Descobertas que propiciaram no século XX, aumento da longividade e a melhoria das condições de saúde

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A ciência do bem-estar

As descobertas que propiciaram, no século XX, o aumento da longividade e a melhoria das condições de saúde

LINHA DO TEMPO

1900 – O patologista austríaco Karl Landsteiner descobre os tipos sanguíneos A, B, AB, e O, tornando possíveis as transfusões de sangue.

1900 -– O livro A Interpretação dos Sonhos, do austríaco Sigmund Freud, marca o início da Psicanálise, uma teoria que explica a mente humana a partir da sexualidade e das experiências infantis.

Mergulho na alma
Nenhum cientista teve tanta influência sobre as ideias do século XX quanto o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939). Seu livro A Interpretação dos Sonhos, publicado em 1900, abriu as portas para o estudo do inconsciente. Segundo Freud, os conflitos psicológicos têm sua origem na infância, em experiências e emoções ligadas à sexualidade. Mais tarde, essas lembranças são reprimidas. Permanecem no inconsciente, inacessíveis ao pensamento racional, mas se manifestam nos sonhos e nos escorregões verbais. A partir dessas ideias, Freud sistematizou um método para o autoconhecimento e o tratamento das neuroses – a Psicanálise, sessões de terapia em que o paciente fala tudo o que lhe vem à cabeça, sem censura.

1902 – O primeiro hormônio é descoberto pelos fisiologistas ingleses William Bayliss e Ernest Starling. É a secretina, que estimula a produção de substância digestivas pelo pâncreas.

1903 – O médico espanhol Santiago Ramón y Cajal demonstra que as células nervosas se comunicam sem se tocar, enviando mensagens através de intervalos mais tarde chamados de sinapses.

Os tijolinhos da mente
Tudo o que acontece dentro do seu cérebro – do esforço para resolver uma questão de matemática até as ordens inconscientes para o seu coração continuar batendo – passa por uma intrincada rede de células, os neurônios. Um bebê já nasce com 14 bilhões deles, mas essa quantidade vai diminuindo com o tempo. Os cientistas do século XIX não sabiam nada disso, pois o neurônio só foi descoberto em 1903, pelo médico espanhol Santiago Ramón y Carral (1852-1934). A proeza começou a ser preparada em 1873, quando o anatomista italiano Camillo Golgi criou um método para tingir as fibras do cérebro com compostos de prata. Golgi detectou um tipo de célula nervosa que possuía pequenos braços – hoje chamados de dendritos e de axônios – que serviam para conectá-la a outras, iguais a ela. Trinta anos depois, Ramón y Cajal aperfeiçoou o sistema de tingimento de Golgi e comprovou que os neurônios são a unidade essencial do cérebro. E mais – descobriu que os neurônios nunca se tocam.
Como, então, os neurônios se comunicam? Ramón y Cajal sugeriu que eles enviam impulsos elétricos de um para outro. Errou por pouco. A comunicação se dá por meio de substâncias químicas chamadas neurotransmissores, que atravessam o pequeno intervalo entre os neurônios, as sinapses. Quem descobriu isso foi o farmacologista inglês Henry Dale (1875-1968). Em 1914, ele isolou o primeiro neurotransmissor, a acetilcolina, que aciona os movimentos dos músculos.

1903 – O fisiologista holandês Willem Einthoven (1860-1927) inventa um aparelho que registra as alterações da corrente elétrica que passa pelo coração. O eletrocardiograma é utilizado até hoje.

1903 – Espionando o coração – Entender as razões do coração já foi bem mais difícil do que hoje em dia. Quem facilitou essa tarefa foi o fisiologista holandês Willem Einthoven (1860-1927), ao inventar, em 1903, um aparelho capaz de medir a eletricidade envolvida nos batimentos cardíacos.
O eletrocardiograma é obtido com eletrodos instalados em várias partes do corpo, a fim de detectar a corrente elétrica que atravessa o coração toda vez que ele bate. Com o eletro se pode perceber doenças cardíacas antes que elas se tornem irreversíveis.

1905 – O russo Nikolai Korotkoff cria o primeiro aparelho para medir a pressão arterial.

TRANSPLANTES Com as novas técnicas de cirurgia, nenhum órgão é insubstituível – exceto, por enquanto, o cérebro.

