Carlos Menem, era atual senador pelo partido no poder como representante da província ocidental de La Rioja, foi presidente da Argentina entre 1989 e 1999

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Ex-presidente da Argentina chegou ao poder como líder populista e governou como capitalista

 

Peronista foi quem por mais tempo permaneceu na presidência da Argentina, de 1989 a 1999. Seu governo foi marcado por privatizações e forte abertura às importações.

 

Carlos Menem Akil (Anillaco, 2 de julho de 1930 – Buenos Aires, 14 de fevereiro de 2021), ex-presidente argentino, político e advogado de centro-esquerda, era atual senador pelo partido no poder como representante da província ocidental de La Rioja, foi presidente da Argentina entre 1989 e 1999.

 

O sucesso momentâneo de seu plano econômico, que implicava uma forte redução do Estado e a conversibilidade do peso um por um com o dólar, rendeu-lhe nos primeiros anos de governo grande popularidade entre os argentinos, cansados de uma hiperinflação que corroía seus bolsos.

Nascido em 2 de julho de 1930, Menem teve quatro filhos —um deles, Carlos Jr., faleceu em 1995.

 

Caráter extraordinário

 

O ex-presidente argentino foi mandatário do país por grande parte da década de 1990, foi um presidente excêntrico, tendo governado a Argentina entre 1989 e 1999. Uma de suas características mais marcantes eram suas costeletas compridas, até nas bochechas, metade brancas, metade pretas, encaracoladas e espessas. Elas marcaram um país.

 

Menem as usava para imitar seu caudilho favorito, o herói Facundo Quiroga, e elas eram aparadas diariamente por um cabeleireiro que tinha lugar fixo no avião presidencial.

 

Frondoso, excêntrico, exagerado: as costeletas de Menem eram um reflexo de seu caráter extraordinário, um personagem que se materializou durante uma década, a de 1990. Representava o sonho argentino de viver no melhor dos mundos: o mais engraçado, o mais autêntico, o mais pomposo.

 

Nascido no extremo noroeste do país, em La Rioja, Menem se tornou, em 1995, o primeiro presidente a ser reeleito em 50 anos.

 

Em seu primeiro governo, ele forjou um boom econômico; no segundo, uma crise traumática.

 

Advogado, governador e senador, o ex-presidente argentino foi duas vezes preso durante os regimes militares das décadas de 70 e 80 e duas vezes condenado por corrupção e tráfico de armas. Ele evitou a prisão por causa da imunidade parlamentar e, nos últimos anos, foi absolvido.

 

Era chamado de “o turco” em referência às suas raízes sírio-libanesas, que definiam sua família, sua personalidade e até sua vida privada, tantas vezes o protagonista dos tabloides.

 

Dois mandatos

 

De origem síria e advogado de profissão, Menem foi presidente por dois mandatos consecutivos, de 1989 a 1999, após ter sido governador de La Rioja, sua província natal, entre 1973 e 1976 —ano em que foi preso após o golpe que culminou na última ditadura (1976-1983)— e novamente de 1983 a 1987, quando iniciou sua campanha presidencial.

 

Junto a Eduardo Duhalde, seu candidato a vice-presidente, venceu as eleições presidenciais de 1989 em um complicado contexto econômico e social que havia levado Alfonsín a adiantar o pleito em vários meses.

 

Menem foi o presidente que governou a Argentina por mais tempo de maneira ininterrupta, lembra a imprensa argentina.

 

Governo Menem

 

Seu governo foi marcado pela transformação da economia, com uma grande abertura comercial e um intenso processo de privatização de empresas públicas, mas também pelas denúncias de corrupção, que teve de enfrentar nos tribunais nos últimos anos, enquanto era senador, cargo que ocupa desde 2005.

 

 

 

Os ex-presidentes Fernando Collor de Mello (Brasil), Andrés Rodriguez (Paraguai), Carlos Menem (Argentina) e Luis Lacalle (Uruguai) se congratulam após assinatura do tratado que criou o Mercosul, em 26 de março de 1991, em Assunção, Paraguai. (Imagem: AFP – 26.mar.1991)

 

 

Durante sua gestão, na qual assinou polêmicos indultos a favor das juntas militares da última ditadura (1976-1983) e de líderes guerrilheiros, a economia passou por profundas transformações, com uma grande abertura comercial e um intenso processo de privatizações de empresas públicas, o que gerou fortes críticas de correligionários e adversários.

