Adoniran Barbosa (1910-1982), foi dos mais talentosos sambistas, um dos maiores nomes do samba do Brasil

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Foi um dos maiores nomes do samba do Brasil

 

Adoniran Barbosa, um dos mais importantes nomes do samba de São Paulo e do Brasil (Foto: Imagem: Reprodução / musica.uol)

 

Adoniran: o único bom sambista a arrancar inspiração dos arranha-céus de São Paulo

 

Adoniran Barbosa (Valinhos, 6 de agosto de 1910 – São Paulo, 23 de novembro de 1982), compositor, cantor e humorista paulista. Um dos mais talentosos sambistas da música brasileira, com cerca de sessenta canções gravadas, e um dos mais originais. Nascido em Valinhos, no interior de São Paulo, no dia 6 de agosto de 1910, estudou até o 3.° ano primário. Foi um colecionador nato de apelidos. Seu verdadeiro nome era João Rubinato – mas cada situação por ele vivida o transformava num novo personagem numa nova história. Pintou paredes, consertou canos e foi garçom na casa do político e historiador Pandiá Calógeras (1870-1934), em Jundiaí. Fascinado pela música, passou a frequentar programas de calouros do rádio no início dos anos 30, e abandonou o nome de batismo, João Rubinato.

Adotou Adoniran em homenagem a um amigo, funcionário dos Correios, e Barbosa por causa do cantor carioca Luís Barbosa. Acabou por trilhar uma bem sucedida carreira de humorista radiofônico. Inventou personagens como o Zé Cunversa, crioulo da Barra Funda que namorava as empregadas da rua e usava as roupas do patrão; o Perna Fina, chofer do Largo do Paissandu; e o célebre Charutinho, o desocupado, grande atração do programa Saudosa Maloca, que ficou no ar por dez anos na Rádio Record de São Paulo. Tirou de seu dia a dia a ideia e os personagens de suas músicas. Iracema nasceu de uma notícia de jornal – quando uma mulher havia sido atropelada na Avenida São João.

Quando o compositor compôs Samba do Arnesto, uma de suas melhores canções, em 1955, gerou um comentário que acabou por se tornar mais conhecido que a própria canção. Indignado com os erros de português na letra, o poeta carioca Vinicius de Moraes escreveu na extinta revista A Cigarra: “São Paulo é o túmulo do samba”. A frase tem muito de verdade mas, por ironia, o próprio Adoniran seria consagrado, nove anos depois, como a mais brilhante exceção ao veredicto de Vinicius. Em 1965, ao vencer o concurso de músicas de Carnaval 4.° Centenário do Rio de Janeiro, bateu todos os sambistas cariocas e transformou Trem das Onze, a canção vencedora, num estrondoso sucesso nacional na voz do grupo Os Demônios da Garoa.

Se os morros do Rio de Janeiro geraram uma lista infindável de cronistas de seu cotidiano, Adoniran foi o único grande sambista do país a arrancar inspiração dos arranha-céus de São Paulo. Em vez de mostrar marias com latas d’água na cabeça, contou a transformação violenta da paisagem paulistana (Aqui onde agora está!Esse edifício alto!Era uma casa velha!Um palacete assombrado, cantava em Saudosa Maloca, de 1955). Em lugar do malandro de chapéu de palhinha, traçou o perfil dos imigrantes italianos dos bairros do Brás e da Bela Vista, cujo sotaque típico, aprendido com os pais, nascidos em Veneza, ele usava ao cantar.

Boêmio convicto, Adoniran viveu entre seus personagens: choferes de táxi, homens simples do povo e vagabundos da noite, com quem gostava de beber e conversar. Mesmo morando no subúrbio de Cidade Ademar junto a Matilde, companheira de quarenta anos, passava a maior parte do tempo no centro da cidade, onde era figura lendária nas ruas e nos bares, sempre identificado por inseparáveis chapéu e gravata borboleta. “Quando escurece, eu começo a viver”, costumava poetar.

CONVIDADOS ATÔNITOS – Avesso a intelectuais, homenagens e campanhas promocionais, teve uma relação difícil com o sucesso. Em quase cinquenta anos de carreira gravou apenas três LPs. Os dois primeiros, lançados em 1973 e 1975, ambos com seu nome no título, estão fora de catálogo e são peças de colecionador. O último, também batizado com seu nome, foi gravado em 1980, quando um grupo de astros da música brasileira, de Elis Regina a Djavan, decidiu homenageá-lo pelos 70 anos, dividindo com ele a interpretação de seus maiores sucessos. Adoniran gravou o disco, mas lançou uma farpa contra a curta memória do país: “Por que não me procuraram há vinte anos?”, perguntou aos atônitos convidados.

