Defendeu pela primeira vez a criação de parques nacionais do Brasil

0
Powered by Rock Convert

Pioneirismo verde. Um século antes de a ecologia entrar na agenda nacional, pensadores brasileiros, como José Bonifácio, já discutiam o tema. José Bonifácio (1763-1838), o Patriarca da Independência, como um dos maiores ecologistas do Brasil. Foi descoberto que a preocupação com o meio ambiente é mais antiga no país do que se imaginava. Um século antes da disseminação do pensamento ecológico alemão – tido como o início do “movimento verde” no Brasil, em 1980 -, críticos brasileiros já ofereciam propostas de uso racional do território.
A origem do pensamento ecológico no Brasil teve como personagem chave José Bonifácio. O abolicionista Bonifácio foi precursor dos ecomilitantes. Ele previa um colapso da vida nacional pelo mau tratamento do território já em 1823. No ínicio do século 19, já existia essa preocupação. Alguns escritores do Brasil Colônia, como Frei Vicente Salvador e Ambrósio Brandão, já condenavam o comportamento destrutivo dos colonizadores. A crítica mais sistemática, porém, começou a partir de 1780. Entre 1786 e 1888, foi discutida às conseqüências da destruição das florestas e da erosão dos solos.
No final do século 18, jovens da elite brasileira foram estudar em Portugal e na França. Transformaram-se na primeira geração de intelectuais formada em Ciências Naturais. Foram influenciados pelo italiano Domenico Vandelli, professor da Universidade de Coimbra, que difundiu a teoria chamada de Economia da Natureza. Os brasileiros utilizaram a tese para criticar a exploração colonial. O próprio Vandelli, que não chegou a visitar o país, mas recebia informações de brasileiros, escreveu no ano de 1789, com muita lucidez: “Vai-se estendendo a agricultura nas bordas dos rios no interior do país, mas isso com um método que com o tempo será muito prejudicial. Porque consiste em queimar antiqüíssimos bosques”. O escritor José Gregório de Moraes Navarro já apontava a agricultura arcaica praticada em Minas Gerais, em 1799.
A formação econômica colonial deu pouco valor às florestas nativas brasileiras. A grande lavoura baseou-se na introdução de espécies exóticas dos trópicos orientais, como a cana-de-açucar e o café. A Mata Atlântica era vista simplesmente como biomassa a ser queimada. Árvores eram utilizadas como lenha para alimentar engenhos. A própria extração do ouro desviava o curso dos rios. Na visão de um grupo de ecologistas precursores, o comportamento destrutivo era fruto da herança colonial, da tecnologia rudimentar e da falta de cuidado com o meio ambiente. Eles defendiam o desenvolvimento autônomo para o país. Bonifácio conviveu na Europa com pensadores fundamentais à formação da consciência ecológica, como o alemão Alexander von Humboldt e o francês Antoine Jussieu. Ao voltar para o Brasil, em 1829, pregou a ruptura com o passado colonial. Sua contribuição foi estabelecer o vínculo entre o escravismo e a destruição ambiental, como diz num texto de 1825.
Bonifácio também se preocupava em promover atividades econômicas benéficas ao ambiente. Sobre a agricultura, ele dizia: “Deve-se preferir o gênero de cultura que conserva toda a atividade da terra”. Após o debate de Bonifácio, dividiu-se em duas tendências. Uma, de autores que continuaram a criticar o mau uso dos solos, mas evitaram condenar a escravidão, para não desagradar dom Pedro II. À outra corrente retomou a linha de Bonifácio, que era contra o escravismo. Seus principais representantes foram os abolicionistas Nicolau Moreira, Joaquim Nabuco e André Rebouças. Este condenava “a oligarquia estulta que reduz este país fertilíssimo a um estéril deserto”. Ele defendeu pela primeira vez, em 1864, a criação de parques nacionais do Brasil. Ironicamente, tentou preservar as Sete Quedas, de Guairá, no Paraná, destruídas pela construção da represa de Itaipu no governo militar.

Powered by Rock Convert
Share.