Visão renovada
Você já viu algum anúncio pedindo doadores de córnea? Esse é um ato de generosidade que não custa nada, pois só se realiza depois da morte. Para quem recebe, é o único meio de recuperar a visão perfeita depois de uma doença ou lesão na membrana transparente que recobre a parte de fora do olho. Trata-se de uma das raras partes do corpo humano que podem ser transplantadas sem risco de rejeição, pois não tem um suprimento próprio de sangue. Por isso os anticorpos e as células do sistema imunológico, que circulam no sangue, não atingem o tecido recebido. Feita pela primeira vez em 1905 pelo oftalmologista austríaco Edward Zirm, a operação depende de doadores que autorizam a retirada da córnea. Há atualmente 25 000 brasileiros com doenças na córnea na fila de espera para fazer o transplante.

1906 – Além dos alimentos fundamentais, descobre-se que o ser humano precisa de substâncias complementares, mais tarde chamadas de vitaminas. O achado é do bioquímico inglês Frederick Hopkins.

DESAFIOS A Medicina ainda busca a cura de doenças terríveis como o câncer, a Aids e o mal de Alzheimer.
Inimigo MORTÍFERO

Mãos trêmulas, rosto inexpressivo
Das doenças associadas à velhice, o mal de Parkinson é uma das mais comuns. Diagnosticada pela primeira vez em 1817 pelo médico inglês James Parkinson (1755-1824), é causada pela destruição das células cerebrais que produzem a dopamina, neurotransmissor ligado aos movimentos do corpo. Os sintomas mais visíveis são o tremor nas mãos e a perda da expressão do rosto. Entre as vítimas ilustres está o americano Mohamad Ali, ex-campeão mundial de boxe na categoria dos pesos pesados.

Quando os músculos perdem a força
O americano Lou Gehrig (1903-1931), um famoso jogador de beisebol, ficou conhecido na Medicina por causa da doença do sistema nervoso que o matou aos 28 anos. A esclerose lateral amiotrópica, chamada desde então de mal de Lou Gehrig, provoca a atrofia dos músculos e costuma matar em até cinco anos. O brilhante físico inglês Stephen Hawking, é uma execeção. Sua doença está estgnada há mais de duas décadas.

1906 – Alois Alzheimer, um neurologista alemão, identifica um distúrbio que causa a deterioração progressiva do cérebro. A doença, leva o nome de seu descobridor.

Quartel-general ameaçado
A degeneração do cérebro e do sistema nervoso é um osso duro para a Medicina roer.
A memória que se apaga aos poucos
Durante a autópsia de um homem com distúrbios mentais graves, em 1906, o neurologista alemão Alois Alzheimer (1846-1915) percebeu uma anomalia no cérebro. Estava descoberto o mal de Alzheimer, uma doença que destrói os neurônios. Ela ataca os idosos e se agrava com o tempo, até a morte. O primeiro sintoma é a perda da memória. Vítima desse mal, o ex-presidente americano Ronald Reagan (1911-2004), se retirou da vida pública em 1995.

O câncer chega ao final do século 20 como o maior desafio da Medicina. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada ano ele atinge pelo menos 9 milhões de indivíduos e mata cerca de 5 milhões. Até o início do século, a única forma de combate-lo era a extirpação cirúrgica do tumor. A alternativa da radioterapia surgiu em 1906, quando o urologista americano Alfred Gray destruiu um tumor na bexiga de um paciente com uma aplicação de raio X. Mais tarde, ele é feita com um aparelho chamado acelerador linear, capaz de grande precisão ao apontar os raios para o tumor. A radioterapia tem a vantagem de atacar o câncer localmente, sem envolver outras áreas do corpo. A desvantagem é a destruição de células saudáveis junto com as cancerosas.

A quimioterapia anticâncer nasceu na Segunda Guerra Mundial, a partir das pesquisas sobre o efeito de uma das mais terríveis armas químicas, o gás mostarda. Os farmacologistas americanos Louis Goodman e Alfred Gilman descobriram que, aplicando pequenas quantidades desse gás em ratos com tumor nas células linfáticas, faziam o câncer desaparecer. Com algumas mudanças, a substância passou a ser utilizada para combater a mesma doença em seres humanos. Desde então, a quimioterapia progrediu muito, com medicamentos cada vez menos nocivos para os pacientes e mais agressivos para o câncer.

