Artista inglês registrou paisagens brasileiras quando veio em missão diplomática ao País no século 19
Charles Landseer (1799-1879), foi o artista oficial da missão diplomática britânica chefiada por sir Charles Stuart, que partiu de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1825, a fim de negociar o reconhecimento por parte de Portugal do recém-independente Império brasileiro.
Artista inglês era bem jovem e “inexperiente”, quando veio ao Brasil no século 19 em missão diplomática britânica chefiada por Charles Stuart, mas era muito bem formado e por isso fez muitos desenhos e aquarelas em poucos meses, que assina 121 obras realizadas entre 1825 e 1826, durante a experiência do artista viajante – mas a missão de Stuart, que partiu de Portugal, estava, na verdade, mais centrada em estreitar relações britânicas com o Brasil, reconhecendo a independência do país, em 1822.
Nunca deixando de acompanhar Stuart onde quer que fosse, Landseer criou um conjunto expressivo de obras sobre o Brasil, retratando paisagens, pessoas e a flora de lugares diversos, como o Rio, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Santa Catarina e São Paulo.
Foi o pai de Charles Landseer, o conhecido gravador John Landseer, que incentivou o filho a participar da missão diplomática com o intuito de que o artista produzisse um repertório de desenhos e aquarelas que depois pudessem ser alimento para a criação de quadros a óleo na Inglaterra.
Mas, pouco depois da viagem, Stuart confiscou para si as obras produzidas por Landseer durante a missão – e há até a reprodução de carta furiosa de John Landseer sobre o fato. Charles Landseer fez e mostrou apenas cinco óleos na Inglaterra.
Dois desses quadros, um realizado a partir de retrato de um tropeiro paulista e outro com paisagem e figuras do Rio de janeiro. Os desenhos que o inspiraram estão ao lado das pinturas.
O acervo das obras que Charles Landseer produziu na missão – quase 300 no total – se preservou intacto durante todos os anos: depois de ter saído das mãos da família Stuart, passou, desde a década de 1920, por coleções de duas famílias brasileiras, o empresário e colecionador carioca Guilherme Guinle. Antes de morrer, em 1960, este presentearia o que se tornara conhecido como Álbum Highcliffe ao sobrinho, o colecionador carioca Cândido Guinle de Paula Machado e até ser adquirido pelo Instituto Moreira Salles.
É também interessante saber que Landseer ficou apenas poucos meses em cada localidade, tendo que se valer de agilidade para produzir, por meio de relatórios da Marinha britânica, todo o itinerário da viagem – com os retratos dos tripulantes do navio HMS Wellesley e depois, apresenta conjuntos de desenhos e aquarelas produzidos em cada local. A maior série é sobre o Rio de Janeiro, onde o artista ficou cerca de quatro meses e produziu, aproximadamente, 100 obras.
Autor do fabuloso “Álbum Landseer”, uma alentada crônica visual do Brasil do século XIX. O acervo reúne um pedaço único da História do Brasil.
O conjunto leva o nome do pintor Charles Landseer, autor de mais de 200 trabalhos do álbum, porque foi ele que reuniu no período em que permaneceu no país. Entre mais de 300 desenhos, aquarelas e esboços ali estão as obras assinadas pelo francês Debret e pelos ingleses Landseer, Chamberlain e Burchell.
Elas retratam a natureza, a arquitetura e o povo das províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo da época. O filé mignon do acervo é o lote de doze aquarelas de Jean-Baptiste Debret, com nobres, escravos e índios.
Em 1825, aos 26 anos, Landseer desembarcou na Baía de Guanabara como pintor da missão chefiada por Charles Stuart (1779-1845), o embaixador inglês enviado ao Brasil. O álbum inclui ainda seis paisagens de Lisboa, da Ilha da Madeira e da flora brasileira, de autor desconhecido.
Ironicamente, no século XIX, de volta à Inglaterra, um desolado Landseer imaginava que seu álbum serviria apenas “de ornamento a uma coleção de fidalgo.”
Em 29 de abril de 1999, em São Paulo, a família Moreira Salles, que controla o Unibanco, arrematou por telefone e, passou a integrar o acervo adquirido pelo Instituto Moreira Salles, o IMS, uma instituição cultural privada sem fins lucrativos.
Mostra reúne desenhos de Charles Landseer sobre Brasil
O Instituto Moreira Salles (IMS) inaugurou em 10 de maio de 2011 em sua sede no bairro de Higienópolis, em São Paulo, perpassa a missão de Stuart como um todo, dedicando também uma sala às obras que Landseer criou a partir da escala em Portugal, com trabalhos sobre Lisboa e arredores. Mais ainda, a mostra inclui trabalhos criados em passagem por Açores, já na volta para a Europa. Assim, “Charles Landseer: Desenhos e Aquarelas de Portugal e do Brasil – 1825-1826” é exposição abrangente.
Com curadoria de Leslie Bethell, ela já foi exibida um pouco maior no espaço do IMS no Rio e foi acompanhada de um alentado catálogo organizado pelo historiador.
(Fonte: Revista Veja, 5 de maio de 1999 – ANO 32 – Nº 18 – Edição 1596 – Arte / Por Angela Pimenta – Pág: 164/165)
(Fonte: https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral – NOTÍCIAS / GERAL / CULTURA / AE, Agência Estado – 10 Maio 2011)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.