Anastasio Somoza, presidente da Nicarágua, foi deposto durante a Revolução Sandinista.

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Morte em grande estilo

Deposto ditador da Nicarágua, Anastásio “Tachito” Somoza, vivia no Paraguai desde agosto de 1979, protegido por seu velho amigo Stroessner

Fiel, até o fim, ao modelo clássico do ditador latino-americano

Anastásio Somoza (León, Nicarágua, 5 de dezembro de 1925 – Assunção, Paraguai, 17 de setembro 1980), presidente da Nicarágua a partir de 1° de maio de 1967 a 1° de maio de 1972 e de 1° de dezembro de 1974 a 17 de julho de 1979.

Depois de ter conseguido a suprema façanha de tornar virtualmente toda a população da Nicarágua sua inimiga, em doze anos de ditadura que desembocaram em dezoito meses de insurreição e seis semanas de devastadora guerra civil, Somoza, deposto em julho de 1979 pelos sandinistas e expulso do país, tratou de criar inimizades no Paraguai, onde se exilou após uma breve passagem pelos Estados Unidos. Nisto ele não demorou em obter êxito. Somoza começou por desgostar o próprio Stroessner, seu velho amigo. Depois de ter sido recebido de braços abertos, ele não cumpriu a promessa – pelo menos não como queriam os paraguaios – de investir parte de sua fortuna, avaliada até em 500 milhões de dólares, em empreendimentos produtivos no país.

E não foi só isso. Durante pouco mais de um ano em que permaneceu no Paraguai, Somoza – e também seu filho mais velho, Anastásio Somoza Portocarrero – protagonizaram um rosário infindável de encrencas, envolvendo quase sempre figuras importantes do governo ou a ele ligadas. O mais grave desses escândalos ocorreu aconteceu em abril, quando Tachito – como era chamado o velho ditador – perdeu-se de amores pela bela Mariángela Martínez, de 25 anos, ex-miss Paraguai. Deu azar. A moça era amante de Humberto Domínguez Dibb, um rico e voluntarioso homem de negócios paraguaio que contava, além de outras coisas, com a vantagem de ser o genro de Stroessner. Naquela ocasião, Domínguez pressionou o sogro para que expulsasse Somoza do país. E só não conseguiu porque, no fim da história, a moça decidiu voltar para ele e abandonar o ex-ditador.

Somoza alcançou a exuberância grosseira, que nos seus áureos tempos teve a Nicarágua literalmente dentro de seus bolsos. Para Hope Portocarrero, Tachito era um “bruto sem elegância”. Ela assim resumiu a sua perplexidade com o antigo marido: “Como pode um homem que usa meias curtas ser tão importante?”.

importante ele havia deixado de ser desde sua queda. Ficara apenas a imagem, e esta, em 17 de setembro, acabou numa rua de Assunção, no bairro San José, onde ocorreu o ataque. Onde se concentra tudo o que o Paraguai tem de mais importante e poderoso – a residência particular do presidente Alfredo Stroessner, a Embaixada dos Estados Unidos, o Estado-Maior do Exército paraguaio, a sede do Ministério da Defesa e o Quartel do Regimento da Escolta Presidencial -, simplesmente não é possível caminhar mais de 200 metros sem tropeçar numa patrulha da polícia.

Anastasio Somoza morreu no melhor estilo da dinastia dos Anastasio Somoza – destruído, a ponto de tornar-se um objeto irreconhecível, por um tiro de bazuca no interior de uma Mercedez, em plena luz do dia, no seu exílio no Paraguai.

Foi uma morte eletrizante, carregada de drama, quase épica se comparada com o fim assustado e deprimente do ex-xá do Irã, Reza Pahlevi, ou o melancólico desaparecimento do ex-caudilho da Espanha, Francisco Franco, morto quando era pouco mais que um vegetal acoplado a aparelhos de sobrevida artificial.

Expulso do poder e da Nicarágua em julho de 1979, Anastasio Somoza Debayle morreu no exílio, aos 54 anos, sem ter perdido os vícios, a postura e os atributos do ditador latino-americano clássico.

Amantes, dinheiro, negociatas, escândalos e violência acompanharam Somoza até o final. As próprias manifestações de júbilo que despontaram nas ruas da Nicarágua com o anúncio de sua morte – em Manágua, os membros da junta de governo levantaram um brinde com rum “Flor de Cana” – atestaram o quanto ainda era viva a sua memória no país.

E a pedido de sua viúva oficial, foi feito o translado de seus restos mortais para Miami, nos Estados Unidos, encerrou com propriedade o último capítulo deste Somoza – que repetiu exatamente o destino de seu pai, também Anastasio e também ditador da Nicarágua, assassinado com mais de cinquenta tiros num atentado em 1961.

Mas, como nos melhores romances de literatura latino-americana, ainda há outro Anastasio Somoza na mira: o major Anastasio Somoza Portocarrero, seu filho de 32 anos recentemente expulso do Paraguai, conhecido como El Chiguin ou Tachito II.

(Fonte: Veja, 24 de setembro de 1980 – Edição n° 629 – INTERNACIONAL – Pág; 38 a 42)
(Fonte: Veja, 18 de junho de 1980 – Edição n° 615 – PARAGUAI – Pág; 42)

Em 17 de julho de 1979 – O presidente Anastásio Somoza foi deposto na Nicarágua durante a Revolução Sandinista.
(Fonte: http://www.guiadoscuriosos.com.br/fatos_dia – 17 de julho)

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