Na área da prevenção, o século 20 também contabiliza avanços. Em 1928, o patologista americano George Papanicolao criou um teste para detectar o câncer o aparelho genital feminino ainda a tempo de trata-lo com sucesso. Hoje já é possível prevenir muitos outros tipos de tumor. Alguns cuidados como largar o cigarro, também ajudam. A prova de que o cigarro causa câncer foi apresentado em 1939, pelo cientista e geneticista americano Franz Muller provou que o tabaco causa câncer de pulmão. Ele começou a desconfiar quando percebeu que a doença estava aumentando na proporção em que crescia a venda de cigarros nos Estados Unidos.

1907 – O som da comida
Por que um cachorro produz saliva quando vê um pedaço de carne? Porque isso está no seu código genético. Mas será possível impor um novo padrão sobre esse comportamento inato? O psicólogo russo Ivan Pavlov (1849-1936) provou que sim, ao descobrir, em 1907, o reflexo condicionado. Ele pegou um cachorro faminto e, toda vez que mostrava o alimento para ele, tocava um sino. Depois de repetir essas ações algumas vezes, tocou o sino sem mostrar a comida. O cachorro salivou. Ou seja, o animal associou o toque do sino ao almoço.

1910 – O médico alemão Paul Ehrlich usa um composto à base de arsênico para combater a sífilis. É o início da quimioterapia, que consiste no ataque seletivo a células doentes por meio de substâncias tóxicas.

1914 – A existência dos neurotransmissores, substâncias que tyransmitem mensagens químicas entre as células do sistema nervoso, é descoberta pelo fisiologista inglês Henry Dale.

REPRODUÇÃO – Você já pode evitar filhos, gera-los quando parece impossível e acompanhar a evolução do feto no útero

O primeiro retrato
Antes mesmo de nascer, um feto de 9 meses pode ter a imagem do seu rosto registrada por um aparelho de ultra-sonografia. O ultra-som é uma vibração sonora tão rápida que o ouvido humano não consegue captar. Os golfinhos o utilizam para caçar – o ultra-som, ao chocar-se com a presa, produz um eco que informa seu tamanho e sua localização. Os morcegos recorrem a ele para orientar o voo. Os seres humanos, incapazes de produzir sons em frequências tão altas por meios naturais, só conseguiram dominar o ultra-som em 1916. Foi durante a Primeira Guerra Mundial, com a invenção do sonar, aparelho de navegação que possibilita detectar embarcações inimigas e obstáculos como um iceberg. Adaptado para a Medicina, o ultra-som se mostrou capaz de produzir imagens do interior do corpo muito mais exatas do que o raio X, além de ser inofensivo, pois não contém radiação. Por isso, tornou-se um instrumento obrigatório dos obstetras, que o utilizam para examinar a oposição, o tamanho e possíveis anormalidades do feto no útero materno.

1917 – O psicólogo suíço Carl Jung lança o livro Psicologia do Inconsciente, que contradiz várias das ideias defendidas por Freud e inaugura uma nova tendência em psicoterapia.

1921 – A insulina do pâncreas é isolada pelos fisiologistas canadenses Frederick Banting e Charles Best. Em pouco tempo, a substância passaria a ser utilizada em larga escala para o tratamento da diabete.

ATÉ A DÉCADA DE 20, os portadores de diabete não tinham como suprir a falta da insulina, hormônio que regula a quantidade de açúcar no corpo. Os que tinham o tipo mais grave da doença morriam por não conseguir processar o açúcar existente na comida. Até que em 1921 os canadenses Frederick Banting (1891-1941) e Charles Best (1899-1978) isolaram a insulina em cães e a aplicaram em humanos, fazendo cessar o efeito da diabete. A insulina não pode ser ingerida pela boca, pois é destruída no estômago. A solução é aplicar injeções.

1923 – Os bacteriologistas franceses Albert Calmette e Camille Guérin desenvolvem a vacina BCG (Bacillus Calmette-Guérin), para combater a tuberculose.

1924 – O que você tem na cabeça?
Já que não adianta rachar o crânio ao meio para conferir o que está acontecendo lá dentro, os cientistas procuram outras portas de acesso à atividade cerebral. Uma das mais usadas é a eletroencefalografia, uma técnica que mapeia a atividade elétrica no cérebro por meio de eletrodos instalados na cabeça. Foi criada em 1924 pelo psiquiatra alemão Hans Berger (1873-1941) e ajuda a detectar distúrbios, como a epilepsia e os tumores, e deficiências, como a surdez.

