“Envelhecer muda a gente por dentro. Quando uma mulher é atraente, ela deposita muito de si em seu visual. Seu rosto é uma pintura. Diz tudo. Quando essa mulher envelhece e se olha no espelho, dependendo do ângulo da luz, ela vai se sentir bonita, achar encantos. Mas aí ela olha uma foto e vê que é mentira, pois o tempo está ali, na frente. Eu estou nessa fase, de ver que a pintura não é o rosto, é o interior. Mas ainda me sinto mais bonita do que as mulheres de botox. Minha face não tem retoques. Sou o que sou.”
Liv Ullmann, uma das musas supremas de Ingmar Bergman (1918-2007), recorre para ilustrar seu desapego crescente com o cinema. A perda de chão em sua relação com o audiovisual deve-se a uma série de fatores que a estrela de “Persona” (1966) e “Cenas de um casamento” (1970) explica nesta entrevista ao GLOBO, mas sem mágoas, sem rancores. Com uma voz doce, sempre de bem com o humor, ela alterna suas reflexões estéticas com lembranças do cineasta com quem fez dez filmes, viveu um casamento de cinco anos e teve uma filha, Linn.
(Fonte: Zero Hora – ANO 49 – N° 17.226 – 5 de dezembro de 2012 – Segundo Caderno/ Por Patrícia Rocha – Contracapa/ Por Roger Lerina – Pág; 8)