 

Depois de uma reforma da Constituição argentina, em 1995, foi reeleito para um segundo mandato, no qual se aceleraram os sinais de enfraquecimento do modelo econômico. Durante sua gestão, Menem estabeleceu a taxa de câmbio de um peso igual a um dólar, o que, mais tarde, resultou na grave crise desatada em 2001, durante a presidência de Fernando de la Rúa.

 

Menem se candidatou à presidência pela última vez em 2003, quando venceu o primeiro turno e desistiu da disputa no segundo, dando a vitória a Néstor Kirchner.

 

Peronista com todas as letras

 

Menem é uma das respostas a essa pergunta que fascina os cientistas políticos de todo o mundo sobre o que é o peronismo.

 

Uma resposta, claro, complexa, porque embora sintetize com precisão o movimento, também complica a definição da corrente política mais importante da história da Argentina.

 

Ele foi ao mesmo tempo um político populista e de direita, pró-Estados Unidos e chauvinista, católico e muçulmano, que foi perseguido pelo regime militar, mas depois perdoou os repressores e primeiro aliou-se, mas depois perseguiu os guerrilheiros Montoneros (da esquerda marxista e peronista).

 

Como Juan Domingo Perón, presidente que conheceu, admirou e criticou, Menem usou a contradição como instrumento político: prometeu não honrar a dívida, mas pagou, ofereceu reclamar as Malvinas/Falklands, mas negociou com o Reino Unido, privatizou empresas se gabando de ser um nacionalista.

 

Mas o que para muitos é uma contradição, para o peronismo é a adaptação aos altos e baixos da política e da vida. Menem escreveu em 1988 em uma “Carta Aberta à Esperança”: “Sempre afirmei que o gesto mais nobre do político consiste em colocar um ouvido no coração do povo e outro na voz de Deus para escutar com humildade o mandato do Tempo”.

 

Não está totalmente claro, porém, a quem ele estava ouvindo quando decidiu privatizar a estatal petrolífera e aérea, desmantelar as ferrovias ou endividar um país historicamente incapaz de pagar seus déficits.

 

O modelo econômico que ele promoveu era um paradoxo em si mesmo: o capitalismo selvagem nas mãos dos Estados Unidos em nome de um movimento político que lutou – ou luta – a favor dos pobres e contra a oligarquia.

 

Desregulamentou os mercados, reduziu as pensões e aumentou os impostos e serviços sem resistência, ou melhor, com apoio dos principais perdedores.

 

Menem, com o discurso anti-sistema peronista, foi talvez o abalo mais importante que ocorreu dentro do movimento.

 

O melhor e pior governo

 

Muitos consideram que, por si só, seu primeiro governo, entre 1989 e 1995, foi o melhor dos últimos 40 anos na Argentina: eliminou a hiperinflação, estabilizou a política, promoveu o consumo e a abertura, recebeu apoio internacional e gerou consenso nacional para modificar a Constituição.

 

Mas seu segundo mandato foi, na época, visto como um dos piores da história nacional: a corrupção política e judicial se espalhou, os escândalos do presidente foram uma vergonha internacional e o modelo econômico, baseado na paridade entre o dólar e o peso a chamada “conversibilidade”, provou ser uma ficção que acabaria por desencadear a pior crise econômica em décadas, em 2001.

 

Embora a Justiça ainda esteja investigando o que aconteceu, há quem na Argentina acredite que uma das contradições de Menem – ser árabe, mas manter uma forte relação com Israel – tem a ver com os dois ataques fatais a organizações judaicas em Buenos Aires na década de 1990: a explosão da Embaixada de Israel e da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA). Há quem pense que os ataques foram por “vingança”.

 

Menem deixou a presidência desgastado politicamente – e por mandato constitucional – em 1999, mas nunca deixou de ser muito estimado por alguns argentinos.

 

Em 2003 estava perto de ser reeleito pela segunda vez, mas desistiu no segundo turno quando teve certeza de que Néstor Kirchner o venceria.

 

Sua figura após a presidência foi marcada por acusações judiciais, seu casamento com a Miss Universo chilena Cecilia Bolocco e dois votos históricos no Senado: rejeitou as retenções de impostos de campo propostas por Cristina Kirchner em 2015 e a descriminalização do aborto em 2018. Ambos os projetos falharam.

 

Menem foi senador até a morte graças aos devotos eleitores de La Rioja, uma província pobre, despovoada e conservadora na qual sua família, vinda da Síria na primeira metade do século 20, construiu um pequeno império comercial e vinícola.

