Arletty, protagonista dos filmes de Marcel Carné e Jacques Prévert “Le Jour se Leve” e “Les Enfants du Paradis”

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Arletty, a eterna Garance (Foto: Divulgação)

Arletty, a eterna Garance (Foto: Divulgação)

 

Arletty (Courbevoie, França, 15 de maio de 1898 – Paris, 24 de julho de 1992), atriz francesa, protagonista dos filmes de Marcel Carné e Jacques Prévert “Le Jour se Leve” e “Les Enfants du Paradis”.

Léonie Marie Julie Bathiat foi uma das grandes divas do cinema internacional, Arletty (Léonie Bathiat) alcança rapidamente o estrelato no teatro parisiense dos anos 30, obtendo algum destaque no cinema comercial francês, em comédias de Sacha Guitry e de Jacques Feyder.

A consagração vem através dos filmes psicologicamente densos, esteticamente rebuscados e sociologicamente atentos do Realismo Poético Francês, movimento do qual se torna uma das principais estrelas, com performances marcantes em produções em sua maioria dirigidas por Marcel Carné e roteirizadas por Jacques Prévert.

Assim como Jean Gabin representa um novo padrão de masculinidade no cinema, os papéis por ela desempenhados no período elevam o padrão da representação feminina nas telas, então fortemente atado a estereótipos. Tanto como a recorrente femme fatale quanto como as prostitutas Raymonde, de Hotel do Norte (Hôtel du Nord, 1938) e Clara, de Trágico Amanhecer, (Le jour se lève, 1939), Arletty dota seus personagens de profundidade psicológica e de contradições e idiossincrasias, à revelia das caracterizações que se confundem com as de sua própria persona: a bela mulher de origem humilde e humor rascante, cujos aparentes niilismo e objetividade não deixam de sugerir um espírito romântico e uma sexualidade intensa.

Sua luminosa atuação como a Garance no clássico O Boulevard do Crime (Les enfants du paradis, Marcel Carné, 1945), valorizada pela direção de fotografia de Roger Hubert (cuja química com Arletty produz um verdadeiro tratado de fotogenia), representa o ápice de sua carreira e a performance que a inscreve, definitivamente, na história do cinema.

Queda
Dona de uma biografia cuja dramaticidade rivaliza com a das personagens que encarnou na tela, sofre, aos 16 anos, o choque de ver o namorado morrer no terceiro dia da I Guerra Mundial, o que a faria jurar nunca se casar, “para não me tornar uma viúva da guerra ou, o que seria ainda pior, a mãe de um soldado”. Embora tenha tido uma vida amorosa intensíssima, cumpre, ao menos oficialmente, a promessa. Esta, no entanto, não lhe poupa dos dissabores causados pela explosiva combinação de amor e guerra: embora identificada com os setores artísticos simpáticos à Resistência Francesa, é acusada, ao final da II Guerra, de ser amante de um oficial alemão.

Na ocasião, declara: “Meu coração é francês, mas minha bunda é internacional” [Mon cœur est français, mon cul est international] – frase que, décadas depois, a tornaria objeto de culto entre as feministas euro-americanas.

Arletty, a eterna Garance (Foto: Divulgação)

Arletty, a eterna Garance (Foto: Divulgação)

 

O caso, porém, tem graves consequências: acusada de traição, é encarcerada no recém-desativado campo de concentração de Drancy e depois em uma prisão, onde permanece quatro meses. Proibida de trabalhar por quase três anos, é abrigada por amigos ligados à Resistência, que, ao contrário da esquerda institucional e dos setores médios e conservadores, a entenderam e perdoaram. Não chega sequer a tomar parte na première de Les enfants du paradis – ironicamente, um filme construído como uma crítica à França sob Vichy e que pode ser lido como uma alegoria anti-repressão e um libelo pela liberdade.

Embora retomasse a carreira, esta nunca mais seria a mesma, em parte porque o cinema francês jamais voltaria a produzir aqueles filmes plenos de atmosfera, a um tempo classudos e contundentes, que estrelara em fins dos anos 30; em parte porque o público, traumatizado pelas feridas da guerra, não mais se dispôs a prestigiar um ídolo que via como praticante da então chamada “colaboração horizontal” com o inimigo.

Suas atuações como a Inês de Hui Clos (Jacqueline Audry, 1954) ou a Blanche de Além do Vidro Vazio (L’air de Paris, Marcel Carné, 1954) não deixam dúvidas quanto ao seu grande talento, mas este dá mostras de não bastar. O declínio de sua carreira acentua-se com a irrupção iconoclasta da Nouvelle Vague. Deixa de atuar como atriz em 1963, após um acidente em que quase perde a visão durante ensaio da peça de Jean Cocteau, Le Monstre sacrés. Três anos depois, perde seu único filho e, em seguida, Jean-Pierre, o companheiro “de altos e baixos” com quem nunca casara. Sobrevive trabalhando como narradora.

Retorno
Mas o tempo acaba por lhe fazer justiça: morre aos 94 anos, superando a maioria de seus contemporâneos e os traumas de seu tempo de estrelato. Publica duas autobiografias cujos títulos resumem sua mudança de espírito em relação ao passado (e acabam por refletir a transformação na relação do público com ela): Défense [Defesa] em 1971, e Je suis comme je suis [Sou como sou], em 1987.

Quase centenária, vive mais do que o suficiente para certificar-se de que se tornara um dos maiores ícones femininos do cinema, saudada por seus pares em documentários e depoimentos e objeto de culto internacional, despertando particular devoção entre cinéfilos, gays e feministas. A eterna Garance.

Arletty faleceu em 25 de julho de 1992, aos 94 anos

(Fonte: https://abaciente.wordpress.com/2015/07/25)

(Fonte: http://blogln.ning.com/profiles/blogs/arletty-a-eterna-garance – Portal Luis Nassif – Postado por Mauricio Caleiro em 22 agosto 2009)

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