Ernesto Frederico Scheffel, um dos mais importantes artistas plásticos gaúchos

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Artista plástico Ernesto Frederico Scheffel

Artista plástico Ernesto Frederico Scheffel (Foto: Um Cultural / Divulgação / CP)

Artista plástico Ernesto Frederico Scheffel (Foto: Um Cultural / Divulgação / CP)

Ernesto Frederico Scheffel (Campo Bom, 8 de outubro de 1927 – Porto Alegre, 16 de julho de 2015), foi um dos mais importantes artistas plásticos gaúchos. 

Natural de Campo Bom, Scheffel se mudou para Novo Hamburgo quando era adolescente, onde iniciou os estudos das artes plásticas. A cidade, onde ele tinha residência, abriga a Fundação Ernesto Frederico Scheffel, criada como uma pinacoteca para os trabalhos do artista e que foi tombada como patrimônio nacional em maio de 2015. 

Ernesto Frederico Scheffel foi movido por grandes sonhos. Os primeiros eram daqueles quase impossíveis para um guri nascido em Campo Bom, em outubro de 1927, filho de um descendente de imigrantes alemães que sustentava a família como sapateiro e barbeiro. Ele queria ser artista. E não só: ser artista no berço do Renascimento.

Como muitos aprendizes, Scheffel começou praticando cópias dos clássicos, na tentativa de decifrar suas técnicas e códigos. Deu forma assim a uma produção de grande afinidade com a arte antiga. Fez desenhos, esculturas, mas principalmente pinturas de temas e gêneros figurativos, em técnicas como afresco e óleo. Nunca se concentrou em uma escola ou movimento. Ao contrário, transitou por diversas correntes, plasmando em sua obra influências diversas, como barroco, romantismo, realismo e simbolismo. Essas referências, ao mesmo tempo em que lhe conferiram um caráter passadista, também o mantiveram afastado das vanguardas, grupos e manifestos artísticos que agitaram a primeira metade do século 20, no Brasil e no mundo. 

Tal trajetória ajuda a explicar o relativo afastamento que manteve do ambiente das artes gaúchas no período protagonizado por seus pares de geração como Iberê Camargo, Carlos Scliar, Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Vasco Prado. Talvez por isso, Scheffel também não tenha desfrutado em sua terra do reconhecimento e do prestígio de seus contemporâneos.

No livro de memórias Scheffel por Ele Mesmo (2013), o artista lembra que seu primeiro contato com a arte se deu em 1935, quando visitou Porto Alegre com os pais nas comemorações do centenário da Revolução Farroupilha. Em uma exposição que integrava os festejos, o guri de oitos anos que vivia em Hamburgo Velho, o bairro histórico da colonização alemã em Novo Hamburgo, impactou-se ao ver as paisagens pintadas por Pedro Weingartner.

O que aconteceu depois é digno de um roteiro de cinema. Um desenho do garoto Scheffel chegou aos olhos de Cordeiro de Farias, interventor do Estado (equivalente a governador) entre 1938 e 1943. Encantado com o talento precoce, o político decidiu encaminhá-lo. Scheffel se mudou para Porto Alegre e começou a estudar no Instituto de Belas Artes (hoje Instituto de Artes da UFRGS) e no Instituto Parobé. Teve como professores João Fahrion, Angelo Guido, Fernando Corona, José Lutzenberger, João Cândido Canal e Bento Castañeda, entre outros.

Nesse aprendizado, foi atrás de um novo sonho: decidiu conhecer Osvaldo Teixeira, então diretor da Escola Nacional de Belas Artes. Agraciado com uma bolsa do Estado do RS, mudou-se para o Rio de Janeiro e logo começou a participar de salões de arte pelo país. Em 1958, ganhou um prêmio-viagem que o levou à Europa. Tão logo conseguiu se estabelecer, radicou-se na sonhada Florença, onde viveria as quase cinco décadas seguintes.

Nos anos 1970, Scheffel começou a passar temporadas maiores no Brasil. Foi quando ele reencontrou o antigo casarão de Hamburgo Velho onde havia estudado. Sensibilizado pelo estado precário da construção erguida em 1890, deu início a uma luta pela preservação da região. O imóvel foi desapropriado pela prefeitura e oferecido ao artista para acolher seu acervo. E assim nasceu a Fundação Scheffel, onde estão cerca de 400 obras que contam a história de Scheffel.

 

"Rixa Gaúcha", pintura com mais de quatro metros de largura (Foto: Anderson Fetter / Agencia RBS)

“Rixa Gaúcha”, pintura com mais de quatro metros de largura (Foto: Anderson Fetter / Agencia RBS)

 

O artista Ernesto Frederico Scheffel participou de salões de arte no país, e obras que realizou nos quase 50 anos em que viveu na Itália. São desenhos e esculturas, mas a maior parte são pinturas, com destaque para as de grandes proporções. É o caso de Rixa Gaúcha (acima), uma ode à cultura sulista com mais de quatro metros de largura por dois metros de altura para a qual o folclorista Paixão Côrtes serviu como modelo.

Aluno de professores como João Fahrion, Angelo Guido, Fernando Corona, José Lutzenberger, João Cândido Canal, Bento Castañeda (no Rio Grande do Sul) e Osvaldo Teixeira (no Rio de Janeiro).

Scheffel teve em Florença, na Itália, aulas com nomes como Antonio Berti. Desenvolveu uma pintura figurativa de grande afinidade com os mestres do passado, especialmente os renascentistas, dialogando ainda com correntes como barroco, romantismo, realismo e simbolismo. Com técnicas como afresco ou óleo, elaborou uma obra que, por seu viés passadista, ganhou o caráter atemporal dos clássicos.

O espaço Ernesto Frederico Scheffel abriga mais de 300 obras entre pinturas e esculturas de Scheffel. Solteiro e sem filhos, o artista também viajava constantemente para a Itália, onde nos anos 70 e 80, viajou para estudar e acabou criando uma série de obras com as paisagens do país, trabalhos que foram comprados e estão dispostos em espaços públicos de cidades como Florença e Toscana. 

Essa coleção apresenta seus primeiros trabalhos de formação, passando pelas pinturas com que participou de salões de arte no país, até as obras que realizou na Itália. Há desenhos e esculturas, mas a maior parte são pinturas, com destaque para as de grandes proporções, como Rixa Gaúcha, uma ode à cultura sulista com mais de quatro metros de largura por dois metros de altura para a qual o folclorista Paixão Côrtes serviu como modelo.

Em 2015, Hamburgo Velho foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), garantindo a preservação do casario. Foi o ponto final de uma conquista iniciada em 1985 com o tombamento da casa mais antiga da região, de 1831, que abriga o Museu Comunitário Casa Schmitt-Presser. E, assim, Scheffel testemunhou em vida a concretização de um de seus últimos grandes sonhos.

Ernesto Frederico Scheffel morreu em 15 de julho de 2015, aos 87 anos, em Novo Hamburgo. Desde janeiro, ele lutava contra um câncer no duodeno.

(Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/561882 – Arte & Agenda – Variedades – Gente – 16/07/2015)

(Fonte: Zero Hora – ANO 52 – Nº 18.172 – NOTÍCIAS/ Por Por: Francisco Dalcol – 16/07/2015)

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