Burt Lancaster, ator que começou como galã e acabou como nobre nos filmes do diretor Visconti.

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Burt Lancaster (Nova York, 2 de novembro de 1913 – Los Angeles, 20 de outubro de 1994), ator que começou como galã e acabou como nobre nos filmes do diretor Visconti.

Começou como galã de aventuras, acabou em filmes de feras da direção, como o italiano Visconti e o francês Louis Malle. Não foi um ator gigantesco como Marlon Brando, mas ao contrário de Brando teve uma carreira ascendente, como Sean Connery, só que com densidade bem maior e uma galeria de tipos muito mais impressionante que a do ex-007 e fez mais de oitenta filmes. Seu personagem mais famoso, não o melhor, foi o sargento Warden de A um Passo da Eternidade (1953). A geração daquele período não se esquece da cena: Lancaster e a escocesa Deborah Kerr, seminus, beijando-se numa praia, rolam pela areia, pele na pele.

Parece nada hoje em dia, quando uma atriz como Sharon Stone cruza a perna sem usar calcinha em Instinto Selvagem. Balançava em 1953. Lancaster foi indicado para o Oscar, mas o grande ator do filme era outro, Montgomery Clift. E quem levou a estatueta foi um terceiro, cantor raro mas ator medíocre, Frank Sinatra, como coadjuvante. Para Lancaster, o prêmio viria em 1960, quando interpretou um pregador charlatão em Entre Deus e o Pecado.

Nascido no bairro negro e pobre do Harlem, em Nova York, em novembro de 1913, Burton Stephen Lancaster queria ser professor de educação física. Aos 19 anos, formou com um amigo de escola, Nick Cravat, uma dupla de acrobatas e foi trabalhar no circo Kay Brothers. Ficaram tão famosos que durante a II Guerra Mundial estiveram no front divertindo os recrutas aliados. De volta aos Estados Unidos, foi convidado para viver um ex-lutador em Os Assassinos (1946). O sucesso desse trabalho levou-o a outros em que a força física predominava: Brutalidade (1947), O Gavião e a Flecha (1950), O Homem de Bronze (1951).

DESAFIOS – A carreira de Lancaster poderia ter seguido nessa direção. Mas ele acreditava em sua capacidade de interpretar. Para o público, parecia “o sujeito que vai sair com a mocinha da história, nem que seja depois de o filme terminar”, como costumava dizer. Resolveu parecer o que fosse preciso para ser um ator melhor. A nova fase começou justamente com Entre Deus e o Pecado. A maturidade veio com O Leopardo (1963), filme dirigido por Visconti a partir de um romance precioso de Tomasi di Lampedusa sobre a decadência de um príncipe siciliano e de uma classe social num fim de mundo árido. Com Visconti, Burt Lancaster fez outro filme impressionante, Violência e Paixão (1974).

Nesse ponto, estava longe do galã dos primeiros tempos. Também se pode apreciar o Lancaster maduro em 1900, de Bernardo Bertolucci (1977), e em Atlantic City (1981), de Louis Malle. Tornou-se um ator mais cerebral do que instintivo. O carisma físico transformou-se em carisma de espírito. Casou-se três vezes. O primeiro casamento, com a trapezista June Ernst, durou seis meses. Em seguida, veio a atriz Norma Anderson, que lhe deu quatro filhos e disse depois que ele era “extremamente cruel”. Em 1986, ele se casou com Susan Scherer, sua ex-secretária, quarenta anos mais jovem, ao lado de quem ficou até o fim. Fez-lhe um carinho no rosto antes de morrer. Morreu um pedaço de Hollywood, Lancaster estava com 70 anos, morreu em sua casa, em Los Angeles, de ataque cardíaco.

(Fonte: Veja, 26 de outubro de 1994 – Edição n.° 1363 – ANO 27 – N.° 43 – MEMÓRIAS – Pág; 96)

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