A primeira grande craque do futebol feminino, a primeira grande camisa 10 do Brasil

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A primeira grande craque do futebol feminino brasileiro

Ícone do futebol feminino, Sissi trabalha nos EUA, mas gostaria de contribuir com a seleção brasileira

Sissi teve o reconhecimento que sempre mereceu. Mas só nos Estados Unidos.

 

Para conhecer a história do futebol feminino, é preciso lembrar de seus personagens. Há 120 anos, ele começou a ser praticado, mas somente nos anos 80 a modalidade foi de fato reconhecida e as competições se oficializaram. Foi na década de 80, quando o futebol feminino ainda era utópico, que a primeira grande camisa 10 do Brasil surgiu: Sisleide Lima do Amor, popularmente conhecida como Sissi, meia habilidosa, clássica e com excelente visão de jogo.

Sissi foi a primeira grande craque da seleção brasileira feminina (Reprodução)

Sissi foi a primeira grande craque da seleção brasileira feminina (Reprodução)

Aos 46 anos, Sissi ainda dá seus toques nos gramados americanos e comanda equipes de jovens jogadores. Por e-mail, ela nos relatou certo sabor de derrota por não ter se despedido da seleção como gostaria e que trabalha por uma chance de estar à frente do futebol feminino brasileiro.

A craque nasceu em Esplanada, no interior da Bahia, e logo cedo, aos 7 anos, usava qualquer objeto esférico para dar seus chutes iniciais. Sua paixão pelo futebol nasceu no quintal de sua casa, ao ver seu pai e irmão batendo bola. Escolhia suas bonecas de acordo com o formato e tamanho de suas cabeças, afinal, era com elas que Sissi praticava seu esporte preferido. “Para jogar eu usei as cabeças das minhas bonecas, tampinhas de garrafa, bolas de meias, papel higiênico etc… Acho que já estava no sangue”, afirmou a jogadora em entrevista para o Esporte Fino. “Minhas irmãs ficavam na bronca por causa da minha mania de arrancar as cabeças das bonecas. Mesmo sabendo das dificuldades e com a pouca idade eu já sabia o que queria ser”.

Sua passagem pelo futebol foi marcante e começou cedo. Aos 14 anos, defendeu times menores, como Campo Formoso e Senhor do Bonfim. Dois anos depois, saiu de casa para jogar pelo Flamengo de Feira de Santana e morou em um alojamento com outras 10 garotas que viviam o mesmo sonho. Sob a tutela de seu primeiro treinador, Sissi estudava pela manhã, treinava à tarde, participava de torneios e seguiu em Feira por três anos até ir para a capital e defender o Bahia. No novo clube, jogava futebol de salão e de campo e foi ali, no esquadrão baiano, que veio a primeira convocação para a seleção brasileira. Sua estreia foi em 1989 em um torneio não oficial organizado pela FIFA – como se fosse um Mundial. A seleção brasileira foi para a China e ficou em terceiro lugar na disputa.

Sissi (segunda agachada, da esq. para a dir.) marcou época no São Paulo nos anos 90 (Reprodução/Facebook)

Sissi (segunda agachada, da esq. para a dir.) marcou época no São Paulo nos anos 90 (Reprodução/Facebook)

Nos anos 90, Sissi passou a jogar em São Paulo, onde defendeu o Corinthians no futsal e nos gramados. Em 1996, o futebol feminino fez sua primeira participação nos Jogos Olímpicos (Atlanta) e a equipe formada por Maravilha, Pretinha, Roseli, Formiga, Kátia Cilene – além de Sissi – terminou sua participação na quarta colocação. Um feito enorme para a camisa 10 que pouco tinha atravessado o país como atleta profissional.

A partir de 1997, Sissi viveu o seu auge na carreira. Aos 30 anos, era a estrela principal do time feminino do São Paulo Futebol Clube, que deu um show goleando as adversárias e sagrou-se campeão do 1º Campeonato Paulista de Futebol. Além do destaque no feminino, os torcedores tricolores que acompanhavam o time masculino se renderam ao futebol da jogadora. “Sissi, melhor do que Valdir”, era o grito que vinha das arquibancadas, reconhecendo o futebol de Sissi em comparação com o atacante que defendia o clube na época.

