Dina Vierny, ex-modelo de artistas, colecionadora de artes e diretora do museu Maillol

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Dina Vierny (25 de janeiro de 1919 – Paris, 20 de janeiro 2009), ex-modelo de artistas, colecionadora de artes e diretora do Museu Maillol

Dina morreu no dia 20 de janeiro em Paris a menos de uma semana de completar noventa anos, além de ter passado mais de metade da vida em atividades ligadas, por um lado, à Fundação Dina Vierny-Museu Maillol, fundada em 1995, a cujo projeto se dedicara de alma e coração e, por outro lado, a empreendimentos de coleção, promoção e divulgação artística em que se empenhara (entre as suas coleções, havia 90 caleches numa das quais Toulouse-Lautrec levava a casa companheiros de pândega e outra que Chateaubriand usara quando era embaixador em Roma, e 624 bonecas que vendera quando angariava o dinheiro preciso para estabelecer o museu), era uma mulher ainda bela que no seu apartamento parisiense por cima do museu impressionava visitantes pela vivacidade de espírito e lhes fazia perceber imediatamente porque é que Aristide Maillol (1861-1944), glória da escultura francesa, quando a conhecera aos 73 anos – tinha ela 15 – a quisera imediatamente para seu modelo e como tal a guardara até morrer, dez anos depois, num desastre de automóvel.

Maillol ouvira falar dela a um amigo dos pais, escrevera-lhe pedindo que ela o viesse ver e dizia que fora como se as suas esculturas tivessem magicamente ganho vida. Desde esse dia só Dina posou para ele, durante anos vestida, pois – contava ela – Maillol era tão tímido que não ousava pedir-lhe que se despisse e fora ela quem por fim se oferecera para posar nua. (Não lhe fazia confusão pois, menina muito do seu tempo, tinha aderido a um clube nudista). O pudor de Maillol não vinha apenas da semelhança quase sobrenatural do seu novo modelo às figurações de mulheres na sua obra anterior (ou de mulher, porque parecia sempre a mesma) e menos ainda da idade da rapariga.

Dina era o seu primeiro modelo vindo da classe média, cujos pais conhecia e com quem tratava socialmente de igual para igual, e isso era novidade para a qual não havia código de maneiras – tanto mais que a pequena nem sequer sua amante se tornara (nem tornaria). Na idade de ouro das artes plásticas francesas, dos precursores do Impressionismo até aos anos cinquenta do século XX, os modelos dos mestres vinham do povo tosco e analfabeto, o mesmo povo que dava os cadáveres de vala comum em que os cirurgiões de nomeada preparavam a mão para os corpos dos vivos.

Dina era bem paga, posava três horas por dia, muitas vezes de pé e Maillol construíra-lhe uma estante de leitura onde ela punha os livros para estudar durante as poses. O fascínio de ter encontrado a Musa nunca deixou o escultor: quem for ao jardim das Tulherias em Paris, encontrará dezoito estátuas de mulher de Maillol, serenas, fortes e elegantes nas suas formas arredondadas, firmadas no chão por tornozelos grossos, que são dezoito retratos em bronze de Dina Vierny (e em grande: Dina media metro e meio). O artista deixara-lhas; anos depois ela oferecera-as ao Estado francês; não se sabe se foi ideia sua se de André Malraux, então ministro da cultura, pô-las naquele jardim onde ficam magníficas.

Os pais de Dina eram músicos judeus da Bessarábia (hoje Moldávia), fugidos ao mando de Estaline. Quando os alemães ocuparam Paris o seu modelo ficou em perigo e Maillol levou-a com a mulher e os filhos para a sua terra, Banyuls-sur-Mer, na fronteira pirenaica. Lá, Dina, que se dava com muitos intelectuais e artistas, fez parte de uma rede de passadores de refugiados políticos, levados por atalhos que Maillol lhe ensinou. A polícia francesa prendeu-a mas, por diligência do mestre, viria a ser solta. Mais tarde, em Paris, prendeu-a a Gestapo e só apelo de Maillol a Arno Breker, o escultor favorito de Hitler, a livrou do degredo.

Dina posara também para Dufy, Bonnard e Matisse que a aconselhou a abrir uma galeria de arte. Fê-lo depois da guerra e entre gente sua conhecida consagrada e nomes novos que o seu faro ia descobrindo – Poliakoff, por exemplo – ganhou por fim dinheiro para abrir em Paris um museu dedicado ao ‘patrão’ – como ela dizia.

 

(Fonte: http://expresso.sapo.pt/dina-vierny-1919-2009=f497509#ixzz36y1bDEKI –  – 18 de fevereiro de 2009)

 

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