1928 – Alexander Fleming, um bacteriologista escocês, descobre a penicilina, que daria origem ao primeiro antibiótico.

Se um cientista merece o título de maior sortudo do século 20, ele é sem dúvida o bacteriologista escocês Alexander Fleming (1881-1955), descobridor da penicilina. Em 1928, Fleming saiu de férias por duas semanas e deixou destampada, no laboratório, uma placa com uma colônia da bactéria que estava pesquisando, o estafilococo. Ao retornar, percebeu que um bolor havia se desenvolvido dentro da placa, provovando a morte de todas as bactérias. O tal bolor tinha sido provocado por um fungo raro, o penicilinum notatum, que o ar tinha trazido de um laboratório no andar superior. Normalmente os cientistas ficam muito aborrecidos com esse tipo de transtorno, mas Fleming teve uma intuição brilhante. “Em vez de jogar fora as culturas contaminadas, eu resolvi investigar o que tinha acontecido”, relatou mais tarde. Ele logo deduziu que o fungo liberava alguma substância que inibia o crescimento da bactéria. Batizou-a de penicilina e descobriu, por meio de testes, que ela era inofensiva aos animais e aos seres humanos, mas tinha um efeito letal sobre muitas das bactérias causadoras de infecções.

Porém Fleming não conseguiu isolar a penicilina em estado puro – condição indispensável para que ela pudesse ter uso terapêutico – e abandonou as pesquisas sobre o assunto em 1932. Seu trabalho ficou na obscuridade até que os patologistas britânicos Howard Florey (1898-1968) e Ernst Chaim (1906-1979), utilizando equipamentos melhores, conseguiram concentrar a penicilina em 1940. O novo medicamento – o primeiro e mais importante antibiótico – foi produzido a tempo de ser utilizado na assistência às vítimas da Segunda Guerra Mundial, que terminou em 1945. Naquele mesmo ano, Fleming, Chaim e Florey dividiram o Prêmio Nobel de Medicina.

1928 – A detecção precoce do câncer no aparelho reprodutor feminino se torna possível graças a um teste criado pelo médico americano George Papanicolao.

1928 – A vitamina C é identificada pelo bioquímico húngaro Albert Szent-Györgyi.

As vitaminas fazem falta
O escorbuto – doença que provoca a queda dos dentes, entre outros sintomas – aterrorizava os marinheiros das grandes navegações dos séculos XV e XVI, submetidos a uma dieta extremamente pobre. Mais tarde, em 1747, o médico inglês James Lind (1716-1794) notou que as frutas cítricas, como a laranja e o limão, conseguiam prevenir o mal. Mas só em 1928, quando o bioquímico húngaro Albert Szent-Giorgyi (1893-1986) revelou a estrutura da vitamina C, foi que a ciência conseguiu compreender os benefícios dessa substância. As vitaminas foram descobertas em 1906 pelo bioquímico inglês Frederick Hopkins (1861-1947). Em suas experiências com animais, ele percebeu que os nutrientes básicos – proteínas, gorduras e carboidratos – não são suficientes para manter a saúde do organismo. São necessários complementos.

1929 – O cirurgião alemão Werner Forssmann cria o cateterismo, um método de diagnóstico de problemas cardíacos pela introdução de um tubo nos vasos sanguíneos. Como teste, faz um cateterismo em si mesmo.

1930 – Engenheiros da empresa farmacêutica alemã Squibb inventam o microscópio eletrônico.

1935 – Os neurologistas portugueses António Moniz e Almeida Lima introduzem a lobotomia, remoção de partes do cérebro de doentes mentais. Hoje essa terapia não é mais usada.

1937 – É desenvolvida uma vacina contra a febre amarela. O microbiologista americano Max Theiler utiliza vírus atenuados, que não causam a doença, para provocar uma resposta do sistema imunológico.

1938 – O psiquiatra italiano Ugo Cerletti usa choques elétricos para amenizar distúrbios da mente – técnica que caiu em desuso a partir da década de 70.

1940 – A penecilina é purificada pelos patologistas ingleses Howard Florey e Ernst Chain, possibilitando a aplicação clínica do antibiótico descoberto por Fleming em 1928.

1940 – Com base em pesquisas com macacos rhesus, o médico austríaco Karl Landsteiner descobre o fator Rh no sangue, quarenta anos após ter descoberto os tipos sanguíneos.

1941 – O oftalmologista australiano Norman Gregg aponta a rubéola durante a gravidez como responsável por problemas como catarata e surdez em recém-nascidos.

