Arnold Hauser, professor, escritor e historiador da arte alemão.

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Arnold Hauser (Temesvár, 8 de maio de 1892 – Budapeste, 29 de janeiro de 1978), professor, escritor e historiador da arte alemão. Estudou história da arte e literatura nas universidades de Budapeste, Viena, Berlin e Paris, e foi discípulo de Henri Bergson, que o influenciou profundamente.

Fundando sua reputação numa longa e sólida “História Social da Literatura e da Arte, concluída em 1953 (e desde então transformada em vade-mécum das interpretações sócio-culturológicas das artes), o professor alemão Arnold Hauser, não mais escondeu, desde então, seu fascínio pelo período Maneirista. Escreveu quatro ensaios a respeito – o mais amplo, em 1965.

O trabalho de Hauser é mais circunscrito, menos filosófico, ligado especificamente à história crítica das artes visuais. Pretende, inclusive, aprofundar um filão aflorado em outro ensaio (“Filosofia da História da Arte, 1959), sobre o papel das convenções na arte – das quais o Maneirismo andou cheio.

Firmemente ancorado a uma posição que acredita nas determinantes econômicas para a eclosão de um estilo – derivando, portanto, do pensamento marxista -, Hauser não chega, contudo, ao extremo de negar uma específica autonomia e lógica intrínsecas no desenvolvimento da linguagem artística (fenômeno que o esteta francês Henri Focillon batizou, de uma vez por todas, como a “vida das formas).

Mais: admite a própria interferência do artista enquanto indivíduo sobre todo o processo. Assim, na mesma medida em que, para Hauser, o Maneirismo nasce após graves conturbações sociais na Itália, que vão do saque de Roma pelos franceses (1527) à reintegração despótica da família Médici no governo de Florença (1530), é curioso vê-lo dar destaque, por exemplo, à neurose pânica, diante da ideia da morte, do pintor Jacopo Pontorno (1494-1556) – uma espécie de pai da nova moda.

Cenários impossíveis – Os traços principais (e os méritos maiores) do Maneirismo no genérico, Hauser concorda, com os demais estudiosos do tema. Primeiro, na participação de Michelangelo, o grande gênio renascentista, que a certa altura da carreira foi se libertando dos cânones ideais do classicismo (de que aliás jamais fora escravo) e atingiu, no “Juízo Final da Capela Sistina, um excesso de expressividade e morbidez que são o toque inicial do Maneirismo. A seguir, Hauser envereda por um racionalismo fantasioso, desligado da realidade momentânea, e revela seu gosto pelo dramático, o espetaculoso, o insólito, teatralizando os temas e colocando-os em cenários arquitetonicamente impossíveis.

Mais tarde, perde-se no excesso ornamental, na superficialidade, mesmo na galanterie que os artistas italianos emigrados para a França impuseram na chamada Escola de Fontainebleau. E, ao fim do interregno – que dura algo mais que meio século -, o Barroco irrompe, torrencial, com toda sua carga de tragédia.

Mais especificamente, Hauser relaciona tudo isso com o quadro econômico, político e humano da época – não hesitando em intitular um capítulo “A alienação como chave para o Maneirismo. Como observou na “Filosofia da História da Arte, Hauser crê que “uma obra de arte não é exata ou inexata, no mesmo sentido de uma doutrina científica, e em termos estritos não se pode designá-la como verdade ou erro.

Ou seja: permite a multiplicidade de leituras. Por outro lado, o rótulo da alienação não destrói o ponto áureo do Maneirismo (que teve, como epígono, pelo menos um gênio: El Greco). Ao mostrar certas debilidades, inclusive suas, o artista pode estar querendo lutar contra elas. Conclui Hauser em “Maneirismo: “Sentindo-se alienados neste mundo, os homens não se resignam a permanecer assim; querem exercer um efeito alienante e assustador sobre os outros.

Por isso, o artista não só escolhe temas estranhos e sobressaltantes, mas tenta reproduzir as coisas mais comuns de modo alarmante. O propósito não é apenas surpreender e inquietar, mas também afirmar que é impossível alguém sentir-se em casa entre as coisas desse mundo, ou fazer as pazes com elas.
(Fonte: Veja, 19 de janeiro de 1977 – Edição 437 –LITERATURA/ Por Olívio Tavares de Araújo – Pág; 103)

 

 

 

Arnold Hauser

Arnold Hauser, historiador da arte alemão.

