Dyonélio Machado, ex-militante sindicalista e deputado estadual eleito pelo Partido Comunista de 45

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Dyonélio: de militante a escritor

Um velho artesão que esperou quase meio século pela fama

Dyonélio Machado (Quaraí, 21 de agosto de 1895 – Porto Alegre, 19 de junho de 1985), escritor gaúcho e meio século de atividade literária, autor de “Desolação”, um romance publicado na década de 40, além de outros três volumes de uma trilogia, iniciada com “Deuses Econômicos”, editado em 1966, seguido do segundo volume, “Sol Subterrâneo” e o terceiro, “Prodígios”.

O autor de “Os Ratos”, outros oito romances e dois ensaios políticos, nascido em Quaraí, fronteira do Uruguai, médico psiquiatra por cinquenta anos em Porto Alegre, ex-militante sindicalista e deputado estadual eleito pelo Partido Comunista de 1945. E a maior delas parece ter sido o silêncio que envolveu a atividade literária deste gaúcho áspero e de pouca conversa, cujo romance “O Louco do Cati”, de 1942, foi celebrado por Guimarães Rosa como “um dos maiores romances brasileiros.”

SEMPRE CONTROVERTIDO – Encarcerado no porão de um navio, em trânsito entre prisões gaúchas e cariocas, Dyonélio soube pelo jornal A Tribuna, de Santos – onde ancorava o navio -, que seu segundo livro, “Os Ratos”, de 1934, ganhara o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Tinha então 40 anos e fora preso em 1935 por agitar uma greve de gráficos em Porto Alegre.

Desse tempo de agitação política que o carregou para a cadeia por dois longos anos, Dyonélio não quis lembrar nada: “Basta de política, precisamos de literatura. Política se faz no comício, no comitê, e não na literatura.”

Também não gostava de falar dos tempos em que atendia dezenas de pessoas em um divã. Há mais de vinte anos vinha dizendo que a literatura brasileira estava morta, e mesmo sobre seus livros preferia um ríspido “tratem de lê-lo” àquela doce autopublicidade a que já conquitou direito.

Talvez por isso ele foi aquela figura controvertida, de poucos amigos, que manteve até o fim uma inimizade silenciosa e dura com outro gaúcho, o escritor Érico Veríssimo. Dyonélio esteve distante do aplauso unânime, talvez pela mesma e generalizada desinformação que o manteve marginalizado da crítica e do público até os anos 70, mesmo entre seus conterrâneos.

Foi um excelente escritor, embora por vários motivos – nos quais podemos incluir perseguições políticas -, tenha sido pouco editado, para quem Dyonélio é das melhores safras que o Rio Grande do Sul produziu. Contrariando a celebridade de Dyonélio, o crítico gaúcho Moysés Vellinho, costumava dizer: “O Louco do Cati” é um romance que não tem forma, não tem conteúdo, não tem qualquer propósito acessível à percepção comum.

EPOPÉIA E AMOR – Quanto a “Prodigios”, vale mais pelo conteúdo que pela forma, sem o acabamento que caracteriza iutras obras como “Os Ratos”, “O Louco do Cati” e o menos conhecido “Passos Perdidos”, de 1945. O romance é o epílogo de uma trilogia organizada como um tragédia clássica: em “Deuses Econômicos” há o momento de ação, em “Sol Subterrâneo”, o da cartarse e, neste, o alívio e a acomodação dos personagens “Evandro”, “Lúcio Sílvio” e “Ascalon”, três pensadores doImpério Romano que combatem o poder, purgam anos encarcerados e finalmente tentam reorganizar suas vidas em liberdade.

Mas, apesar do portentoso trabalho de reconstituição, a ação de “Prodigios” se centra no amor do filósofo Evandro, um gréculo (pejorativo para os gregos no Império Romano), pela jovem patrícia “Briseis” – um amor muito delicado, pois o par já se apaixonara antes de conhecer-se.

Foi em torno da reacomodação das vidas privadas de seus personagens épicos que Dyonélio construiu uma oportuna alegoria de uma situação humana que atravessa os séculos: na impossibilidade de transformação social, o antigo militante busca sua verdade em algo mais simples e tão universal quanto uma causa – o amor.

(Fonte: Veja, 3 de setembro de 1980 – Edição 626 – LIVROS – Pág; 89)
(Fonte: Zero Hora – ANO 44 – N° 15.333 – Túnel do Tempo – Almanaque Gaúcho/ Por Olyr Zavaschi – 21 de agosto de 2007 – Pág; 46)

 

 

Morre o escritor Dyonélio Machado

Após uma cirurgia no fêmur, o escritor Dyonélio Machado teve complicações respiratórias e morreu, em 19 de junho de 1985, no Hospital de Clínicas, na Capital.

Autor do clássico Os Ratos, ele também foi deputado estadual pelo Partido Comunista e jornalista.

(Fonte: Zero Hora – ANO 52 – N° 18.147 – HÁ 30 ANOS EM ZH – 20 de junho de 1985/2015 – Pág: 44)

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