Álvaro Cunhal, dirigente histórico do Partido Comunista Português

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Stalinista, também era escritor e pintor e se opunha à modernização da esquerda

 

Líder do PC português

 

 

Álvaro Barreirinhas Cunhal (Coimbra, 10 de novembro de 1913 – Lisboa, 13 de junho de 2005), dirigente histórico do Partido Comunista Português e provavelmente um dos últimos stalinistas da esquerda europeia.

 

O pormenor coincide com o sigilo com o qual Cunhal sempre protegeu sua vida particular. Só nos anos 70 revelaria em público ser o pai de uma adolescente, Ana Maria, nascida em 1960, quando ele vivia na clandestinidade com uma militante comunista, que se soube bem depois se tratar de Isaura Dias.

 

E foi apenas há dez anos que ele disse ser o misterioso escritor que usava o pseudônimo de Manuel Tiago, autor de quatro romances, o primeiro deles “A Casa de Eulália”, publicado em 1927. Outro pseudônimo seu foi o de Antônio Vale, com o qual se tornou um artista plástico mediano.


Mas foi como um comunista que Álvaro Cunhal viveu de modo quase integral 74 anos de sua vida. Foi um homem frio, duro. Seus cabelos brancos eram abundantes. Raramente sorria.


Os anos de clandestinidade durante a ditadura salazarista (1933-74) fizeram com que ele preferisse a disciplina às discussões internas. Seu apego ao marxismo era dogmático, quase teológico.

O PCP clandestino, sob seu comando, tornou-se por muitos anos a única força da oposição estruturada ao salazarismo. Mas como contrapartida vieram os expurgos de lideranças influenciadas por ideias marxistas menos anacrônicas e mais democráticas.

A clandestinidade e a repressão oficial não explicam essa maneira de ser de um partido e de seu chefe. Na Espanha da ditadura de Francisco Franco, o Partido Comunista aderiu sem problemas a uma concepção de sociedade baseada no pluripartidarismo e na alternância de poder.


Sob o comando de Santiago Carrillo, secretário-geral entre 1960 e 1981, os comunistas espanhóis adotaram o chamado “eurocomunismo”, proposto pelos comunistas da Itália, que se afastavam da então União Soviética e defendiam a mesma ideia de democracia que os demais partidos da esquerda reformista europeia.

Sob Álvaro Cunhal, os comunistas portugueses aplaudiram em 1968 a intervenção militar soviética na então Tchecoslováquia. Cunhal também combateu a perestroika desencadeada em Moscou por Michail Gorbatchov. A queda do Muro de Berlim (1989) e o colapso dos regimes comunistas da Europa Oriental não abalaram em nada suas convicções.

Ainda em 2000, já enfermo e afastado da direção partidária, ele enviou mensagem ao 17º Congresso do PCP em que alertava contra os “desvios” de conteúdo social-democrata.


Álvaro Barreirinhas Cunhal nasceu em Coimbra, em novembro de 1913. Seu pai era político e advogado. Mudou-se ainda menino para Lisboa. Formou-se em direito e, em 1940, deixou por algumas horas a cadeia, sob escolta, para defender sua tese de licenciatura pela legalização do aborto. Foi preso três vezes e passou recluso 15 anos. Integrou o grupo que em 1960 fugiu espetacularmente do Forte de Peniche.

Tornou-se secretário-geral do PCP em 1961. Reaproximou-se de Moscou. Partiu para o exílio e viveu na Rússia, na Tchecoslováquia, na Romênia e na França.

Seu partido tinha uma forte implantação entre oficiais de médio escalão nas Forças Armadas, corroídas pelas guerras coloniais em Angola e Moçambique. Foram basicamente eles que derrubaram a ditadura em 25 de abril de 1974. 

Cunhal, de volta do exílio, foi ministro nos primeiros quatro governos provisórios (1974-75).

Foi eleito deputado entre 1975 e 1992, quando transferiu a direção do partido a Carlos Carvalhas.

Álvaro Cunhal que tinha 91 anos, morreu em 13 de junho de 2005 em Lisboa.

O primeiro-ministro português, o socialista José Sócrates, elogiou a “tenacidade do dirigente morto e suas “profundas convicções políticas”.

 

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo – FOLHA DE S.PAULO – MEMÓRIA – MUNDO – Com agências internacionais – JOÃO BATISTA NATALI DA REPORTAGEM LOCAL – 14 de junho de 2005)

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