O alemão Hauser, fenômeno cultural mundial, opõe marxismo e individualismo na análise da arte e dos artistas, transformou-se numa boa ocasião para um desenho sugestivo dos caminhos da interpretação da arte do século XX

Em seu livro a “História Social da Arte e da Literatura”, concluiu sua obra em 1953, é o teórico europeu a quem interessa uma visão social da arte através do enfoque marxista. Para Hauser, o pano de fundo das artes tem as formas dos modos econômicos de produção. Seus pontos de referência são o capitalismo e a crise, a econômica e a dos valores.

Hauser quer mostrar como a dinâmica cultural é reflexo da infra-estrutura social. Para ele, o impressionismo é resultado do mundo em crise de meados do século XIX, época de “insegurança” e  “em dissolução” marcada por “furiosa velocidade”, “insensata e estéril mania de inovação”, pela “redução de todos os aspectos da vida a seus pontos mínimos” e pela valoração extremada do “aqui e agora”.

Veja-se como fica o método Hauser: “O rápido progresso tecnológico não só acelera a mudança da moda, mas também a variação de ênfase nos critérios de gosto estético (…)”. O impressionismo é uma arte urbana (…) porque vê o mundo através dos olhos do cidadão e reage às impressões externas com os nervos tensos do moderno homem técnico.

Nesse clima, diz Hauser, os impressionistas criam obras que, mostrando embora um aguçamento da sensibilidade, promovem uma dissolução de critérios estéticos e revelam um estado de espírito próprio da vida passiva, a vida de espectador.

Mais: O impressionismo seria não apenas o clímax da atitude estética egocêntrica, típica do capitalismo financeiro nascente, como a última etapa num processo de obscuridade crescente da arte. Concede que as telas impressionistas ganham em energia e encanto sensual. Mas, escreve, podem em clareza e evidência – e o público teria sentido mais as perdas do que os ganhos, onde a mola do impressionismo é o capitalismo financeiro “em crise” sobre a qual o materialista Hauser nada diz.

Na discussão do cinema, Hauser continua na sua trilha: entra em mais detalhes estéticos sempre insistindo em mostrar como o cinema serve de cenário catártico para a luta de classes – que os filmes divertem hoje com os truques dramáticos de ontem, na recriação de uma infância paradisíaca…

Hauser trabalha com a razão na forma de silogismos do tipo “se x, então y”, é um teórico da escola crítica da cultura, que vê crise em tudo, quer representar o que está por baixo da arte, o invisível da arte. Não está certo, não está errado. As histórias da arte que faz são, ambas ficção que ilustram os limites da interpretação diante da amplitude da dinâmica cultural.

(Fonte: Veja, 12 de julho de 1995 –ANO 28 – Nº 28 – Edição 1 400 –LIVROS/ Por Teixeira Coelho – Pág: 114/115)

 

 

Arnold Hauser

O Hungaro-Britânico Arnold Hauser escreveu sobre a historia da arte. Entre seus trabalhos, o principal é A História Social da Arte e Literatura , que causou grande controvérsia quando foi editado em inglês nos anos 50 por causa de sua orientação política. Não causaria tal controvérsia entre os anos 60 e 70, quando a visão marxista ganhou grande popularidade entre os pesquisadores acadêmicos. Entretanto, o marxismo começou a perder sua atração entre intelectuais antes mesmo do colapso da União Soviética e como consequência, os historiadores da arte pós-moderna raramente fazem referências aos estudos de Hauser.

“A arte genuína, progressiva pode somente significar uma arte complicada hoje. Nunca será possível para todos apreciá-la de maneira igual, mas a grande parte da massa que está excluída pode ser inclusa, desde que hajam pré-condições de afrouxar do monopólio cultural que são sobretudo econômicos e sociais. Não podemos fazer outra exceto essa luta para a criação de tais pré-condições. ” ( da Historia Social da Arte e Literatura, o vol. 4)

Arnold Hauser estudou a historia da arte e da literatura nas universidades de Budapeste, Viena, Berlim e Paris. Em Paris seu professor foi Henri Bergson que o influenciou profundamente. Após a Primeira Grande Guerra Hauser passou dois anos na Itália fazendo um trabalho de pesquisa da historia da arte clássica e italiana.

Em 1921 mudou-se para Berlim quando desenvolveu sua visão de que os problemas a arte e a literatura são problemas fundamentalmente sociológicos. Três anos mais tarde estabeleceu-se em Viena e no ano de 1938 mudou-se novamente desta vez para Londres, onde começou as pesquisas para sua grande obra A Historia Social da Arte, cujo trabalho consumiu dez anos de intensa dedicação.

Durante este período Hauser escreveu alguns ensaios sobre cinema como: A vida e as letras hoje e A visão e o som . No início dos anos 50 foi professor visitante na Universidade de Brandeis nos Estados Unidos e a partir de 51 se tornou professor da Historia da Arte na Universidade de Leeds.

