Almeida Júnior, foi o primeiro artista plástico brasileiro a introduzir o homem do povo, em seu cotidiano, às telas

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Foi considerado um precursor dos modernistas.

Realismo caipira

José Ferraz de Almeida Júnior (Itu, 8 de maio de 1850 – Piracicaba, 13 de novembro de 1899), foi o primeiro artista plástico brasileiro a introduzir o homem do povo, em seu cotidiano, às telas, particularmente na última década de sua vida.

Paulista de Itu, aos dezenove anos ingressou na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde teve aulas de desenho com Jules Le Chevrel e de pintura com Victor Meirelles.

Em 1875, para inaugurar a Estrada de Ferro Mojiana, o imperador dom Pedro II viajou até a cidade paulista de Itu. Entre visitas e homenagens, ele ainda teve tempo de ver um retrato de Antônio Queiroz Teles, futuro visconde de Parnaíba, pintado por um artista local, de 25 anos.

Convidado a vir à presença do soberano, José Ferraz de Almeida Jr. recebeu os elogios reais e a promessa de uma bolsa de estudos. No ano seguinte, ele embarcava no navio francês “Panamá”, depois de receber uma passagem das mãos da princesa Isabel e com uma bolsa de 300 francos mensais para estudar em Paris ou Roma.

Cinco anos mais tarde, em Paris, ele pintava “O Derrubador Brasileiro”, a imagem de um mestiço forte descansando com o machado nas mãos. Assim iniciou, como pioneiro, o registro de tipos regionais do Brasil em seu ambiente de vida comum. A pintura de Almeida Jr.é um ponto de referência importante na produção artística do século XIX.

O Derrubador Brasileiro, 1879. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

O Derrubador Brasileiro, 1879. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Chegando a Paris em 1875, quando os impressionistas iniciam suas descobertas, Almeida Jr. não os conheceu. Matriculou-se na Escola Superior de Belas-Artes e no ateliê da rua Turgot, do pintor Alexandre Cabanel (1823-1899).

Nesse estúdio, a carne dos modelos pacientes esforçava-se por tomar o translúcido do alabastro. Mesmo assim, nesse período francês, ele pinta não só o “Remorso de Judas”, ou a “Fuga para o Egito”, temas clássicos, mas também o “Descanso da Modelo” e o “Derrubador”.

Nessas telas, já sabe usar dramaticidade os jogos de luz e consegue apreender a força física dos modelos, apesar dos padrões bem definidos das composições.

TIPOS BRASILEIROS – Sua volta ao Brasil inicia-se em 1882 com uma consagradora exposição na Academia Imperial do Rio de Janeiro. A seguir regressa a Itu e depois fixa-se em São Paulo, num estúdio na rua da Glória. Essa sua segunda fase tem duas características marcantes.  Almeida Júnior inicia a longa série de quadros usando como tema os caipiras no trabalho e no lazer.

Telas como “Picando Fumo”, “Violeiro”, “Caipira Pitando” mostram que Almeida Júnior é o primeiro a retratar com fidelidade a postura displicente do homem do campo, seu corpo curvado, seu cansaço físico, muitos distantes dos índios de seu professor Victor Meireles ou da índia “Marabá” de Rodolfo Amoedo.

Além desses temas rurais, torna-se frequente em suas telas a presença de Maria Laura do Amaral Gurgel, a grande musa desse novo período. Em 1886 ele pinta Maria Laura como “A Noiva” e, em 1892, no terraço de sua própria casa, ela é o tema de “A Leitura” (na Pinacoteca de São Paulo), que ganhou um prêmio numa exposição em Chicago.

Maria Laura e seu marido, José de Almeida Sampaio, estão juntos num de seus últimos quadros, “Piquenique no Rio das Pedras”, e é ele quem decide por ciúme apunhalar o pintor, quando Almeida Jr. chegava ao Hotel Central de Piracicaba, a 13 de novembro de 1899, matando-o.

Seu único filho natural, Mário Ibarra, que residiu em Araraquara, no interior de São Paulo (filho do pintor e de Yayá Voss), possuía até um curioso auto-retrato do artista que chegou a ser exibido num centro de artes daquela cidade, anos atrás, e que poderia ser incluído num eventual livro.

Celebrado pelo imperador,  Almeida Jr. foi enviado a Paris; celebrando a República, pintou um Floriano Peixoto de maneira realista. Festejado em São Paulo pela família Prado, pintou tetos para Veridiana Prado.

Criador de um realismo caipira, teve sua fama congelada de 1930 aos anos 60. Teve quadros esquecidos, outros perdidos e agora começa a recuperar não só a merecida importância como também suas obras valem hoje como as de bons contemporâneos.

(Fonte: Veja, 30 de abril de 1980 – Edição 608 – ARTE/ Por Casemiro Xavier de Mendonça – Pág: 90/91)

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