1943 – O fisiologista alemão Willem Kolff desenvolve uma máquina artificial de diálise que pode assumir as funções dos rins em pacientes com deficiência no órgão.

1944 – O primeiro anti-histamínico, droga com propriedades antialérgicas, é descoberto pelo farmacologista suíço Daniel Bovet.

1944 – O cirurgião Alfred Blalock e a pediatra Helen Taussig, ambos americanos, realizam a primeira operação numa criança com um problema cardíaco congênito.

1945 – A adição de flúor à água encanada, um meio de prevenção das cáries, é introduzida nos Estados Unidos.

1948 – O câncer começa a ser tratado com base na quimioterapia, que utiliza substâncias tóxicas para atacar as células atingidas pela doença. Até hoje, é uma das principais formas de tratamento.

1948 – O médico americano Philip Hench descobre que a cortisona, uma substância com propriedades antiinflamatórias, pode ser usada para tratar a artrite reumatóide.

DÉCADA DE 50 – As descobertas da Física ajudam a Medicina a desvendar os segredos do organismo
A TELA DE TELEVISÃO – Endoscopia – o exame do interior do corpo por meio de um cabo que carrega luz e uma microcâmera de vídeo. Essa técnica foi inaugurada na década de 50, graças ao desenvolvimento das fibras ópticas. Altamente flexíveis, elas possibilitam aos médicos atingir regiões do corpo que antes só podiam ser observadas mediante cortes na pele.

1952 – A primeira vacina contra a poliomelite é desenvolvida pelo médico americano Jonas Salk.

REPRODUÇÃO –- Você já pode evitar filhos, gera-los quando parece impossível e acompanhar a evolução do feto no útero
CRIADA EM 1952 pelo médico inglês Douglas Bevis, a amniocentese é um exame que consiste em enfiar uma agulha no útero da gestante e retirar uma amostra do líquido que existe na placenta. Assim é possível detectar doenças, como a síndrome de Down.

1953 – Uma máquina com funções cardíacas e pulmonares é utilizada numa cirurgia pela primeira vez, para criar uma circulação sanguínea artificial.

1953 – Cérebro em tempo real
A ciência ainda não consegue fotografar pensamento, mas já é capaz de enxergar o cérebro em plena ação. Isso é possível por meio da PET – Tomografia por Emissão de Pósitrons, na sigla em inglês -, inventada em 1953 pelos médicos americanos Gordon Brownell e William Sweet. Na PET, o paciente recebe uma pequena dose de uma substância radioativa que, ao percorrer o cérebro, produz imagens captadas por um aparelho. Com ela, são observados distúrbios como a psicose maníaco-depressiva.

1954 – O biólogo americano Gregory Pincus desenvolve uma droga que impede a ovulação, evitando a gravidez. É a pílula anticoncepcional.

Prazer sem filhos
Até onde se pode comprovar, o homem é o único animal – além do bonobo, uma espécie de chipanzé – ater relações sexuais por ouro prazer, sem o objetivo da reprodução. Mas a pílula anticoncepcional, que tornou essa prática plenamente possível, só foi criada em 1954, pelo biólogo americano Gregory Pincus (1903-1967), num caso raro de descoberta científica patrocinada por um movimento social. Desde o início do século 20, a feminista americana Margareth Sanger (1883-1966) vinha defendendo o controle da natalidade como um pré-requisito para a conquista dos direitos da mulher. Em 1951, ela encomendou a Pincus uma pesquisa sobr4e um método eficaz de contracepção. A ideia deu certo. A pílula é uma combinação dos hormônios femininos estrógeno e progesterona, produzidos sinteticamente. A ingestão diária dos hormônios inibe a ovulação, pois engana o organismo. Ele recebe a informação falsa de que a mulher está grávida e, por isso, a ovulação não ocorre.

1954 – Os cirurgiões americanos John Merril, Joseph Murray e Warren Guild realizam, com sucesso, o primeiro transplante de rins.

