Teodoro Petkoff, intelectual e opositor venezuelano, jornalista e ex-guerrilheiro que se tornou opositor de Chávez

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Teodoro Petkoff, intelectual e opositor venezuelano, antichavista histórico e fundador do jornal TalCual

 

 

Teodoro Petkoff em uma imagem de maio de 2015. (Foto: MIGUEL GUTIÉRREZ / EFE)

 

 

 

Antichavista histórico, foi importante liderança da esquerda no século XX, político chegou a ser proibido de deixar o país

 

 

Teodoro Petkoff Malek (Bobures, Venezuela, 3 de janeiro de 1932 – Caracas, 31 de outubro de 2018), jornalista, economista e ex-guerrilheiro, disputou a Presidência, foi fundador do jornal venezuelano ‘Tal Cual’ e ganhador do Prêmio Ortega y Gasset de 2015.

Um dos principais nomes da política venezuelana, o dirigente político e jornalista Teodoro Petkoff é o fundador e diretor do jornal TalCual, crítico feroz dos governos Chávez e Maduro, mas que guarda distância das correntes mais radicais da oposição venezuelana.

O jornalismo foi apenas a última fase da trajetória irrequieta de Petkoff. Economista de formação e autor de vários livros, foi guerrilheiro e militou no Partido Comunista da Venezuela (PCV) antes de fundar o Movimento ao Socialismo (MAS), em 1971, crítico ao modelo soviético.

 

No MAS, foi deputado durante vários mandatos e duas vezes candidato derrotado a presidente, em 1983 e 1988. Também foi ministro de Planejamento do governo Rafael Caldera (1996-99). Nesse cargo, cunhou uma de suas frase mais célebres, em meio a um duro ajuste econômico: “Estamos mal, mas vamos bem”.

 

O rompimento com o MAS, em 1988, se deu pelo mesmo motivo que o levou a fundar: seu profundo rechaço ao autoritarismo. Naquele ano, o partido decidiu apoiar a candidatura a presidente do tenente-coronel Hugo Chávez, projetado ao cenário político após liderar um fracassado golpe de Estado, em 1993.

O jornalista venezuelano Teodoro Petkoff, ex-guerrilheiro de esquerda e duro crítico do chavismo, foi uma figura irreverente com um espesso bigode e óculos com lentes grossas, foi guerrilheiro na década de 60, quando militava no Partido Comunista, do qual se desvinculou para fundar, em 1971, o Movimentos ao Socialismo (MAS), ao considerar que a luta armada tinha sido um erro.

Em 1999, ele deixou o MAS após rejeitar o apoio do partido ao presidente Hugo Chávez, que morreu em 2013. Petkoff foi autor de vários livros e um deles, o polêmico Checoslováquia: o Socialismo como Problema (1969), fez com que o então secretário-geral do Partido Comunista Soviético, Leonid Brejnev, o excomungasse do marxismo. O livro fazia uma dura crítica à invasão soviética a Praga, em 1968.

 

 

 

Ele foi, entre outras coisas, o primeiro jornalista perseguido pelo governo Hugo Chávez a partir de sua chegada ao poder, em 1999. Era, na época, chefe de redação do jornal “El Mundo” e sua marca registrada era a crítica afiada e, muitas vezes, irônica. O estilo não combinava com o militar reformado que acabara de tornar-se chefe de Estado, e o recado aos donos do “El Mundo” foi claro: ou sai Teodoro Petkoff ou vocês terão sérios problemas com a Justiça. Teodoro saiu, mas continuou sendo uma dor de cabeça para o chavismo.

Teodoro, um dos maiores intelectuais e jornalistas da Venezuela contemporânea marcou uma época e várias gerações de jornalistas. Depois de abandonar “El Mundo”, fundou “Tal Cual”, um dos veículos mais atacados pelos governos chavistas, que ainda sobrevive em versão digital.

O projeto contou com a colaboração e financiamento de empresários locais como Manuel Puyana, quase um filho para Teodoro, que há alguns meses foi obrigado a rumar para o exílio onde já estava, havia cinco anos, sua família. Ambos foram alvo de denúncias penais apresentadas por Diosdado Cabello, considerado uma das figuras de proa da autoproclamada Revolução Bolivariana, e por essas denúncias estavam proibidos de sair do país.

 

 

O processo foi iniciado após a publicação no “Tal Cual” de informações sobre supostos vínculos de Cabello com o narcotráfico. O jornal simplesmente reproduziu o que fora divulgado por veículos estrangeiros, mas foi o suficiente para que Cabello justificasse uma ação penal, além de promover a asfixia financeira do jornal e sua impossibilidade de circular em versão papel. Esse foi apenas um dos ataques contra Teodoro e sua última criação jornalística.

 

 

O político, economista e fundador do jornal venezuelano Tal Cual, Teodoro Petkoff, renomado jornalista recebeu em 2015 o prêmio de jornalismo Ortega y Gasset, em sua residência em Caracas, das mãos do ex-chefe do Governo espanhol Felipe González porque naquela época pesava sobre ele a proibição de sair do país.