 

Naquela terra árida e montanhosa, teve dezenas de propriedades extravagantes, incluindo “La Rosadita”, um casarão com a mesma estética da Casa Rosada presidencial.

 

Excentricidade como ideologia

 

Egocêntrico, solidário, showbiz, engenhoso e vindo “de baixo”, Menem nunca deixou de estar onde mais gostava: no centro das atenções.

 

Sua vida privada não era apenas uma questão de Estado, mas uma ferramenta na sua ascensão política para obter reconhecimento.

 

Em sua lista de excentricidades estão carros colecionáveis, helicópteros, animais exóticos, o “Menemóvel” com que fez campanha e a promessa – não cumprida – de um sistema de voo espacial com o qual você poderia viajar da Argentina ao Japão em duas horas.

 

O suposto gosto por festas e drogas e as suas dívidas com jogos de casino, onde alegadamente trocava fichas por cheques sem fundos, foram reiteradas preocupação da imprensa nacional.

 

Quando criança, foi visto como travesso e esotérico, segundo seus biógrafos, em mundos onde o machismo era celebrado: a comunidade árabe, La Rioja e a política argentina.

 

Seu relacionamento com seus pais, seus filhos e sua primeira esposa, Zulema Yoma, com quem se casou por iniciativa de seus pais árabes, sempre foram motivo de especulação entre muitos argentinos. E de processos judiciais.

 

Seu filho mais velho, Carlitos Nair, também conhecido como “o primeiro herdeiro”, morreu aos 26 anos em um acidente de helicóptero que dividiu a família e permanece sem solução – há teorias que vão desde um imprevisto a um ataque de narcotraficantes ou militares ou árabes em vingança por negócios obscuros.

 

“Um brinde a mim, o vice-presidente da Argentina”, disse Carlos Saúl Menem, em pé à mesa de uma festa em 1975. Ele não era vice nem estava perto de ser presidente, mas revelou uma sonho. Então ele jogou a bebida sobre sua cabeça. E foi assim que, com suas costeletas encharcadas de champanhe, um sonho começou a se tornar realidade.

 

Condenações

 

Menem chegou a ficar preso por quase seis meses em 2001 em razão de uma investigação sobre a venda ilegal de armas para a Croácia e Equador. A condenação foi revisada a favor e contra Menem por duas vezes até que ele foi absolvido em 2018.

 

Na década passada, enfrentou outros processos na Justiça, mas nenhum teve sentença definitiva. Seu cargo como político também impediu sua prisão nesses casos.

 

Em 2015, por exemplo, foi condenado a quatro anos e meio de prisão em um caso por suposto pagamento de bônus. Em 2019, outra condenação: três anos e nove meses de prisão em um processo por suposta fraude na venda de um imóvel. No mesmo ano, foi absolvido no julgamento por encobrir o atentado contra a AMIA.

 

Carlos Menem faleceu em 14 de fevereiro de 2021, aos 90 anos, depois de sofrer vários problemas de saúde.

O político peronista estava internado no hospital Los Arcos, em Buenos Aires, desde 15 de dezembro de 2020.

Seu corpo foi velado no Senado argentino e enterrado no Cemitério Islâmico de San Justo, na capital argentina, onde está o corpo de seu filho, segundo Zulemita Menem, filha do ex-presidente.

Atual presidente da Argentina, Alberto Fernández escreveu nas redes sociais que lamenta o falecimento do político. Fernández lembrou que Menem foi preso e perseguido na ditadura militar. O presidente decretou luto de três dias pelo falecimento.

Antecessor de Fernández, Mauricio Macri qualificou Menem como uma “boa pessoa, a quem recordará com muito afeto”. Ex-presidente e atual vice de Fernández, Cristina Kirchner expressou suas condolências pela morte do político.

(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/dinheiro/economia-e-negocios – DINHEIRO / ECONOMIA E NEGÓCIOS / da Redação – (Com Reuters) – 14/02/2021)

(Fonte: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2021/02/14 – INTERNACIONAL / ÚLTIMAS NOTÍCIAS / Do UOL, em São Paulo – (Com agências) – 14/02/2021)

(Fonte: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2021/02/14 – INTERNACIONAL / ÚLTIMAS NOTÍCIAS / Daniel Pardo BBC Mundo – 14/02/2021)

Fontes: Cerruti, Gabriela. “El jefe”. Planeta, 1993. Pucciarelli, Alfredo. “Los años de Menem”. Siglo XXI, 2011. Wornat, Olga. “La vida privada”. Planeta, 2000.

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