Reciclagem de órgãos
O primeiro órgão humano a ser transplantado com sucesso foi o rim. Em 1954, cirurgião americano Joseph Murray transferiu um rim de um irmão gêmeo para outro, que não tinha nenhum dos dois funcionando. No caso, tanto o doador quanto o receptor tinham o mesmo código genético, o que reduziu o risco de rejeição. O fígado só foi transplantado em 1967. No mesmo ano ocorreu também a primeira troca bem-sucedida de pâncreas. O transplante de pulmão teve de esperar até 1982 par ser feito com sucesso e, mesmo assim, de somente um deles. O transplante duplo de pulmões veio a acontecer somente em 1986. Cinco anos antes, em 1981, os cirurgiões americanos Norman Shumway e Bruce Reitz tinham conseguido o primeiro transplante múltiplo de órgãos, envolvendo um coração e um pulmão. O paciente sobreviveu dezoito meses. Uma façanha e tanto.

1957 – Albert Sabin, microbiologista americano, desenvolve a primeira vacina oral contra a pólio, que passa a ser utilizada mundialmente por ser mais eficaz do que a injetada.

Como a ciência derrotou a pólio
A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, foi uma das piores epidemias da primeira metade do século 20. Quem deu o passo decisivo para acabar com ela foi o virologista americano Jonas Salk (1914-1995), que criou em 1954 a primeira vacina contra a pólio. Aplicada por meio de injeções, foi produzida com vírus mortos e, por isso, inofensivos. Mas a vacina que você encontra hoje nos postos de saúde não é essa, e sim a apresentada em 1957 pelo americano de origem polonesa Albert Sabin (1906-1993). Tomada pela boca, ela contém vírus ativos porém atenuados, que atacam o organismo com força apenas suficiente para ativar a defesa imunológica, sem causar a doença. A vacina de Sabin superou a de Salk porque oferece uma proteção mais duradoura.

1957 – A talidomida, uma pílula para dormir, começa a ser receitada nos Estados Unidos e na Europa. Cinco anos depois, a droga é proibida, por causar sérias malformações em fetos.

1964 – Os aperelhos portáteis de hemodiálise são adotados nos Estados Unidos e na Inglaterra, facilitando o tratamento dos pacientes com deficiência renal.

1967 – O cirurgião sul-africano Christiaan Barnard realiza o primeiro transplante cardíaco, na África do Sul. Seu paciente, Louis Washkansky, morre 18 dias após a operação.

TRANSPLANTES – Com as novas técnicas de cirurgia, nenhum órgão é insubstituível – exceto, por enquanto, o cérebro.
Corações TROCADOS
Numa época em que o mundo inteiro vibrava com a conquista do espaço, uma proeza da Medicina conseguiu ganhar o centro das atenções. No dia 3 de dezembro de 1967, o cirurgião sul-africano Christiaan Barnard trocou o coração doente do comerciante Louis Washkansky, de 54 anos, pelo de uma moça de 24, que tinha morrido num acidente de carro. Washkansky sobreviveu apenas 18 dias – o suficiente para tornar Barnard um herói tão festejado quanto os astronautas mais famosos. Seu segundo transplante, em janeiro de 1968, foi bem mais feliz. O dentista Philip Blaiberg ficou 594 dias com um coração alheio.
Ainda em 1968, o brasileiro Euryclides de Jesus Zerbini fez a primeira operação desse tipo na América do Sul. Os transplantes enfrentaram, no início, o problema da rejeição – os mecanismos de defesa do corpo veem o coração novo como um invasor e o atacam. A rejeição só foi superada em 1978, com a ciclosporina, uma droga mais eficaz do quer as anteriores para neutralizar a reação do sistema imunológico ao órgão transplantado. Hoje em dia, os transplantes de coração são um procedimento de rotina. Em 75% do casos, os pacientes sobrevivem por mais de cinco anos depois da operação.

1971 – O engenheiro elétrico inglês Godfrey Hounsfield e o físico americano Allan Cormack inventam a tomografia computadorizada.

DIAGNÓSTICO
As descobertas da Física ajudam a Medicina a desvendar os segredos do organismo
Viagem ao interior do CORPO HUMANO
O raio X, descoberto em 1895 pelo físico alemão Wilhelm Roentgen (1845-1923), foi uma das sensações do início do século XX. Alguns até imaginaram que, com ele, se poderia enxergar os corpos nus por baixo das roupas – como o Super-Homem nas histórias em quadrinhos. Isso é impossível. A novidade serviu, mesmo, como uma ferramenta para a Medicina.
Graças ao raio X, os médicos puderam observar as fraturas de ossos e diversos tipos de anomalias. Mas a radiografia convencional tem o incômodo de misturar as imagens de todas as estruturas que aparecem no caminho da radiação. Ao se tirar, por exemplo, uma chapa do pulmão, as costelas também são registradas, dificultando a análise. Para resolver isso, foram criados novos sistemas de raio X, como a tomografia computadorizada, uma invenção do físico americano Allan Cormack e do engenheiro inglês Godfrey Hounsfield, no início da década de 70. O paciente é colocado numa espécie de túnel. Lá dentro, uma máquina de raio X em formato circular tira radiografias da parte do corpo escolhida para análise, a partir de diferentes ângulos. Os resultados dessas chapas são processados por um computador, que produz uma imagem em três dimensões. Essa técnica é usada principalmente para o diagnóstico de doenças do cérebro.

