Carlos Azevedo Leão, desenhista, pintor e arquiteto carioca

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Singela nudez

Exemplo de erotismo que fugiu à pornografia

Carlos Azevedo Leão (Rio de Janeiro, 1906 – Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 1983), desenhista, pintor e arquiteto carioca. Raros artistas brasileiros desenharam o corpo feminino com a sua elegância e uma precisão de traços que lembrava Matisse. Como arquiteto, integrou a equipe que projetou o prédio do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro.

Pintando de preferência jovens nuas, tendência erótica revelada, aliás, desde sua primeira exposição, em 1966, montada por insistência de Suzana de Moraes, filha do poeta Vinicius de Moraes, e que foi seu modelo preferido.

O próprio Vinicius considerava o desenho do artista de “profunda sensualidade, simplesmente incomparável…” Sobre o tema da nudez, Carlos Leão não se mostrava evasivo: O nu é coisa bonita, tem muito movimento, e o tipo que faço é bastante inocente, erótico talvez mas nunca pornô.”

De fato, se há possibilidade de se testar a falta de relação entre o nu e a pornografia, os seus desenhos são exemplo clássico. Mas durante muito tempo ele teve que esperar uma oportunidade para mostrar essa diferença.

Formou-se pela Escola Nacional de Belas-Artes em 1931. Foi amigo e sócio no escritório de arquitetura de Lúcio Costa.

Trabalhou com Gregori Warchavchik, famoso arquiteto ucraniano que construiu em São Paulo a ‘casa modernista’, uma das primeiras manifestações surgidas no Brasil do estilo moderno na arte de construir.

LEVAR PARA CASA – De fato, horrorizado que saiu da escola de medicina durante sua primeira aula prática de autópsia, Carlos Leão formou-se posteriormente arquiteto, vindo a ser considerado, em sua época – nos anos 30 -, um dos melhores profissionais do ramo, integrante inclusive da equipe que projetou a construção do famoso Edifício Gustavo Capanema, que seria a sede do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, em 1936.

Muito mais tarde, já aos 62 anos de idade, cansado da arquitetura, comprou uma fazenda no Estado do Rio de Janeiro, onde dedicava-se às vacas e ao desenho, “pois sempre detestou fazer plantas”, tarefa principal do arquiteto. Inicialmente, seus desenhos eram dados aos amigos, já que nunca pensou em expor: “Eu não me achava suficiente artista”.

Preocupação logo desfeita, à medida que sua obra foi tendo grande aceitação, recebendo elogios de gente do porte do poeta Carlos Drummond de Andrade, da escritora Raquel de Queiroz e do paisagista Roberto Burle Marx. Mas o artista, que viveu mais tarde da aposentadoria e da pintura – “as necessidades de um velho são poucas” -, gostava mesmo era de lembrar o que de sua obra disse o cronista Rubem Braga, e que define com precisão o desejo de quem está diante de um de seus belos e singelos trabalhos: “A vontade que dá é de levar para casa os quadros porque pareciam pessoas da família.”

Carlos Leão costumava dizer “Quero ter uma velhice feliz, não quero saber de desgraças, e por isso pinto garotas nuas, flores e frutas, temas que agradam à vista” – dizia com simplicidade o pintor carioca, tímido, avesso à publicidade agravada pelo que ele considerava “uma das mazelas da velhice” -, o artista achava curioso que um crítico brasileiro, ao ressaltar em sua obra a ausência de intenções cerebrais, o tenha comparado ao mestre Matisse.

“É loucura dizer isso. Não tive escola, faço o que me diverte. Minha arte é simples, figurativista, e não tenho preocupações de modernizar. Vou pintando”, disse certa vez.

Carlos Leão morreu no dia 29 de janeiro de 1983, aos 76 anos, de edema pulmonar, no Rio de Janeiro.

(Fonte: Veja, 9 de fevereiro de 1983 -– Edição 753 -– DATAS – Pág; 98)

(Fonte: Veja, 15 de outubro de 1980 -– Edição 632 -– Arte/ Por Wladir Dupont – Pág: 173)

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