Construiu a primeira grande cadeia de comunicações fora do eixo Rio-São Paulo

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Construiu a primeira grande cadeia de comunicações fora do eixo Rio-São Paulo

Maurício Sirotsky Sobrinho, empresário fundador da Rede Brasil Sul de Comunicações (RBS). Em 1957, o empresário comprou uma emissora falida – a Rádio Gaúcha, com pouca potência, nenhuma audiência e um magro elenco de atrativos para enfrentar os concorrentes. Trinta anos mais tarde, Sirotsky não só havia transformado a Gaúcha numa das líderes de audiência no Sul do país mas também se tornara o dono de outras quinze emissoras de rádio, de catorze estações de televisão e do Zero Hora, principal jornal do Rio Grande do Sul e o quinto do país em tiragem, com mais de 140 000 exemplares diários.

OPERAÇÃO ARRISCADA – Com um faturamento anual estimado em 46 milhões de dólares, a Rede Brasil Sul é um retrato de seu patrono. “A empresa é minha família”, costumava dizer Maurício Sirotsky. Em 1971, disposto a transformar o Zero Hora, antigo jornal de manchetes sensacionalistas e crônicas policiais, na melhor publicação de seu Estado, o empresário promoveu uma operação arriscada. Aos poucos, mudou a linha editorial do jornal, passando a abordar assuntos regionais e políticos. Nos primeiros meses, perdeu dois terços dos leitores tradicionais, mas, depois, começou lentamente a conquistar o público dos concorrentes. Em meados de 1983, o Correio do Povo, da Empresa Jornalística Caldas Júnior, principal jornal gaúcho desde 1895, deixou de circular, sem condições de fazer frente ao Zero Hora. No final de 1985, depois de suspender outros dois jornais, a Caldas Júnior fechou suas portas definitivamente.

Investindo pesado no mercado regional e incentivando programas em que buscava preservar a fala e as expressões típicas do Sul do país, Sirotsky filiou suas emissoras de TV a Rede Globo, mas não descuidou das produções locais. Enquanto a maioria das estações mal cumpre a determinação do governo de produzir 5% de sua programação, a Rede Brasil Sul tem um índice de 16% de programas feitos na região. Essa visão de longo prazo, que garante a TV Gaúcha uma audiência dez vezes maior que a da concorrente mais próxima, é a mesma que orientou toda a carreira de Sirotsky, um filho de imigrantes radicados no interior disposto a vencer numa cidade grande.

Para construir a primeira grande cadeia de comunicações fora do eixo Rio-São Paulo, Maurício Sirotsky Sobrinho agiu como um empresário moderno, capaz de encarar as mudanças de seu tempo. Se a maioria dos antigos homens de rádio se assustou diante do surgimento da televisão, por exemplo, Sirotsky já cuidava, em 1962, de implantar no Estado a TV Gaúcha, pioneira de uma rede que cobre tanto o Rio Grande como Santa Catarina.

Desde o dia 24 de março, segunda-feira, esta empresa que se iniciou num lance de ousadia individual para se transformar na Rede Brasil Sul de Comunicações (RBS), império de 4 000 funcionários que atinge um público de 14 milhões de pessoas, perdeu seu comandante e fundador.

No momento em que discutia o lançamento do Diário Catarinense, primeiro jornal totalmente computadorizado do país, o empresário sofreu uma ruptura em sua artéria aorta. Cinco horas mais tarde, a caminho da sala de operações do Instituto de Cardiologia de Porto Alegre, Maurício Sirotsky Sobrinho morreu, aos 60 anos, num desfecho que comoveu o país. “Foi uma perda imensa”, declarou o presidente José Sarney. “Ele prestou um grande serviço a imprensa brasileira.” No Rio Grande do Sul, o governador Jair Soares decretou luto oficial de três dias e, na terça-feira, em Porto Alegre, Sirotsky foi enterrado como herói: um grande cortejo percorreu as principais ruas da capital gaúcha. “Não esperava por uma notícia tão ruim”, reagiu o ministro da Justiça, Paulo Brossard, que representou o presidente nos funerais.

Sem uma liderança tão vigorosa, sua substituição no comando da RBS não será uma tarefa simples. A viúva Ione Pacheco Sirotsky, herda 75% das ações ao lado dos quatro filhos. Habituada a acompanhar de perto os negócios do empresário, com quem estava casada há 37 anos, Ione Sirotsky deve assumir a direção do grupo ao lado do cunhado, Jayme Sirotsky, proprietário de 20% das ações. Na década de 70, Ione destacou-se pela firmeza com que defendeu alguns investimentos do mardo, como o reforço de caixa ao jornal Zero Hora, que, durante uma fase de pesados prejuízos, ameaçava abalar toda a saúde financeira da RBS.
Com a morte do empresário, o Rio Grande do Sul também perdeu um possível candidato ao governo do Estado. Em março o ministro Jorge Bornhausen, da Educação, manteve com Maurício Sirotsky uma longa conversa pelo telefone em que tentava convencê-lo a disputar o cargo pela legenda do PFL. “A proposta dificilmente seria aceita”, afirma seu irmão, Jayme Sirotsky. “Ele sempre defendeu uma posição apartidária para a RBS.”

(Fonte: Veja, 2 de abril, 1986 – Edição 917 – DATAS – Pág; 75 – IMPRENSA/Luto no Sul – Pág; 67 )

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