1975 – É descoberta a endorfina, um neurotransmissor que age no cérebro como um opiáceo natural. A substância é responsável pelo alívio da dor e pela sensação de prazer.

Átomos em polvorosa
De todos os métodos de diagnóstico, o mais sofisticado é a Imagem por Ressonância Magnética (MRI, na sigla em inglês), desenvolvida a partir de 1975 pelo físico suíço Richard Ernst. O paciente fica dentro de uma máquina onde é submetido a uma enorme força magnética, que faz vibrar cada um dos átomos do seu corpo. Essas vibrações são captadas por sensores e analisadas por um computador, que produz uma imagem detalhada do órgão que está sendo examinado. A MRI é particularmente útil no estudo de partes do corpo protegidas por ossos, como o cérebro e a medula espinhal. Tem a vantagem da segurança, já que não utiliza radiação. A maior desvantagem é o custo, muito elevado. A MRI valeu a Ernst o Nobel de Química de 1991.

1978 – Nasce na Inglaterra o primeiro bebê de proveta. Os responsáveis são os obstetras ingleses Patrick Steptoe (1913-1988) e Robert Edwards.

Crianças de LABORATÓRIO
REPRODUÇÃO –- Você já pode evitar filhos, gera-los quando parece impossível e acompanhar a evolução do feto no útero

No dia 25 de julho de 1978, uma inglesinha recém-nascida se tornou famosa no mundo inteiro. Seu nome era Louise Brown, a primeira criança a ser concebida por fertilização in vitro – um bebê de proveta. Os autores do feito foram os médicos ingleses Patrick Steptoe (1913-1988) e Robert Edwards, do Centro para a Reprodução Humana de Oldham, na Inglaterra. Pela técnica da fertilização in vitro, óvulos maduros são retirados do útero da mulher, fecundados em laboratório e recolocados na doadora.

A novidade logo se disseminou pelo planeta, como uma solução para os casais com dificuldades para gerar filhos. É o caso, entre outros, das mulheres com bloqueio nas trompas de Falópio – a ligação entre o útero e o ovário – e dos homens com baixa taxa de espermatozoides. No início, só 5% das tentativas alcançavam sucesso. Graças aos aperfeiçoamentos técnicos, as chances variam entre 20% e 35%. Em 1991, cientistas belgas desenvolveram uma agulha cujo diâmetro é sete vezes menor do que um fio de cabelo. Com ela, o médico isola um único espermatozoide e pode introduzi-lo no óvulo, dando início à gravidez mesmo nos casos mais difíceis de infertilidade masculina. Mais de 45 000 crianças já nasceram graças à fertilização in vitro, no mundo inteiro. O primeiro bebê de proveta brasileiro veio à luz em 1984, pelas mãos do médico Milton Nakamura (1935-1997).

1979 – A organização Mundial da Saúde declara erradicada a varíola. Os vírus que ainda restam no planeta ficam trancafiados dentro de laboratórios.

1981 – São noticiados cinco casos de um tipo raro de pneumonia em homossexuais. A causa é uma doença no sistema imunológico que viria a se tornar uma das piores pragas do século 20: a Aids.

DESAFIOS A – Medicina ainda busca a cura de doenças terríveis como o câncer, a Aids e o mal de Alzheimer.
Inimigo MORTÍFERO

Em 1981, FORAM NOTIFICADOS os primeiros casos de uma doença que fez milhões de mortes, a Aids, sigla em inglês da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Sua causa – o vírus HIV – só foi descoberta em 1983, pelo virologista francês Luc Montagnier e pelo oncologista americano Robert Gallo. A cura ainda não chegou, mas a Medicina está cada vez mais perto dela. Em 1987 começou a ser usado em larga escala o AZT, o primeiro medicamento a atax=car o vírus, mesmo sem destruí-lo por completo. Novo passo foi dado em 1996, quando o virologista americano David Ho apresentou um coquetel de drogas que impede a reprodução do HIV. As mortes entre os que tomam esses medicamentos vem caindo drasticamente.

