Dave Van Ronk, cultuado músico da cena folk

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David Kenneth Ritz “Dave” Van Ronk (30 de junho de 1936 – 10 de fevereiro de 2002), cultuado músico da cena folk, é lembrado como um dos ídolos de Bob Dylan

Morto em 2002, aos 65 anos, por causa de um câncer no cólon, o músico foi uma peça-chave dessa celebrada e politizada cena que reativou o folk nos EUA — em particular na boêmia área do Greenwich Village e em seus arredores, em bares e cafés como o ainda ativo Caffe Lena — numa década marcada pelo aprofundamento da luta pelos direitos civis e pelos protestos contra a Guerra do Vietnã. Naquele período, o formato acústico ainda era o principal veículo para a contestação, antes da ascensão do rock e de suas guitarras elétricas.

Apesar de ser considerado mentor e incentivador de artistas que despontaram naquela ocasião — como Bob Dylan, Joan Baez e Joni Mitchell — Van Ronk nunca conseguiu, com sua voz e seu violão, o mesmo sucesso que seus colegas. Curiosamente, o filme que tem a sua sombra por toda a parte está ajudando a despertar o interesse na obra do artista, lembrado também, de forma mais direta, por lançamentos recentes, como as caixas de três CDs “Dave Van Ronk: Down in Washington Square”, compilada pelo Instituto Smithsonian, e “Live at Caffe Lena: Music from America’s legendary coffee house 1967-2013”, esta com registros de Van Ronk ao lado de performances de outros luminares daquela cena, como Arlo Guthrie (filho de Woody Guthrie) e Rick Danko. Van Ronk está também na trilha sonora de “Inside Llewyn Davis”, com a música “Green green rocky road”.

Dave Van Ronk nasceu no Brooklyn em 1936, mas morou a maior parte da sua vida no Greenwich Village. Em sua autobiografia, “Chronicles”, Bob Dylan diz que Van Ronk era seu guru e que copiava suas músicas no começo da carreira. “Ele era o rei do Greenwich Village”, afirma. De fato, a popularidade do músico no local era tamanha que uma das ruas daquela vizinhança foi rebatizada, em 2004, como Dave Van Ronk Street. No filme dos irmãos Coen, Llewyn Davis rejeita a proposta de fazer um grupo nos moldes de Peter, Paul & Mary, um trio folk de sucesso nos anos 1960 e reclama com seu empresário que está tão falido que não tem dinheiro nem para um agasalho. Tudo isso aconteceu com Van Ronk, como ele descreve no livro “The mayor of MacDougal Street”.

Ao menos na aparência, o imponente Van Ronk, que tinha quase 1,90m de altura, pouco lembra o franzino personagem vivido pelo ator Oscar Isaac no filme. Outros amigos, além de Rosenthal, têm ressaltado em entrevistas mais diferenças entre Van Ronk e o protagonista de “Inside Llewyn Davis”, assegurando que o personagem real era bem mais ativo do que Davis e que, por exemplo, não vivia jogado na casa dos outros como este. “As pessoas é que pediam para dormir na casa dele”, disse ao “New York Times” Jeff Place, responsável pela compilação do Instituto Smithsonian. Mas é Joan Baez, antiga parceira e admiradora, quem destoa no coro de aclamações ao trovador.

 

Dave Van Ronk, cultuado músico da cena folk (Foto: Village Voice/Divulgação)

Dave Van Ronk, cultuado músico da cena folk (Foto: Village Voice/Divulgação)

 

Cultuado músico da cena folk, Dave Van Ronk ganha atenção com filme dos irmãos Coen

‘Inside Llewyn Davis’, que estreia esta semana no Brasil, despertou o interesse pelo artista, que ganhou álbum retrospectivo e é lembrado como um dos ídolos de Bob Dylan

Em Portugal, “Inside Llewyn Davis”, o novo filme dos irmãos Coen — premiado no festival de Cannes de 2013 e em cartaz nos EUA desde o fim do ano passado — foi batizado como “A propósito de Llewyn Davis”. No Brasil, aonde chega na próxima sexta-feira, o nome original é acompanhado pelo subtítulo “Balada de um homem comum”. O roteiro gira em torno de um jovem e atormentado cantor que, com o violão nos ombros, tenta encontrar seu espaço na cena musical do Greenwich Village, em Nova York, no começo dos anos 1960, enfrentando “obstáculos aparentemente intransponíveis, começando com aqueles que ele mesmo cria”, segundo a sinopse, “e em meio a um rigoroso inverno, sobrevive graças ao apoio dado por amigos ou estranhos, aceitando qualquer pequeno trabalho”.

O que o resumo da história não diz é que, por dentro de Llewyn Davis, há muito de Dave Van Ronk, cuja biografia, “The mayor of MacDougal Street”, escrita por Elijah Wald em 2005, foi a livre inspiração para o trabalho de Joel e Ethan Coen.

— Dave Van Ronk era um mestre e um protetor daquela cena — diz a historiadora americana Jocelyn Arem, editora do livro “Caffe Lena — Inside America’s legendary folk music coffehouse” e também do libreto incluído em “Live at Caffe Lena”. — Ele abriu portas para inúmeros artistas que chegavam a Nova York no começo dos anos 1960, dando dicas sobre música e ajudando a fazer contatos. Não há dúvida de que ele, sempre no Caffe Lena, que chamava de “o melhor clube acústico do mundo”, foi uma grande influência para toda uma geração, como alguém que sempre se manteve fiel às raízes.

— Van Ronk era uma grande figura, um trovador e um excelente contador de histórias através de suas músicas — garante o produtor Steve Rosenthal, dono do estúdio Magic Shop, em Nova York, onde Van Ronk fez algumas de suas gravações. — Só acho que ele não era a figura perdida que é Llewyn Davis. E posso garantir que Van Ronk levava com humor sua sina de quase famoso.

— Eu o conheci e, infelizmente, ele é muito parecido com o que o filme mostra. Era um grande cantor, mas um ser humano muito pouco confiável.

(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura  – CULTURA/ POR CARLOS ALBUQUERQUE – 18/02/2014)

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