Filho de imigrantes europeus e nascido em uma área rural do sul do Lago de Maracaibo (Venezuela), Teodoro Petkoff se tornou um dos líderes mais populares da Juventude Comunista no início dos anos 1960. Era notável por sua ousadia, e não só na luta da guerrilha que procurava imitar na Venezuela o triunfo dos barbudos de Fidel Castro em Cuba. Depois de ser preso em 1963, protagonizou uma das fugas mais espetaculares da história política local, quando fingiu estar doente e foi transferido para o Hospital Militar de Caracas, de onde desceu de um sétimo andar com lençóis amarrados.

 

 

Petkoff fundou o Movimento ao Socialismo (MAS), uma facção revisionista que precedeu a onda eurocomunista em voga na época. Seu grande amigo Gabriel García Márquezdoaria ao novo partido os 100.000 dólares (370.000 reais) do Prêmio Rómulo Gallegos recebido em 1972 por seu romance Cem Anos de Solidão. Petkoff seria, em três ocasiões, candidato presidencial pelo MAS. Entre 1996 e 1998 foi ministro do Governo de centro-esquerda do social-cristão Rafael Caldera, que o MAS apoiou. Não seria sua última mutação. Homem de ação e pensamento, figurou durante anos como um aguerrido colunista de imprensa. Em 1998, ele assumiu a direção de El Mundo, um vespertino que definhava, mas que conseguiu reviver com manchetes que se destacavam e novos jornalistas.

 

 

Para o chavismo que chegava ao poder, Petkoff se tornou um incômodo, uma fonte de irritação. Sem papas na língua, sua crítica era especialmente dura ao partido no poder. As pressões do presidente Hugo Chávez conseguiram fazer com que Petkoff deixasse El Mundo.

 

 

 

O tabloide Tal Cual, que ele fundou depois, se tornou um caso de estudo. De circulação limitada, tinha como capa seus editoriais. O filé mignon do jornal era o jornalismo de denúncia, puro e firme. O bolivarianismo se empenhou em sufocá-lo. Inúmeros processos e sanções assediaram o jornal.

 

 

 

O economista era filho de pai búlgaro e mãe polonesa. Foi deputado e candidato à presidência duas vezes. Seus últimos anos como escritor e jornalista ele passou no Tal Cual, que ele fundou em 2000. Em razão da crise econômica e da escassez de papel, o jornal virou um semanário e depois um portal. 

 

 

O poder, implacável, continuou sitiando Tal Cual. A empresa chegou a ser alvo de até 10 ações judiciais. O mais indignado dos queixosos, Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional e número dois do chavismo, conseguiu, após um artigo opinativo, impor uma multa pesada e forçar Petkoff e outros executivos do jornal a se apresentarem semanalmente em um tribuna e serem proibidos de deixar o país. O regime pôde assim, finalmente, quebrar Tal Cual, que parou de circular em março de 2015 e tentou se tornar um semanário digital. O irredutível Teodoro Petkoff resistiu, em suas palavras, em uma prisão doméstica virtual, dizimado pelas enfermidades da idade e a animosidade da hierarquia revolucionária.

“Venezuela é minha prisão”

 

 

Nos últimos anos, sua saúde entrou em processo de declínio irreversível e seu ânimo deixou de ser o de épocas passadas. Quem o visitava ou até mesmo o entrevistava — até 2013 isso ainda era possível — percebia no jornalista uma tristeza e frustração evidentes. O cerco a uma pessoa em estado delicado foi tão agressivo que Teodoro foi impedido, até mesmo, de viajar para a Espanha em 2015, para receber o Prêmio Ortega e Gasset de jornalismo. O ex-presidente espanhol, Felipe González, lhe entregou a homenagem pessoalmente, em Caracas.

 

 

Em algumas de suas últimas declarações, disse que “a Venezuela é minha prisão”. E, de fato, foi. Para um homem que iniciou sua vida política na Juventude Comunista, passou pela guerrilha, esteve detido (em 1963), fugiu da prisão (na verdade, do Hospital Militar, para onde foi levado fingindo um mal-estar, e depois desceu pela janela do sétimo andar em uma corda de lençóis amarrados) e fundou o Movimento ao Socialismo (MAS) venezuelano com a ajuda de um prêmio recebido pelo amigo Gabriel Garcia Márquez por “Cem anos de solidão”, este final obscuro nunca foi imaginado. Como líder do MAS, foi três vezes candidato à Presidência e entre 1996 e 1998 foi ministro do governo Rafael Caldera (1994-1999).

 

 

Sua carreira política foi intensa, mas já faz algum tempo que seu nome na Venezuela é sinônimo de jornalismo de qualidade. Seus editorais no “El Mundo” e “Tal Cual” eram aguardados com enorme expectativa todos os dias, assim como as primeiras páginas de ambos os jornais. Teodoro foi, durante quase toda sua vida, um entusiasta. Um apaixonado por sua profissão, que exerceu com coragem e perseverança. A reta final foi sombria e quem o conheceu em seus anos de glória praticamente já não o reconhecia. Seu legado será enorme.

 Teodoro Petkoff faleceu em Caracas, em 31 de outubro de 2018 aos 86 anos.

(Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo – MUNDO / Por Janaína Figueiredo – Correspondente – 31/10/2018)

(Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/31/internacional – BRASIL / INTERNACIONAL / Por ALONSO MOLEIRO – Caracas – 31 OUT 2018)

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