1982 – O governo dos Estados Unidos aprova a utilização da primeira droga produzida geneticamente. É um tipo de insulina obtido pela modificação genética de uma bactéria.

TRANSPLANTES Com as novas técnicas de cirurgia, nenhum órgão é insubstituível – exceto, por enquanto, o cérebro.

Corações TROCADOS

O CORAÇÃO ARTIFICIAL é um dos desafios mais apaixonantes da Medicina. Um passo decisivo foi dado em 1982, com a estreia do Jarvik-7, que recebeu o nome do seu criador, o médico americano Robert Jarvik.
O paciente viveu 112 dias com ele. Mas o Jarvik-7 utiliza ar comprimido bombeado de fora, impedindo o paciente de sair do quarto do hospital. Aparelhos mais modernos funcionam com uma bateria interna. Só que ela precisa ser recarregada após algumas horas. Atualmente, os corações artificiais são usados apenas durante a espera por um transplante.

1983 – Os patologistas australianos Barry Marshall e R. Warren relacionam a úlcera gástrica à bactéria Helicobacter pylori. A hipótese dos cientistas seria definitivamente aceita dez anos depois.

1983 – O HIV, vírus da Aids, é isolado e identificado pelo francês Luc Montagnier e pelo americano Robert Gallo.

1986 – O AZT, uma droga contra a Aids, começa a ser utilizada com sucesso em pacientes infectados pelo HIV.

1986 – Davina Thompson, inglesa de 35 anos que se submeteu a uma operação no dia 17 de dezembro de 1986, no Hospital Papworth, em Huntington, Inglaterra, ao primeiro transplante triplo do mundo: coração, pulmões e fígado.

1994 – O geneticista americano Mark Skolnick isola o gene responsável pelo câncer de mama, abrindo novas possibilidades de tratamento da doença.

1995 – A primeira vacina eficaz contra a malária, criada pelo bioquímico colombiano Manuel Patarroyo, é aprovada pela Organização Mundial da Saúde.

1996 – Surge na Inglaterra a doença da vaca louca, provocada por estranhas proteínas infectantes, os príons, transmitidas por meio da carne contaminada.

1996 – Uma nova alternativa para o tratamento da Aids aumenta significativamente a sobrevida dos pacientes. O coquetel de drogas anunciado pelo virologista americano David Ho pode eliminar até 99% da carga viral dos infectados.

1997 – O cirurgião brasileiro Luiz Antonio Rivetti cria uma nova técnica de cirurgia no coração. Com ela, torna-se desnecessária a circulação artificial nas cirurgias de pontes de safena.

1997 – O oncologista americano Judah Folkman consegue, em testes com cobaias, bloquear a irrigação sanguínea das células cancerosas.

1998 – É lançado o Viagra, primeira droga eficaz contra a impotência. Três milhões de caixas são vendidas em dois meses.

(Fonte: Super Interessante – N° 145 -– Outubro 1999 –- FASCÍCULOS – XX O século da Ciência)

 

 

O PIONEIRO ESPERTO
O brasileiro Euryclides de Jesus Zerbini poderia ter sido o primeiro cirurgião a realizar um transplante cardíaco em seres humanos. A partir de 1960, oito equipes ao redor do planeta treinavam em cães para a façanha. O acordo era de só transplantar humanos quem tivessse na mesa de operação um paciente condenado e encontrasse, em poucas horas, um doador com morte cerebral.

A oportunidade surgiu, em fevereiro de 1967, no Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde Zerbini trabalhava. Mas ele foi proibido de fazer a cirurgia pela direção do hospital que, cautelosa, não se contentava com os 125 cachorros transplantados por sua equipe.

Dez meses mais tarde, o médico sul-africano Christiaan Barnard foi o pioneiro. Tendo realizado ainda menos cirurgias caninas que Zerbini, ele operou Lois Washkansky, que não era um paciente condenado. Graças a Zerbini, o Brasil acabou sendo o terceiro país do mundo a realizar um transplante cardíaco, em maio de 1968.
(Fonte: Super Interessante –- ANO 9 – Nº 9 -– Setembro de 1995 – Dito & Feito – Pág; 90)

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