Carlo Mossy, ícone da pornochanchada na década de 70

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Carlo Mossy, ícone da pornochanchada na década de 70, ao contrário de muitos que torcem o nariz para essa fase do cinema nacional, se orgulha de ter protagonizado inúmeras comédias eróticas – mais de 30 – com títulos tão divertidos quanto bem-sucedidos: Lua de Mel e Amendoim, Oh, Que Delícia de Patrão e Como É Boa a Nossa Empregada. Pela expertise no tema – na década de 80 fundou a Actor’s Studios para produzir e dirigir filmes pornográficos

Carlo Mossy se orgulha do título de Rei da Pronochanchada (Foto: Divulgação)

Carlo Mossy se orgulha do título de Rei da Pronochanchada (Foto: Divulgação)

Mossy falou sobre sua relação homossexual com o marchand Fernand Legros, da época em que foi preso na Espanha,  sobre fidelidade, o cinema nacional atual, entre outros assuntos.

A pornochanchada foi injustiçada?

Sim. Nunca foi pornô, isso foi uma taxação dos cineastas intelectuais da época. Eles defendiam o cinema ‘culturalista’, eram contra o popular e hoje eles tentam se desculpar. A pornochanchada hoje é cult. Pornográfica são as filas dos hospitais, a corrupção, a política… Hoje em dia todo mundo está muito careta: eu vivi na putaria e foi lindo. Hoje as pessoas estão mais tristes por causa de tanta responsabilidade cívica, o dinheiro fica mais importante que sexo, as pessoas perderam a vitalidade e estamos construindo uma sociedade ruim.

Mossy e Vera Fischer: ele foi uma das atrizes com as quais ele mais gostou de contracenar (Foto: Reprodução)

Mossy e Vera Fischer: ele foi uma das atrizes com as quais ele mais gostou de contracenar (Foto: Reprodução)

Com quais atrizes gostou de contracenar?

Vera Fischer, Marta Moyano, Adele Fátima…Eram lindas, sem seios postiços e sem plásticas. Mas aprendi realmente como transar com uma mulher com Odete Lara, meu par romântico em Copacabana Me Engana, de 1968. Foi ela quem me ensinou a ter calma e caprichar nas preliminares. Depois disso, aprendi que homens inteligentes priorizam o orgasmo feminino.

Como virou Rei da pornochanchada?

Foi o Carlos Imperial quem inventou isso. Ele passou dizer que eu namorei 95% das protagonistas, antagonistas e coadjuvantes com quem trabalhei. Mas ele se confundiu, foram 90% (risos). Eu era lindo, com grana, safado toda a vida. As mulheres caíam em cima e diziam ser impossível não se apaixonar por mim.

Em sentido horário, Mossy e Tereza Trautman em Essa Gostosa Brincadeira a Dois; Ele com Adriana Prieto em A Penúltima Donzela (1969); Mossy e Renata Sorrah e Lua de Mel e Amendoim (1971); e o galã de olhos azuis irresistíveis (Foto: Reprodução)

Em sentido horário, Mossy e Tereza Trautman em Essa Gostosa Brincadeira a Dois; Ele com Adriana Prieto em A Penúltima Donzela (1969); Mossy e Renata Sorrah e Lua de Mel e Amendoim (1971); e o galã de olhos azuis irresistíveis (Foto: Reprodução)

Como foi seu envolvimento amoroso com Fernand Legros?

Sempre me vi como hetero. Mas, aos 15 anos, salvei a vida de Fernand Legros, o maior marchand de quadros falsos do mundo e ele salvou minha vida. Eu estava jogando frescobol em Copacabana com um amigo, o Fernand estava se afogando em frente ao Copacabana Palace, e o Jacaré, que era o salva-vidas da época, não estava presente. Me joguei na água e salvei-o. Ele ainda tentou encenar, estava nervoso. Aí dei um soco no queixo, o fiz desmaiar, o levei para a areia e fiz um boca-a-boca.

Quando ele acordou no hotel e soube do que aconteceu, olhou para mim e disse em francês – por acaso eu entendia francês – ‘Você acaba de salvar a sua vida’. Ele dizendo pra mim que eu salvei a minha própria vida ao salvar a dele. O que significou isso? Que eu me transformei num príncipe encantado. Durante três anos ele me levou a Paris, Nova York, Londres. Estudei nas melhores escolas de arte dramática, de técnica de cinema, música, técnica visual, técnica de iluminação. Vivi de uma forma fantástica essa vida bissexual. Mas sempre fui mais apaixonado pelas mulheres.