O último livro de Hauser, A Sociologia da Arte (1974) investigou as determinantes sociais e econômicas da arte. Sua sugestão de que a arte não reflete meramente mas interage com a sociedade é uma premissa extensamente aceitada. Viu também como a arte do establishment e a arte revisionista servia a interesses comerciais. Como em sua Historia Social da Arte, a aproximação de Hauser com a visão eurocentrista o fez não dar muita atenção à arte não ocidental.

A Historia Social da Arte e Literatura (1950) foi resultado de trinta anos do trabalho acadêmico. Seguiu a produção da arte de Lascaux à idade do cinema na estrutura de mudanças das forças socio-históricas. Hauser inicia seu trabalho com um ataque à doutrina neo-romântica da origem religiosa da arte, indicando que “os monumentos da arte primitiva… sugerem claramente… que o naturalismo tem a reivindicação prévia, de modo que se tornasse mais e mais difícil manter a teoria da primazia de uma arte remota sobre a vida e a natureza.” Theodor Adorno anota em sua Teoria Estética (1997) que “as manifestações artísticas mais arcaicas são tão difusas que é tão difícil quanto fútil tentar decidir de uma vez o que é e o que não é arte.” Hauser separa a mágica da religião e assume ser um “caçador paleolítico e pintor que está possuído pela própria coisa retratada, acredita que essa coisa retratada vence o retratista.”

A tese de Hauser era que a forma e o conteúdo têm relação direta com as circunstâncias materiais concretas e o desenvolvimento cultural. Esta aproximação marxista foi rejeitada por críticos da direita, mas tiveram que admitir que os julgamentos estéticos de Hauser não eram tão radicais. Ele não considerava a relação entre o trabalho artístico e as forças sociais como de uma correspondência individual simples. Uma política artística conservadora pode quebrar convenções reacionárias e dogmas.

De acordo com Hauser, “cada artista honesto que descreve a realidade fielmente e sinceramente tem influência esclarecedora e emancipadora em seu tempo” nisso Hauser remete à análise da Comédia Humana de Balzac feita por Engels. Mas Dickens é um outro caso: “… todos os personagens deste naturalista são caricaturas, todas as características da vida real exageradas… tudo é transformado em melodrama com relacionamentos simplificados e esteriotipados e situações estilizadas.”

De acordo com Hauser, a separação da arte sagra da profana ocorreu na idade neolítica. Arte profana, provavelmente devido a sua restrita relação com a destreza manual, ficou inteiramente nas mãos das mulheres. As idades heroíca e homérica significaram a volta decisiva para o sistema social da monarquia na qual há a lealdade pessoal dos vassalos a seu senhor.

Um tipo novo de homem apareceu em cena – o artista com uma personalidade marcadamente individual, porém a independência econômica estava fora de questão. Na Idade Média a ênfase estava não no gênio pessoal do artista, mas na sua habilidade. A produção impessoal dominou a arte.

Com o aumento da demanda por trabalhos artísticos no Renascimento, houve a ascensão do artista, de artesão insignificante, segundo a burguesia, a condição de trabalhador intelectual livre. O conceito do gênio aparece.

Shakespeare olhou para baixo e viu as grandes massas com um sentimento do superioridade e produziu seus dramas onde claramente revela a luta entre a Coroa, a classe média e o aristocracia.

Gradualmente a burguesia se apossou de todos os instrumentos da cultura. Rousseau foi o primeiro a revelar isso: foi de encontro à razão dominante pois viu no processo de intelectualização, também um processo de segregação social.

Depois da Revolução Francesa artistas e escritores criaram seus próprios padrões e seus trabalhos os colocaram em estado de tensão e de oposição ao público. Com Byron a inquietação e a falta de propósitos transformaram-se numa praga. A teoria “Arte pela Arte” deu expressão romântica à oposição ao mundo burguês, antes Flaubert e Baudelaire, por outra via, fechados em suas torres do marfim, começaram a refletir uma atitude conservadora.

Sob o ponto de vista absolutamente da verdade e da beleza, a alienação dos intelectuais dos casos práticos era visível. Os boêmios emergiram como caricatura da “intelligentsia”. Na Rússia a liderança intelectual passou para as mãos da elite cultural e lá permaneceu até Revolução Bolchevique. O filme significou uma tentativa de produzir arte para massas e de dar cumprimento ao romantismo social.

(Fonte: http://www.estudantedefilosofia.com.br/filosofos/arnoldhauser – FILÓSOFOS)

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