Por isso mesmo, ao morrer no dia 23 de novembro de 1982, no Hospital São Luís, em São Paulo, de enfisema pulmonar, aos 72 anos, Adoniran levou consigo um dos sambistas mais originais. Morreu pobre. Depois de construir um trabalho brilhante, só virou celebridade no início dos anos 70, resgatado na mesma barca que tirou sambistas como Cartola da área do folclore para as lojas de discos e palcos importantes. Só ganhou dinheiro com música em shows esporádicos e com Trem das Onze, que lhe permitiu comprar a casa onde morava. Por isso, exerceu várias profissões paralelas.

A morte de Adoniran deixa órfãos esses e muitos outros personagens que tirou das ruas de São Paulo para o rádio e para seus sambas. Personagens que criou porque os viveu, e que pareciam alegrar a velhice de um personagem principal com quem era mais cruel: no final da vida, perguntado sobre sua própria personalidade, Adoniran costumava responder: “Sou um palhaço triste”. Foi um grande colecionador de amigos, com seu jeito simples de fala rouca, contador nato de histórias, conquistava o pessoal do bairro, dos frequentadores dos botecos onde se sentava para compor o que os cariocas reverenciaram como o único verdadeiro samba de São Paulo.

Mais do que sambista, Adoniran foi o cantor da integridade. Dono de um repertório variado de histórias, o sambista não perdia a vez de uma boa blague. Certa vez, quando trabalhava na rádio Record, onde ficou por mais de trinta anos, resolveu, após muito tempo ali, pedir um aumento. O responsável pela gravadora disse-lhe que iria estudar o aumento e que Adoniran voltasse em uma semana para saber dos resultados do estudo… quando voltou, obteve a resposta de que seu caso estava sendo estudado. As interpelações e respostas, sempre as mesmas, duraram algumas semanas… Adoniran começava se irritar e, na última entrevista, saiu-se com esta: “Tá certo, o senhor continue estudando e quando chegar a época da sua formatura me avise..”

(Fonte: Veja, 1.° de dezembro, 1982 – Edição 743 – Datas – Pág; 123)

 

 

 

 

 

 

Obra de Adoniran Barbosa virou patrimônio histórico e cultural de SP

Pelo texto, a municipalidade passará a ser obrigada a garantir a preservação de toda a obra do artista, “incluindo as composições e poesias”. Ou seja, agora fazem parte oficialmente do patrimônio cultural paulistano, as canções “Trem das Onze”, “Saudosa Maloca”, “Tiro ao Álvaro”, “Iracema” e “Samba do Arnesto”.

Adoniran era o pseudônimo do cantor compositor João Rubinato, nascido em 1910, em Valinhos, na região de Campinas. Na juventude, o músico abandonou os estudos e trabalhou como entregador de marmitas, encanador e garçom.

Após arrumar um emprego na capital paulista, aos 22 anos, passou a participar de programas de calouros em rádios. Em 1941, foi trabalhar na Rádio Record como ator cômico e locutor. Foi lá que conheceu o grupo Demônios da Garoa, com quem teve longa e próspera parceria.

 

Poesia com erros gramaticais

 

O modo de falar simples e com pequenos erros gramaticais é uma das marcas da obra de Adoniran, conforme destaca a justificativa do projeto de lei. Em alguns casos, aparece em um jogo de palavras, como o apaixonado Álvaro, que também é um jogo de palavras com “alvo” em “Tiro ao Álvaro”.

O personagem é o destino certo das “frechadas” [flechadas]disparadas pelo olhar da moça, mais mortíferas do que “veneno estriquinina” e bala de “revorver”.

A partir dessa poesia, identificada com as camadas menos favorecidas da população, Adoniran contava histórias de eventos diários que, às vezes, chegavam à crítica social, como no despejo de “Saudosa Maloca”.

“Peguemos todas nossas coisas e fumo pro meio da rua, apreciá a demolição/ Que tristeza que nós sentia/ Cada táuba que caía, doía no coração”, compôs Adoniran, dando voz aos sem-teto que observam a derrubada do imóvel onde tinham vivido nos últimos anos.

Por esse tipo de sensibilidade, é ressaltado que o compositor “retratou com maestria o cotidiano paulistano”, o que justifica a preservação de seu trabalho. Adoniran Barbosa morreu em novembro de 1982, aos 72 anos.

(Fonte: https://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2016/11/22 – ENTRETENIMENTO / Por Daniel Mello Da Agência Brasil – 22/11/2016)

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