A primeira tentativa na literatura sul-rio-grandense de encarar o gaúcho como um personagem humano

0
Powered by Rock Convert

 

 

 

 

 

Foi a primeira tentativa na literatura sul-rio-grandense de encarar o gaúcho como um personagem humano

João Simões Lopes Neto (Pelotas, 9 de março de 1865 – Pelotas, 14 de junho de 1916), escritor gaúcho, é um dos mais respeitáveis representantes brasileiros do regionalismo, gênero literário que se baseia na pintura da vida e dos personagens, tradições e costumes, temas, e linguagem típicos de um lugar.

 

Pois, embora tenha produzido uma pequena obra (além de “Casos do Romualdo”, dezenove contos e algumas lendas estilizadas reunidas em “Contos Gauchescos e Lendas do Sul”), poucos escritores conseguiram resultado igual na fusão do ambiente rural e da linguagem popular com o melhor estilo literário.

Mais: essa obra conseguiu transpor até mesmo as fronteiras do Rio Grande do Sul pelo valioso testemunho do tipo social do gaúcho – hoje praticamente extinto – retratado na rudeza pastoril dos pampas.

 

À beira do fogo – Em “Casos do Romualdo”, a temática se modifica. São 21 pequenos “causos” narrados pelo anti-herói campeiro Romualdo, que procura criar, com fantasias, os feitos gradiloquentes que lhe faltam. Foi a primeira tentativa na literatura sul-rio-grandense de encarar o gaúcho como um personagem humano.

Até então (os “causos” começaram a ser publicados no início do século 20 em rodapés de jornal) o gaúcho fora tratado como um tipo dotado apenas de boas qualidades, sensível à beleza, à bondade e ao amor, cavaleiro exímio, pastor inigualável e guerreiro audaz.

 

Bem-humorado, como se estivesse à beira do fogo galponeiro, Romualdo conta histórias que se situam entre o anedótico e o fantástico. Como a do tatu que possuía o rabo preso por uma rosca inglesa, ou o da figueira monumental que caducou e se esqueceu de dar os frutos certos.

Mas nenhuma é tão gaúcha como a que contém esta declaração de amor ao “pingo”: “Cavalo, o que se diz – cavalo – de chapéu na mão, foi o meu rosilho Piolho. Isso sim, era de se lavar com um bochecho d’água; de cômodo era uma rede; de patas, um raio; de rédea, como uma balança. E manso como um cordeiro, de boa boca como um frade, afceiro como uma rosa, e armado, de barba ao peito, como um conde de baralho!”

 

 

(Fonte: Veja, 24 de outubro de 1973 – Edição 268 – LITERATURA/ Po J. A. Dias Lopes – Pág: 123)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Powered by Rock Convert
Share.