A primeira aparição de um investigador calcado nas revistas baratas de ação

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A primeira aparição de um investigador calcado nas revistas baratas de ação

Raymond Chandler (Chicago, 23 de julho de 1888 – La Jolla, Califórnia, 26 de março de 1959), trata-se de um nome quase desconhecido no Brasil, mesmo entre os apaixonados pelo gênero. No entanto, figura entre os autores mais respeitados do moderno romance policial americano – no mínimo por ter sido o criador do inefável detetive Philip Marlowe. Duas de suas novelas – precisamente a primeira e a última que o autor escreveu “À Beira do Abismo”, de 1939, marcou sua estreia, aos 48 anos, e definiu a primeira aparição de um investigador calcado nas revistas baratas de ação, embora dotado de um código de ética todo particular e de um senso de humor francamente contrastante com os tons sombrios dos ambientes que frequentava. “Playback”, por sua vez, foi concluído um ano antes de Chandler falecer, numa fase atribulada em que ele praticamente procurava se suicidar pelo álcool, inconformado com a morte da mulher, em 1954.

Nestes, como nos outros seis romances do escritor, Philip Marlowe se destaca como o pólo central da ação. Seus traços são perfeitamente delineados: californiano, medindo 1,80 metro, sem laços familiares, com dois anos de curso universitário. Chandler, na verdade, o desenhara sobre o aspecto físico do ator Cary Grant – ainda que Marlowe tenha sido vivido, no cinema, por tipos tão diferentes como Humphrey Bogart, Dick Powell, James Gould, em “O Longo Adeus”, de Robert Altman.

Sapatos furados – Muitos livros e teses de doutoramento foram escritos a seu respeito. A vida de Chandler, porém, ainda apresenta muitos detalhes obscuros. Nascido em Chicago, em 1888, estudou no Dulwich College, em Londres. Depois, empregou-se na Grã-Bretanha, como funcionário do Almirantado inglês. Em 1912 voltou aos Estados Unidos e logo se casou com Cissy Bowen. Ocupou a presidência de diversas empresas petrolíferas até ficar desempregado na fase mais aguda da depressão. E isto é tudo o que se sabe de sua vida.

Sua carreira profissional começou com a venda de uma novela para a melhor revista policial americana da época – Black Mask, em meados dos anos 30. E o êxito posterior de “À Beira do Abismo” arrancou-o da miséria e abriu-lhe o caminho para o sucesso em Hollywood. Anos depois, convidado a pagar cerca de 50 000 dólares que devia de impostos, o escritor comentou: “É uma coisa terrível para um sujeito que há pouco tempo usava sapatos furados.”

No começo da década de 40, Chandler escreveu seus romances mais famosos: “A Irmã Caçula” e “O Longo Adeus”. Mas, se apurou seu estilo, rompeu com o cinema e acabou abandonando Hollywood em 1947. Depois da morte de Cissy, voltou à Inglaterra. Chegou a ser expulso, por embriaguez, do Hotel Ritz, de Londres, e só regressou aos Estados Unidos para morrer, em La Jolla, Califórnia. Caso raro na literatura, Chandler suportou com dignidade as pressões da glória em Hollywood e sempre fez literatura com seriedade – embora através de um gênero tão comumente superficial. Sua recompensa é o interesse que cerca sua obra por parte de um público sempre renovado.
(Fonte: Veja, 12 de março de 1975 – Edição n° 340 – LITERATURA – Com dignidade/ Por Geraldo Galvão Ferraz – Pág; 95)

Em 1972, um filme de Robert Altman, “Um Perigoso Adeus”, fazia o velho detetive particular Philip Marlowe renascer em plena era do heroísmo chauvinista de James Bond e Shaft. Deslocando o inabalável justiceiro dos plácidos anos 40 para os tempestuosos anos 70, o que tornava Marlowe um exemplo de incompetência para os padrões da época, Altman atestava o óbito do “private eye”, um dos gloriosos mitos do cinema hollywoodiano.
(Fonte: Veja, 1° de janeiro de 1975 – Edição n° 330 – LITERATURA/ Por P. R. Browne – Pág; 70/71)

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