Meu Deus, o que dizer sobre aquele dia? Não sei se encontrarei palavras para descrever o que senti, foi arrepiante e um momento que nunca irei esquecer. O São Paulo sempre terá um lugar especial no meu coração”, diz ela.

No Mundial realizado nos Estados Unidos, em 1999, foi eleita a segunda melhor jogadora da competição ao lado da chinesa Sun Wen. O Brasil conquistou um inédito terceiro lugar e o mundo passou a prestar mais atenção na craque. No ano seguinte, Sissi fez sua segunda participação olímpica, em Sydney.

Após os Jogos, mudou-se para os Estados Unidos, onde jogou por três temporadas no San Jose CyberRays na primeira liga profissional para mulheres, a WUSA (Women’s United Soccer Association). Com o término da liga, foi para o California Storm da cidade de Sacramento, onde trabalha até hoje. Aos 46 anos, Sissi não abandonou o futebol.

 

Sissi entre alunas nos Estados Unidos (Reprodução/Facebook)

Sissi entre alunas nos Estados Unidos (Reprodução/Facebook)

Além disso, é assistente do técnico de futebol do Solamo Community College em Fairfield no Norte da Califórnia e treinadora no Walnut Creek Soccer Club, onde ela trabalha com jovens entre 13 e 17 anos.

É redundante dizer que nos Estados Unidos, Sissi percebeu a diferença e o tratamento que é dado ao futebol feminino. “Aqui temos uma ótima estrutura, o futebol feminino tem o próprio espaço e é praticado nos clubes, high schools e universidades. No Brasil temos talentos de sobra, o que precisamos e de uma boa estrutura e um calendário regular com campeonatos”.

A jogadora lamenta não ter conseguido se despedir da seleção brasileira como gostaria e afirmou que seria um prazer jogar ao lado de Marta. “Tive a sorte e o prazer de conhecer a Marta, pena que não tive a mesma sorte de jogar com ela. Quando a vi jogando, pude perceber o talento dela. Temos estilos diferentes, mas com certeza faríamos uma boa dupla”.

Sissi não vem ao Brasil desde 2006 e diz sentir saudades de sua terra natal, da comida da mãe, do Carnaval e de ver seu time jogar. Se estabilizar nos EUA e se tornar uma profissional do esporte reconhecida por lá é uma de suas maiores vitórias. Mas ela ainda sonha em trabalhar com futebol no seu país de nascimento.

“O futebol me deu muitas coisas por isso me sinto na obrigação de ajudar de alguma forma. O crescimento do futebol feminino depende de vários fatores. Eu penso sim em trabalhar na comissão técnica da seleção, seja como assistente ou treinadora. Estou esperando por uma oportunidade”.

Como pioneira da modalidade, é fato que Sissi e suas companheiras enfrentaram muitas barreiras e preconceitos, mas abriram as portas do esporte para as gerações seguintes. Há mais de duas décadas, a mesma Confederação que tanto apoia os homens, pouco faz pelas mulheres. Basta olhar para os campeonatos estaduais e nacionais, basta perceber a falta de apoio e incentivo às categorias de base e aos clubes.

Além disso, Sissi não é a única atleta vitoriosa que busca oportunidades de trabalho e só conseguem alcançar reconhecimento em países como os Estados Unidos. Joaquim Cruz, que fez história no atletismo brasileiro, vive na Califórnia, treinando a seleção americana para as competições.

O Brasil abrirá suas portas ao esporte no Rio de Janeiro, em 2016, mas é uma pena perceber que muitos atletas que escreveram o nome do nosso país na história não possam fazer parte disso de alguma maneira.

(Fonte: http://esportefino.cartacapital.com.br/sissi-futebol-feminino-selecao-brasileira/ ESPORTE FINO – POR   •  SÃO PAULOFUTEBOL FEMININOFUTEBOL  •  8/4/2015)

* Roberta Nina Cardoso é jornalista, colunista do portal São Paulindas (@spfc1935) e estudante de Gestão e Marketing Esportivo.

 

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