Alberto da Ponte, ex-presidente do conselho da administração da RTP e ex-presidente da Central de Cervejas

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Um líder no topo, que passou do grande consumo para o serviço público de rádio e televisão. 

O empresário acumulou décadas de experiência na Unilever

Alberto da Ponte (Lisboa, 18 de junho de 1952 – 21 de janeiro de 2017), empresário, ex-presidente do conselho da administração da RTP e ex-presidente da Sagres – Central de Cervejas. Foi durante vários anos presidente da Sagres, com fábrica em Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira. A sua carreira começou, em 1974, na Elida Fabergé (Indústrias Lever), em Portugal, como diretor de marca. Mas a multinacional levou-o até Bruxelas e Madri. 

 

O mandato de Alberto da Ponte à frente da RTP terminou após uma inflamada polêmica que envolveu o Governo (Foto: ENRIC VIVES-RUBIO)

O mandato de Alberto da Ponte à frente da RTP terminou após uma inflamada polêmica que envolveu o Governo (Foto: ENRIC VIVES-RUBIO)

Nasceu em Lisboa a 18 de junho de 1952, cresceu no bairro de Alvalade e, em 1969, ingressou no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) para estudar Ciências Econômicas e Financeiras. Terminou a licenciatura em 1975. Em 1999, concluiu o Curso Superior de Finanças na norte-americana Harvard Business School. E teve ainda oportunidade de estudar gestão empresarial na Business School for the World.

No panorama profissional, a carreira profissional de Alberto da Ponte teve início em 1973, quando ingressou na Unilever como estagiário de gestão. Um ano depois, Alberto da Ponte tornar-se-ia diretor de marca da Elida Fabergé em Lisboa, cargo que ocupou até 1980 e com uma passagem por Bruxelas pelo meio. Acabou promovido a gestor de produto do grupo em Madrid, permanecendo aí até 1982.

Nesse ano, ainda na Elida Fabergé, voltou a ser promovido: desta vez, a diretor de marketing. Nisso, trabalhou durante os quatro anos seguintes. Em 1986, recebeu uma nomeação especial por ter reorganizado o departamento de vendas da Unilever em Kuala Lumpur, na Malásia. Mas os últimos passos na empresa de cosméticos seriam dados daí até 1989, já como diretor de marketing e de vendas da firma. Terá sido nesse período, entre 1984 e 1989, que conheceu Luís Amaral: nessa altura, o empresário português acabava de entrar também na Unilever, grupo Jerónimo Martins.

Um gestor no topo

Foi já perto do final da década que Alberto da Ponte pôde subir ao primeiro cargo de topo. Em 1989, tornou-se presidente executivo da Jerónimo Martins Distribuição para, em 1991, passar a liderar a portuguesa Cadbury Schweppes e ingressar o conselho de administração europeu da Schweepes Beverages. Começava assim a ascensão do gestor português, com passagens por altos cargos na Unilever, em direção à Sociedade Central de Cervejas (SCC). Tornou-se presidente executivo desta companhia do grupo Heineken em 2004, um dos cargos mais marcantes da carreira de Alberto da Ponte. Desempenhou-o durante oito anos.

O certo é que o fez com bons resultados. Num relatório sobre o gestor datado de 2016, a Heidrick & Struggles destaca como a liderança de Alberto da Ponte fez a SCC tornar-se líder de mercado no setor cervejeiro. Separadas por 20 pontos percentuais em 2004, a dona da cerveja Sagres ultrapassou a Unicer, dona da Super Bock, e alcançou uma quota de mercado de 50% em 2009, com um crescimento dos lucros líquidos na ordem dos 30%. A consultora sublinha a “orientação para as pessoas” da liderança de Alberto da Ponte, bem como a sua “visão, espírito de equipa, pensamento global, permanenteinsatisfação’ e resiliência”.

No início de 2012, Alberto da Ponte deixaria a liderança da SCC, mantendo-se, ainda assim, administrador não executivo da sociedade — na altura, foi substituído por Ronald den Elzen, que era administrador financeiro em Inglaterra. Deixou esse cargo para assumir funções ao nível internacional na empresa holandesa Heineken em maio desseano… mas não por muito tempo. Saiu cinco meses depois, para entrar numa área completamente nova: a televisão.

Da distribuição ao serviço público

A notícia surgiu a 5 de setembro de 2012: “Alberto da Ponte é o novo presidente da RTP“. A escolha do gestor para novo presidente executivo da empresa deu-se poucos dias depois da administração de Guilherme Costa ter entrado em colisão com o Governo de Pedro Passos Coelho — em causa, a suposta concessão do serviço público de rádio e televisão a uma empresa privada, que nunca chegou a avançar. Miguel Relvas era o ministro da tutela à altura.

Sem afiliação partidária, Alberto da Ponte nunca escondeu a sua opinião em relação a Passos Coelho: era, para ele, “o melhor primeiro-ministro desde Sá Carneiro”, como afirmou em entrevista ao jornal i e, mais tarde, viria a reiterar ao Diário de NotíciasTomaria as rédeas à RTP em outubro, liderando-a durante quase dois anos e meio.