E o Legros nunca foi preso?

Foi sim, claro. Mas era sempre solto. Ele vendia quadros falsos de um pintor húngaro que era incrível. Os quadros eram dos pós-impressionistas e ele vendia com o certificado original. A corrupção rolava solta em níveis abusivos. Dois franceses ganharam uma grana para autenticar. Deve ter pencas de quadros de Renoir, Matisse, todos falsos nas casas da alta sociedade carioca e as pessoas nem desconfiam. Vou escrever um livro sobre isso, porque Legros era o meu guru. Graças a ele consegui comprar o equivalente hoje a R$ 2 milhões em equipamento para abrir a produtora Vidya em 1972.

E você?

Estava na casa do Fernand em Ibiza (Espanha), poxa, eu tinha 19 anos, rolava maconha, LSD e a turma reunida o dia inteiro sem fazer nada e a caretice naquela época não era permitida, daí fiquei preso por dois dias como vagabundo.

Mossy no auge durante a época de ouro da pornochanchada (Foto: Reprodução)

Mossy no auge durante a época de ouro da pornochanchada (Foto: Reprodução)

Perto dos 70, o vigor continua o mesmo?

Eu era quilometrossexual, passei a ser metrossexual e hoje sou milimetrossexual. Minha energia sexual baixou um pouco, não sou tão ativo quanto antes, talvez por preguiça. Mas minha mulher, Isis, é 30 anos mais nova e estamos há mais de 20 anos juntos. Uso Viagra raramente, só para dar uma sofisticação erétil.

Como vê a fidelidade hoje em dia?

Antigamente eu era fiel à infidelidade, hoje é o contrário. Os homens hoje estão muito egoístas, superficiais e até fiéis. É o medo, a falta de tempo, de dinheiro e a AIDS f*** com toda uma utopia sexual. Hoje dificilmente alguém transa e não pensa na doença. Tenho saudades da gonorreia. Peguei três vezes e, detalhe, com garotas da sociedade, filha de embaixador… Nunca peguei doença com prostituta. Hoje existe toda uma legislação erotizada. Por isso também parei de transar fora de casa. E tem outra coisa também, se eu colocar camisinha eu brocho porque tenho um outro cérebro embaixo, uma sensibilidade epidérmica.

Acredita que as pessoas estão mais insensível?

O corpo e o sexo estão banalizados. O sexo é bom se for proibido. Hoje em dia todo mundo quer orgasmo por orgasmo, perdeu a dimensão, o romantismo, a conquista. As pessoas estão mais tristes com as perturbações, as responsabilidades cívicas. Isso faz que o ser humano diminua o ímpeto da vida.

Odete Lara também foi uma das atrizes com as quais Mossy contracenou (Foto: Reprodução)

Odete Lara também foi uma das atrizes com as quais Mossy contracenou (Foto: Reprodução)

Como encara a chegada da idade?

Sou ativo para cacete. Eu me adoro, me gosto, porque os meus amigos de 70 anos ‘estão’ hippies, ficam jogando cartas na praça o dia inteiro. Eles são intelectuais, mas não querem fazer nada, ficam esperando a morte em praça pública. Isso me impressiona porque eu sou da criação e estou fazendo coisas o tempo todo. Não vou deixar um legado para ninguém, mas para mim mesmo, quero ser aplaudido em qualquer dimensão artística. Me exercito escrevendo, compondo e realizando filmes.

É mais fácil fazer filmes no Brasil atualmente?

Antigamente a gente colocava a alma, vendia calça, apartamento, qualquer coisa para ver a coisa pronta. Hoje você faz com captação de recursos, sem medo de perder dinheiro e tanto faz se fará ou não sucesso, porque não existe essa responsabilidade do retorno e isso faz com que o cinema brasileiro fique comercial. Tenho amigos jovens que fazem filmes maravilhosos mas vão morrer anônimos porque não tem como exibi-los nos cinemas pela demanda atual. Faço questão de frisar que há uma necessidade de obrigatoriedade para o cinema nacional – exigimos a obrigatoriedade de 120 dias em exibição nas salas. Os filmes ruins vão passar por uma peneira e o público escolhe o que ficar de melhor.

(Fonte: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/bruno-astuto/noticia/2015/08 – COLUNAS/ Por BRUNO ASTUTO – Com Acyr Méra Junior e Dani Barbi – 17/08/2015)

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