Eduardo Frei, engenheiro, político e presidente do Chile de 1964 a 1970.

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Eduardo Frei (Santiago do Chile, 16 de janeiro de 1911 – Santiago do Chile, 22 de janeiro de 1982), engenheiro, político e presidente do Chile de 1964 a 1970. No dia 22 de janeiro de 1982, em Santiago do Chile, cidade onde nasceu no dia 24 de junho de 1942, as estações de rádio acabavam de interromper sua programação de rotina para transmitir apenas música suave ou divulgar ao público a notícia que abalaria o Chile: o ex-presidente Eduardo Frei, o último governante eleito pelo povo a terminar normalmente seu mandato, em 1970, acabara de morrer.

Desaparecia, com o democrata-cristão Frei, o líder político de maior prestígio no Chile e a voz mais influente e poderosa da oposição ao regime militar do general Augusto Pinochet. Não só isso. Desvanecia-se também a única alternativa civil teoricamente viável, até onde a vista alcançava, para a improvável hipótese de o governo desabar, os militares voltarem aos quartéis e ser constituído, no Chile, um governo provisório de união nacional, como sonham as oposições.

Com Frei, da mesma forma, ia-se um pedaço considerável da história do Chile e o estadista que encarnou, na América Latina, a esperança de ser possível a “revolução com liberdade” que ele imaginou para o seu país e foi o lema de seu controvertido e pioneiro período de governo, de 1964 a 1970 – um processo de mudança que alterasse a face da sociedade fundamente e sem violência, conduzido por dirigentes eleitos pelo povo e com integral respeito aos direitos e garantias individuais. Foi o segundo presidente eleito após saída de Augusto Pinochet do poder. Suas ideias e sua gestão foram suficientes para lançar seu nome para fora das fronteiras do Chile.

COMPLICAÇÕES – Como presidente, Frei não conseguiu atingir os ambiciosos objetivos que pregava. As conquistas de seu período – como a reforma agrária, o início da “chilenização” do cobre, a principal riqueza nacional, e uma distribuição de rendaque contemplou mais generosamente as classes menos favorecidas – acabaram comprometidas por graves dificuldades econômicas nos anos finais de seu mandato. Frei, além do mais, não formou uma base política suficientemente forte para eleger seu sucessor em 1970, e assim abriu caminho para o caótico período do presidente Salvador Allende e o trágico golpe militar que o depôs, em 1973.

Sua popularidade, porém, continuava grande – e disso era um exemplo a grande multidão que lotou a catedral de Santiago na noite de 22 de janeiro, derramando-se pela fronteiriça Plaza de Armas, para assistir a missa em memória do ex-presidente oficiada pelo cardeal primaz Raúl Silva Henríquez, amigo de infância de Frei. “Os trabalhadores chilenos perderam um guia, um pai, um irmão”, lamentava-se o combativo líder sindical Ernesto Vogel, um duro adversário do ex-presidente Allende, e como dirigente da semiclandestina União Democrática dos Trabalhadores, alvo constante de represálias do regime. “O Chile perde um homem fundamental para traçar seu futuro num difícil momento de sua história”, disse um comunicado assinado pelos principais dirigentes do Partido Democrata Cristão.

Em vida, as relações de Frei com a ditadura militar conheceram fases distintas. Logo após o golpe de 1973, Frei, que se opusera crescentemente ao governo Allende de seu posto como presidente do Senado, acabou concedendo um relutante beneplácito ao putsch, que considerou “inevitável”. Advertiu, porém, que “novos ódios não deveriam substituir os velhos ódios”. Após um período de relativo recolhimento a suas atividades como advogado, ele passou a uma oposição ativa, falando em favor de presos políticos, exigindo notícias sobre desaparecidos e denunciando como uma “farsa lamentável” o plebiscito de 1980, com o qual Pinochet fez aprovar uma Constituição e obteve um mandato como presidente até 1989.

Na verdade, o ex-presidente talvez tenha cometido um grave erro de cálculo em relação ao golpe, apesar de sua vasta experiência política iniciada na década de 30 – quando participou da fundação da Falange Nacional, embrião do futuro Partido Democrata Cristão – e que incluiu um cargo de ministro, outro de embaixador na ONU e três mandatos de senador. Frei não fezx o que podia para evitar o golpe, considerou seguro de que os militares fariam uma intervenção breve na vida política e convocariam em seguida eleições que o beneficiariam. De todo modo, quando ficou claro que isso não iria ocorrer, Frei acabou tendo um importante papel aglutinador, como um dos raros políticos de peso do Chile que permaneceram no país depois do golpe.

VAZIO – No limbo político, Frei procurou algum espaço também na cena internacional. Viajava, fazia conferências, foi um dos integrantes da Comissão Brandt para estudar as relações Norte-Sul e deveria ser o próximo presidente da União Mundial Democrata Cristã. Pôde, então, ampliar sua já enorme rede de contatos, que no Brasil tinha no topo da lista o senador Franco Montoro – ele, que visitou o Brasil como presidente em 1967, sendo recebido pelo então presidente Costa e Silva, esteve no país pela última vez em 1980. Ciceroneado por Montoro, recomendou prudência à oposição.

No Chile, apesar de todo o seu prestígio, Frei morreu sendo apenas uma sombra incômoda a Pinochet, e não uma ameaça à sobrevivência do regime. Depois de êxitos consideráveis no combate à inflação e na manutenção do crescimento econômico, ainda que a um custo social consideravelmente alto, é verdade que o governo passa por um período de dificuldades. O produto interno bruto, que cresceu até 1980 a uma média de 8% ao ano, recuou para 4% em 1981. No plano político, tudo continua fechado: as organizações de defesa dos direitos humanos locais afirmam que 600 pessoas foram presas por razões políticas em 1981, os partidos ainda são banidos não existe liberdade de imprensa. Não há sinais de fissura à vista na rígida estrutura montada por Pinochet – mesmo porque não há uma alternativa civil ao regime militar, uma situação de vazio que já existia com Frei e que, sem ele, se acentuará ainda mais. E não é por acaso que a seus funerais, ocorreu com uma vistosa coleção de líderes estrangeiros, capitaneados pelo ex-primeiro-ministro alemão Willy Brandt e com representantes especiais de vários chefes de Estado e diversos ex-presidentes latino-americanos. Frei morreu aos 71 anos, em Santiago do Chile, dia 22 de janeiro de 1982.

 

(Fonte: Veja, 27 de janeiro, 1982 -– Edição 699 -– Datas –- Pág; 107 – Internacional/ Pág; 32/32 e 34)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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