da carreira, passar três anos estudando pintura em Paris, ele preferiu continuar pintando suas marinhas e paisagens a estudar as regras acadêmicas sobre retratos e naturezas-mortas, as vedetes da arte oficial de então. Agora apaixonado pelo ofício dos pincéis, Boudin começou a viajar pela França e também por outras terras, como Holanda e Bélgica. Já vivendo da pintura, ele não se furtou a ser um artista comercial de temas pitorescos. Produziu quadros graciosos bem ao gosto da burguesia, como moinhos de vento ou vaquinhas no gramado. Costumava vender seus trabalhos por algumas dezenas de francos.

Outra faceta inovadora do artista, também representada na exposição, é o Boudin desenhista, que produziu esboços inspirados feitos a lápis ou com pinceladas precisas sobre papel. Inteiramente à vontade nesses trabalhos, que ao final da carreira doou ao Louvre, Boudin usou vários modelos e temas. Criou mercados de peixe, cenas de barqueiros no meio do oceano e até comportados grupos de famílias fazendo piquenique no litoral. Com seu talento, garantiu a esse lote de esboços, até então vistos como rascunhos, o status merecido de obra acabada.

Ao final de sua vida, amigo dos medalhões da arte francesa, como o paisagista Camille Corot e o poeta Émile Zola, Boudin tornou-se enfim uma grife da pintura, tendo sido reconhecido com a Legião de Honra, a maior condecoração de seu país. No século XX, acabou caindo no esquecimento. Promovida pela União Latina, uma instituição cultural sediada em Paris, fazem parte de um movimento de curadores franceses dispostos a ressuscitar o prestígio de Bourdin.

(Fonte: Veja, 19 de junho de 1996 -– ANO 29 -– N° 25 – Edição 1449 -– ARTE/ Por Ângela Pimenta – Pág; 146/147)

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