AS BRASILEIRAS PIONEIRAS QUE OUSARAM

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AS BRASILEIRAS PIONEIRAS QUE OUSARAM

A história mostra que elas já venciam – muito antes de o feminismo existir. A mulher brasileira teve acesso à educação formal há pouco mais de 120 anos. Há apenas 69 anos pode votar. E há treze conseguiu ser reconhecida pela Constituição a igualdade plena de seus direitos e deveres em relação aos dos homens. Muito antes que o feminismo se transformasse num movimento organizado, algumas brasileiras se aventuraram, com sucesso, em áreas exclusivamente masculinas.

Madalena Caramuru (séc. XVI), filha da índia Moema ou de Catarina Paraguaçu e de Diogo Álvares Corrêa, o náufrago português que foi apelidado de Caramuru, ela viveu na Bahia. Foi a primeira mulher brasileira capaz de ler e escrever. Distinguiu-se também por sua disposição de lutar pelos mais fracos. Escreveu uma carta ao bispo de Salvador que ficou famosa. Reclamava dos maus tratos impingidos às crianças negras, filhas de escravos. “É uma pena que a Bahia, que até ontem era o berço de uma geração pura, tenha se tornado vítima de negociantes negreiros. Os pretos são dignos de melhor sorte”.

Maria Úrsula de Abreu e Lencastre (1682- ? ) fugiu de casa disfarçada de homem, embarcou para Portugal, alistou-se no Exército e lutou, como soldado, na Índia. Em 1714 decidiu abandonar o disfarce, deu baixa no Exército e, vestida de moça, casou-se com um tenente. Seus serviços foram reconhecidos por dom João V, rei de Portugal, que lhe garantiu pensão vitalícia.
Maria Úrsula nunca voltou ao Brasil. Morreu em Goa, na Índia.

Maria Josephina Durocher (1809-1893), parteira, escritora e abolicionista, foi a primeira brasileira a publicar textos médicos. Escreveu sobre parteiras e sobre clínica obstétrica. Já tinha dois filhos e era viúva quando, em 1834, se matriculou no curso de obstetrícia prática da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, fundada dois anos antes. Formada, ganhou tanto prestígio que chegou a ser a parteira dos netos de dom Pedro II.
Em 1871, foi nomeada titular da Academia Nacional de Medicina e durante meio século foi a única mulher a pertencer à instituição.

Josefina Álvares de Azevedo (1851- ? ), jornalista, era meia-irmã, pelo lado paterno, do poeta Álvares de Azevedo. Foi uma das precursoras do feminismo no Brasil. Aos 37 anos, fundou em São Paulo o jornal A Família. A princípio dedicado à educação das mães, depois da proclamação da República o jornal passou a defender o voto feminino. Não se sabe ao certo como e quando Josefina morreu, mas as brasileiras só obtiveram permissão para votar décadas depois de sua luta, em 1932.

Carmem Santos (1904-1952), Diretora, produtora e atriz de Inconfidência Mineira, filme que estreou em 1948, Carmem Santos foi uma das primeiras cineastas brasileiras. Em 1933 participou da fundação do estúdio Brasil Vox Filmes. Morreu aos 48 anos de idade, em 1952. Carmem, a cineasta debochada: atriz e diretora num ambiente que tinha preconceito até contra os homens da área.

Gilka Machado (1893-1980), filha e neta de artistas, publicou uma dúzia de livros, foi pioneira na utilização do erotismo na poesia feminina brasileira.
Mas, quando estreou, vencendo um concurso de jornal, os críticos chagaram a dizer que seu trabalho era “próprio de uma matrona imoral”. Em 1979, um ano antes de sua morte, recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras.

Nair de Teffé (1886-1981), educada em conventos franceses, não se enquadrava no padrão da época. Já na escola dava sinais de sua veia satírica. Fez charges de gente da sociedade e assinou-as como Rian, seu nome invertido.
Foram as primeiras caricaturas produzidas por uma mulher brasileira. Em 1913, aos 27 anos, foi pedida em casamento pelo marechal Hermes da Fonseca, presidente da República. Passou a promover animados saraus no Palácio do Catete. Numa noite, o seresteiro nordestino Catulo da Paixão Cearense executou no Catete o Corta Jaca, maxixe da maestrina Chiquinha Gonzaga. Por isso, Nair foi criticada por Rui Barbosa, numa sessão do Senado.

Nise da Silveira (1905-1999), psiquiatra alagoana, filha de uma pianista e de um professor de matemática, entrou na Faculdade de Medicina da Bahia aos 16 anos de idade. Concluiu o curso aos 21, apresentando um trabalho sobre a criminalidade entre as mulheres baianas. Foi denunciada como comunista e presa na década de 30. Psiquiatra, dedicou-se ao estudo da esquizofrenia. Seu trabalho pioneiro na pesquisa do tratamento da doença mental por meio da terapia ocupacional e da arte é, hoje, reconhecido internacionalmente.
A produção artística de seus pacientes foi reunida no Museu de Imagens do Inconsciente, fundado por ela em 1952.

Anésia Pinheiro Machado (1904-1999), em um tempo em que mulher mal saía de casa desacompanhada e nem sequer votava, Anésia tinha apenas 18 anos quando, em setembro de 1922, no centenário da independência, voou de São Paulo até o Rio de Janeiro a bordo de um avião da I Guerra Mundial.
Foi a primeira aviadora brasileira a transportar passageiros e realizar vôos acrobáticos. E foi a primeira mulher a fazer um vôo transcontinental, percorrendo mais de 17000 quilômetros sobre o continente americano.

(Fonte: Revista Veja, ANO 34 – N.º 48 – ESPECIAL MULHER – HISTÓRIA – Pág. 82/83/84/86)

(Fonte: Dicionário Mulheres do Brasil de 1500 até a Atualidade, pesquisa coordenada por Hildete Pereira de Melo e Teresa Cristina de Novaes Marques)

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