África do Sul é aceita pela primeira vez em uma competição internacional

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Ele sempre encarou o esporte como uma forma de acabar com as diferenças. Mostrou isso em 1995, um ano depois de tomar posse como presidente da África do Sul, ao apoiar e sediar o Mundial de Rúgbi.
Foi uma época de vitórias de Nelson Rolihlahla Mandela, 90 anos, o homem que passara mais de 27 anos na prisão, isolado e forçado a quebrar pedras na Ilha de Robben, apenas pela ousadia de defender um país igual para todos, negros e brancos.
Pela primeira vez, a África do Sul era aceita em uma competição internacional. Nas arquibancadas do Estádio Ellis Park, de Johannesburgo, lotadas por 60 mil pessoas, negros e brancos estavam sentados lado a lado, como sonhava Mandela. Em campo, Chester Williams, o primeiro negro da seleção, era um dos destaques da vitória sobre a Nova Zelândia. No fim, vestido com uma jaqueta e um boné com as cores de seu país, Mandela desceu ao gramado para entregar o troféu e cumprimentar o capitão da equipe, François Pienaar. O aperto de mão entre os dois homens, que antes viviam separados pelo apartheid, virou uma espécie de ato simbólico da união do país. Foi um momento tão importante que o jornalista britânico John Carli transformou no livro O Fator Humano: Nelson Mandela e o Jogo que Mudou o Mundo.
Um outro aperto de mão, entre o líder africano e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, celebraria alguns anos depois, daquela decisão a confirmação da África do Sul como sede da Copa de 2010. Mais uma vez o esporte. A competição é um prêmio justo a Mandela e aos africanos como ele, que sempre sonharam com a integração – e sofreram por ela nas mãos dos racistas. Por todo o significado, a Copa da África do Sul de 2010, já está inscrita como uma das mais importantes da história. É uma homenagem do futebol a um povo sofrido e corajoso.
Este personagem que dedicou a vida a um ideal, Luta pela Liberdade. Sua prisão no dia 12 de junho de 1964 a 11 de fevereiro de 1990, boa parte deles passada em uma cela isolada de Robben, quebrando pedras durante o dia, vigiado de perto pelos guardas, proibido de conversar, de ter contato com a família e vendo suas cartas censuradas pelo sistema.
Mandela estava sentenciado à prisão perpétua, depois de uma primeira condenação em 1962, ao ser preso com a ajuda da CIA, a agência do governo americano. No total foram mais de 27 anos preso. Na prisão na qual passou quase três décadas, o guarda branco James Gregory que ao lado de Mandela, primeiro como um rigoroso fiscal até mesmo dos silêncios do preso – considerado um perigoso terrorista pelo governo sul-africano e seus parceiros internacionais – e, mais tarde, como auxiliar das autoridades quando o apartheid começou a perder fôlego.
Gregory, a mulher e seus filhos, antes racistas empedernidos, acabaram sendo conquistados pela inteligência suavidade e firmeza do sul-africano Mandela, e estavam a seu lado no momento em que ele caminhou em direção à liberdade ao lado da companheira Winnie.
Mandela sonhava com um país de todos e resistiu a todas as tentativas de acordo, apesar do isolamento. Nada era mais importante do que suas convicções. Quebrava pedras, sofria com a morte suspeita do filho, padecia com a proibição de ter contato com a mulher, mas não cedia. Ele queria eleições livres em que cada homem, branco ou negro, significasse um voto, e exigia que a riqueza do país fosse dividida por todos. Como ocorre ainda hoje, era chamado de comunista por pensar diferente. Quando Gregory, o guarda, repetia que Mandela seria capaz de matar por suas idéias, o velho sábio respondia:
-Não, eu morro por essas idéias.
Mandela passou quase 8 mil dias consecutivos na prisão, sem ceder um milímetro em suas convicções. Lutou pelas idéias que mudariam a África do Sul para sempre e deixariam bem clara a hipocrisia de certos países. Ele é um dos sábios do nosso tempo.

(Fonte: Zero Hora – Ano 45 – Nº 15.748 – 11 de outubro de 2008 – Esportes/Por Mário Marcos de Souza – Pág; 53)

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