O resto da história não é difícil de recordar. O PSD queria privatizar parte da RTP, Paulo Portas não era favorável a essa decisão e, entretanto, Miguel Relvas fora substituído por Miguel Poiares Maduro. Foi então criado o novo Conselho Geral Independente (CGI) da RTP que, no início de dezembro de 2014, propôs ao Governo a destituição da administração de Alberto da Ponte. O Governo aceitou. Alberto da Ponte ainda se manteve no cargo até fevereiro, acabando por ser substituído por Gonçalo Reis.

Verde, entre vermelhos

Falar da vida de Alberto da Ponte é também contar pormenores. Como o facto de, apesar de ter um pai benfiquista, ser sportinguista por influência dos amigos. No entanto, nem isso o impediu de, em 2009, ainda à frente da dona da Sagres, ter assinado um contrato por doze anos para estampar o logótipo da sua cerveja nas camisolas do Benfica.

Foi também presidente da Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja e membro dos conselhos consultivos de duas universidades lisboetas: o ISEG, onde estudou, e o ISCTE. Além disso, após a experiência na RTP, acabaria por fundar a AdPonte Lda. e a Business Operational Success Systems (BOSS). Até hoje, era presidente executivo de ambas as empresas, continuando a ser também administrador não executivo da SCC.

 

Alberto da Ponte somou mais de 40 anos de carreira, 20 deles em cargos de topo. MARIO CRUZ/LUSA

Alberto da Ponte somou mais de 40 anos de carreira, 20 deles em cargos de topo.
MARIO CRUZ/LUSA

 

Alberto da Ponte, licenciado em Ciências Econômicas e Financeiras, foi presidente do conselho de administração da RTP entre 2012 e 2015, tendo feito parte da sua carreira anterior e recente na Sociedade Central de Cervejas (SCC) – suspendeu o seu mandato como presidente executivo da SCC, que detém marcas como a Sagres ou a Heineken em Portugal, para ocupar o cargo na estação pública. No início de 2015, retomou o mandato como administrador não executivo da Central de Cervejas, onde estivera entre 2004 e 2012, quando ocupou brevemente um cargo de gestão internacional no grupo Heineken, a que pertence a SCC. Em 1973, o empresário encetou o seu percurso profissional na então Lever (a Unilever Jerónimo Martins), ainda durante a finalização do seu curso superior. Atualmente as suas funções na SCC eram sobretudo como consultor.

Como escreveu o PÚBLICO em 2012, “Alberto da Ponte tem colada a si a imagem de gestor competitivo”. Foi aliás com ele ao leme da Central de Cervejas que a Sagres ultrapassou em vendas a sua concorrente direto no setor das cervejas, a Super Bock, da Unicer. Foi presidente da Associação dos Produtores de Cerveja em Portugal e o primeiro português a liderar a organização europeia de cervejeiros The Brewers of Europe, primeiro em 2008 e depois até 2013.

O seu mandato à frente da RTP terminou após uma inflamada polêmica que envolveu o Governo, tensões com o então ministro Poiares Maduro e os gastos com a aquisição de direitos de transmissão dos jogos da Liga dos Campeões. Durante a sua presidência, ocorreram vários casos, talvez o mais mediático tenha sido a demissão de Nuno Santos da direção de informação da RTP, despedido depois por justa causa na sequência do pedido de cedência de imagens à PSP dos incidentes relacionados com a carga policial frente à Assembleia da República, em Lisboa, na noite da greve geral da CGTP, a 14 de Novembro de 2012. As partes chegariam a um acordo extrajudicial, como lembra o DN.

O seu mandato foi também marcado pelo debate em torno da potencial privatização, durante o Governo de Passos Coelho e que levou mesmo à demissão dos administradores seus antecessores, e pelos cortes de custos e conflitos laborais no âmbito de uma reestruturação da empresa pública, na sequência também de, em 2014, a RTP ter deixado de receber indenização compensatória e ter ficado mais dependente da taxa de contribuição para o audiovisual (paga nas contas de eletricidade pelos cidadãos) e das receitas da publicidade e da distribuição na televisão por subscrição. O ex-diretor de informação da RTP José Manuel Portugal disse na manhã de domingo (22) à Lusa: “Penso que a história lhe fará justiça por ter sido o homem que evitou a privatização ou a concessão do serviço público da radiotelevisão”.

Foi militante do PPD/PSD entre 1974 e 1977 e ficou, como disse em entrevista ao Diário Econômico em 2010, sempre “muito ligado ao PSD”. Sportinguista, prosseguiu ainda a sua formação com o Curso Superior de Finanças (Harvard Business School, 1999).

Alberto da Ponte morreu em 21 de janeiro de 2017, aos 64 anos, vítima de câncer.

(Fonte: https://www.publico.pt/2017/01/22/sociedade/noticia – SOCIEDADE – NOTÍCIA/ Por  – 22 de Janeiro de 2017)

(Fonte: https://eco.pt/2017/01/22 – ATUALIDADE/ Por Flávio Nunes – 22 de Janeiro de 2017)

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