Zózimo Barrozo do Amaral, foi o colunista social mais respeitado do Brasil

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Colunista colunável

TALENTO: O colunista Zózimo Barrozo do Amaral em ação: ele relatou as mudanças na sociedade carioca a partir da década de 1970.

Zózimo Barrozo do Amaral, jornalista, e colunista social mais respeitado do Brasil e um dos personagens mais elegantes da elite carioca. Faz coluna em O Globo que é reproduzida em diversos jornais de outros Estados.

(Fonte: Veja, 10 de setembro de 1997 – Edição 1512 – Datas – Pág; 127)

 

 

Zózimo, a griffe de duas linhas: faz a melhor coluna quem dedica mais tempo ao trabalho

Zózimo Bráulio Barrozo do Amaral (Humaitá, Rio de Janeiro, 28 de maio de 1941 – Miami, 18 de novembro de 1997), jornalista brasileiro nascido no Humaitá, cidade do Rio de Janeiro, considerado um dos modernizadores do colunismo social brasileiro. Jornalista que tratava todos bem e se tratava mal. Zózimo estreou como colunista em 1964.

 

Filho de banqueiro, largou no meio o curso de direito, morou dois anos em Paris como estudante e frequentou a sociedade carioca muito antes que ela, cada vez mais povoada por endinheirados que nasceram pobres, aprendesse a fazer qualquer coisa para frequentar sua coluna. Num espaço geralmente cativo das vaidades que brotam na vida mundana, conseguiu ser preso por desacato ao regime militar, ao registrar que o general Aurélio de Lyra Tavares, ministro do Exército, levara um empurrão numa cerimônia em quartel, e armar uma trincheira solitária no Jornal do Brasil contra a candidatura Paulo Maluf, quando ele parecia fadado a ganhar a Presidência da República no tapetão de 1984.

 

 

Zózimo nasceu rico. Com a morte do pai, na década 80, recebeu mais de 2 milhões de dólares. Com o dinheiro da herança, teve apartamento em Paris. Depois de trinta anos de sucesso, tinha menos que ao começar. Aos 56 anos, seus luxos eram um apartamento em Miami e um automóvel Mercedes-Benz, ambos pendurados em prestações. Pródigo com dinheiro, Zózimo dissipou uma saúde que, bem depois de atravessar a barreira dos 40 anos, lhe permitia comparecer a vários jantares e festas numa noite e, depois jogar tênis de manhã, chegar ao jornal com o ar de quem estava saindo de um spa.

 

 

Foi o inventor da “esticada”, que eventualmente emendava um jantar regado a champanhe francês com chope de bar diante do sol nascente.

 

 

Ao mesmo tempo, foi o pioneiro das notícias de esporte nas colunas sociais. Cobriu, com garra de tenista e torcedor de futebol, Copas do Mundo e os torneios Roland Garros. Do alto desse fôlego, em 1988 resumiu numa entrevista sua fórmula de colunismo: É basicamente trabalho. “A coluna sai pior ou sai melhor dependendo do tempo que se dedica a ela”. Esse tempo passou a faltar a ele e à coluna no começo desta década, quando iniciou uma briga difícil com o alcoolismo e a depressão. Da bebida, depois de uma série de internações,parecia livre, quando uma dor de cabeça denunciou que tinha o organismo tomado pela metástase. Acabara de largar o cigarro, depois de fumar desde a adolescência mais de quatro maços por dia, mesmo quando fazia em sua coluna campanhas contra o fumo. Essa era a marca registrada de Zózimo.

 

 

Reservou com exclusividade a mulher, Dorita Moraes Barros, as palavras em que condensou a derradeira amostra de sua incurável elegância: “Não sofra. Está ruim viver. Não me segure aqui. Boa viagem”. Lacônica como uma nota. Ele foi o jornalista que escrevia melhor em duas linhas.

 

 

No dia seguinte, junto com várias páginas de obituário, sua coluna saiu pela última vez em O Globo, onde Zózimo escrevia desde 1993.

 

 

Em desenho inconfundível que definiu durante mais de trinta anos a forma e o conteúdo do colunismo social no Brasil, os fantasmas de suas marcas registradas: um sorriso de socialite, a chegada do Beaujolais Nouveau, duas doses de política, piadas sobre El Ninõ, a queda das bolsas e o FMI. Tudo obra da redatora Valéria Blanc, substituta que havia meses mantinha aquela meia página em respiração artificial. No dia 19 de novembro, quarta-feira, o Jornal do Brasil também publicou sua última coluna de Zózimo Barrozo do Amaral. Datava de quatro anos atrás e era um legítimo Fred Suter, o substituto que então cobria a retaguarda enquanto o titular, dilacerado pelo sucesso, atravessava na Clínica São Vicente a crise da mudança de emprego, trocando o jornal em que construíra durante 24 anos sua esplêndida reputação pelo concorrente que lhe oferecia um salário duas vezes maior.

 

 

Talheres – O que os dois jornais disputaram na despedida foi a griffe Zózimo Barroso do Amaral. Um grande produto jornalístico, capaz de arrastar leitores e anunciantes para onde fosse.
Como costuma ocorrer com as celebridades genuinamente inimitáveis, ele acabou copiado no Brasil inteiro por colunistas sociais de mais ou menos talheres. Nos casos em que a clonagem deu certo, agora sua influência é herança. Um pedaço de Zózimo reencarna diariamente no Jornal do Brasil, onde Danuza Leão retrata a grã-finagem com a altivez de quem ensina boas maneiras aos anfitriões. Sobrevive em O Globo, onde Ricardo Boechat pode embutir em poucas linhas, nas notas de Swann, como brilhantes catados nos restos de um baile, notícias que encherão primeiras páginas por dias a fio. Fazendo o Swann, Zózimo estreou como colunista em 1964. Outra manifestação póstuma de Zózimo baixa diariamente em O Dia, para onde Fred Suter carregou um humor capaz de cortar a língua de um personagem sem lhe arranhar a fisionomia. Nos bons tempos da dupla, isso funcionava até em circuito fechado.
“Pode deixar, ponho na cesta”, eles costumavam responder a quem telefonava cavando notas. O interessado ouvia que o favor seria atendido na sexta.

E os dois, lealmente, punham o assunto no lixo. Eis a prova de que Zózimo era único. Perpetuá-lo requer o talento de vários jornalistas.
Zózimo morreu no dia 18 de novembro de 1997, aos 56 anos de câncer, no Hospital Mount Sinai, em Miami, EUA.

(Fonte: Veja, 26 de novembro de 1997 – ANO 30 – Nº 47 – Edição 1523 – Datas – Memórias/ Marcos de Sá Corrêa – Pág; 129/130)

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